sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Biodiversidade faz bem à saúde, à economia e ao planeta

WWF

Biodiversidade faz bem à saúde, à economia e ao planeta


30 Outubro 2018   |   0 Comments
Por Bruna M. Cenço

Uma rodada de discussões sobre a importância da biodiversidade para a saúde humana, a produção de alimentos e a economia marcou o lançamento do Relatório Planeta Vivo 2018 no Brasil. Organizado pelo WWF, o estudo publicado a cada dois anos mostra o estado da saúde no planeta, o impacto da perda de biodiversidade e a urgência de um acordo global pela natureza e pela vida.

Em evento realizado na manhã desta terça-feira (30/10) no Museu do Meio Ambiente, o diretor-executivo do WWF-Brasil, Mauricio Voivodic, o economista Sérgio Besserman (representando o Jardim Botânico do Rio de Janeiro), a pesquisadora Marcia Chame (Fiocruz) e João Campari (líder da prática de Alimentos do WWF internacional) falaram sobre os desafios que a humanidade está vivendo nesse momento, com enormes ameaças para a biodiversidade e o pouco tempo para a adaptação das espécies.

De acordo com Mauricio Voivodic, “estamos em um momento único, em que temos muito conhecimento sobre o que está acontecendo no planeta e a responsabilidade de agir para mudar a trajetória da perda de biodiversidade antes que não haja mais tempo”.

Adiantando que não seria o portador de boas notícias, Sergio Besserman comparou as mudanças climáticas a um “tsunami”, que vai assolar a humanidade e a biodiversidade. “Após 2020, teremos um novo ambiente em que a tensão fará parte do ambiente sociopolítico da civilização, em que vamos assumir que não estamos conseguindo os progressos necessários e o sofrimento da população. A partir daí, teremos que nos posicionar nesse novo contexto de radicalização que amplie nossas forças”.

Marcia Chame, da FioCruz, trouxe a importância da relação saúde e biodiversidade, o que ainda não é claro para a maioria das pessoas. “O principal componente ativo do remédio para pressão alta vem do veneno da jararaca e o primeiro tipo retroviral foi advindo de uma esponja do mar, mas grande parte da população não entende a importância de se proteger essas e outras espécies. Na Ásia, incêndios provocaram a migração dos morcegos para regiões de lavoura onde há porcos, espalhando o vírus Nipah para esses animais, o que afetou negativamente a produção. E no Brasil, quais os efeitos dos incêndios na Amazônia na liberação de microorganismos? Ainda não sabemos, e é preciso pesquisar para entender. A natureza íntegra protege o ser humano”.

A exposição da pesquisadora foi complementada por João Campari, líder da Prática de Alimentos do WWF internacional, que comentou que a agricultura é responsável por 24% a 30% das emissões de gases de efeito estufa e já converteu 40% as terras do planeta, mas que um terço dos alimentos nunca chega a ser consumido. “Para reverter a perda de biodiversidade até 2050 precisamos transformar o sistema alimentar global. É possível recuperar as áreas degradadas para a produção de alimentos e, assim, diminuir a pressão sobre áreas naturais nativas”. Campari alertou também para a necessidade de adotarmos dietas melhores e mais equilibradas e reduzir perdas e desperdícios na produção e no consumo para contribuir com a redução das emissões de gases de efeito estufa, empoderando consumidores e encontrando soluções conjuntas com o setor agrícola e empresas produtoras de alimentos”.

Biodiversidade e Negócios Sustentáveis
Na segunda rodada de discussões sobre o “Uso Sustentável da Biodiversidade nos Negócios – um caminho para a preservação da vida”, os representantes de empresas e organizações que trabalham para colocar a sustentabilidade no seu dia-a-dia e trouxeram exemplos mostrando que esse caminho é necessário e possível.

Carlo Pereira, da Rede Brasil do Pacto Global da ONU, citou que hoje, dos 200 maiores Produtos Internos Brutos (PIBs) do mundo, 154 são empresas. Daí a importância de trazer o setor privado para essa discussão e, de forma conjunta, trabalhar os diferentes Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. “O investidor é um player muito importante e os ODS podem ser uma vantagem competitiva para as empresas. Um exemplo é: se a agropecuária estiver impactando o bioma amazônico não vai vender, porque o consumidor que está na Holanda não vai querer comprar”.

Werner Ruess, da Michelin, também trouxe a importância e a responsabilidade do setor corporativo. “Temos noção de que se não tivermos cuidado com a natureza, nossa empresa não vai durar. Além disso, todos somos consumidores, e como fabricantes de pneus também temos a escolha de produzir de uma forma menos impactante. E os governos têm um papel muito importante. Para o setor privado, o Acordo de Paris é importantíssimo”.

A necessidade de empresas e governos participarem de fóruns e encontros como a Conferências das Partes da ONU (COPs) também foi citada por Filipe Barolo, representante da Ambev, assim como a importância de ações em conjunto, se revertendo em diferentes ganhos.

“O principal item para produção de cerveja é a água. Por isso, nos últimos 15 anos diminuímos 45% do consumo de água dentro das nossas operações. Todos os funcionários de nossas fábricas têm conhecimento sobre gestão da água e reciclagem. Isso só é possível pelo sentimento de posse e tecnologia”, comentou.

Fátima Cabral, da Associação Produtores Agroecológicos de Alto São Bartolomeu (Aprospotera), na região do Pipiripau, em Brasília, encerrou o encontro trazendo uma visão de solução integrando agricultura familiar com benefício ambientais, transformando a produção de alimentos em um modelo que beneficia e recupera solos e mananciais hídricos.

“Após três anos de projeto, que começou com capacitação de seis agricultores, estamos distribuindo felicidade. Já recuperamos cerca de 40 hectares e fornecemos alimentos para cerca de 500 famílias pelo sistema de CSA (Comunidade que Sustenta a Agricultora). Os filhos estão voltando porque entendem que é possível ter seu sustento e poder permanecer na terra, vivendo dela”.

“Quando você promove o bem-estar de uma família agricultora, ela cuida da água, do solo e a biodiversidade volta. Se cada agricultor pode alimentar cerca de 30 famílias, nós somos 4 milhões de agricultores familiares que podem alimentar de forma limpa o Brasil todo. É possível.”

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