Vinte novas espécies desconhecidas da ciência são descobertas em expedição nos Andes bolivianos
Assim como seus outros vizinhos na América do Sul, a Bolívia é um país de grande contraste geográfico. Nas regiões norte e leste está a Floresta Amazônica, um ambiente quente e úmido povoado por aldeias indígenas, cidades na selva e exuberante vida selvagem. Já no sul e oeste está situada o gigante Andes Altiplano, a planície alta, com uma altitude média de cerca de 3.700 metros e com atrações como o famoso Lago Titicaca e o Salar de Uyuni, de clima árido.
E foi numa expedição a uma área de florestas pristinas, no Valle de Zongo, próximo a capital La Paz, que pesquisadores encontraram preciosidades escondidas na mata.
Foram descobertas 20 novas espécies de animais e plantas, até então desconhecidas pela ciência, além de algumas que já eram consideradas extintas.
“Essas descobertas são o resultado de 14 dias de intenso trabalho de campo espalhados pelo terreno acidentado, florestas de nuvens nebulosas e cachoeiras em cascata do Zongo – uma paisagem verdadeiramente bela e diversa”, afirmou Trond Larsen, um dos pesquisadores responsáveis pela expedição, organizada pela Conservation International.
Entre as 20 espécies descritas pela primeira vez estão a minúscula rã liliputiana, que mede aproximadamente 10 milímetros, o que pode torná-la o menor anfíbio dos Andes e um dos menores do mundo, uma víbora venenosa, que usa sensores de calor na cabeça para detectar suas presas, uma cobra que tem as cores da bandeira da Bolívia, além de quatro espécies de borboletas, quatro de orquídeas e uma de bambu, usado pelos indígenas para confecção de instrumentos musicais.
A nova víbora descrita pelos cientistas em posição de ataque
Já para a surpresa dos cientistas, foram redescobertas quatro espécies consideradas extintas na natureza, entre elas, o sapo-de-olhos-do-diabo, do qual só se tinha conhecimento através de um indivíduo, observado há 20 anos. Na Valle de Zongo foi registrado este sapo, de cor preta, e olhos saltados, que se esconde sob o musgo espesso em torno das raízes do bambu, em abundância,
“A notável redescoberta de espécies antes consideradas extintas, especialmente tão perto da cidade de La Paz, ilustra como o desenvolvimento sustentável que inclui a conservação da natureza pode garantir a proteção a longo prazo da biodiversidade, bem como os benefícios que os ecossistemas proporcionam às pessoas. Esta área se tornou um refúgio seguro para anfíbios, répteis, borboletas e plantas que não foram encontradas em nenhum outro lugar da Terra”, comemora Larsen.
O sapo-de-olhos-de-diabo não era registrado há duas décadas
Os pesquisadores se depararam ainda com outras 22 espécies, entre elas aves e mamíferos, consideradas como ameaçadas pela Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), que avalia as condições de sobrevivência de milhares de animais e plantas no planeta.
No total, a expedição identifiou 770 espécies que são novas para o Valle do Zongo.
“As descobertas no vale – o coração de nossa região – acrescentam inúmeras espécies ao registro científico. Elas mostram o quão valiosas são essas florestas de nuvens ”, diz Eduardo Forno, diretor executivo da Conservation International-Bolivia. “A Bolívia há muito é líder no cuidado de sua vida selvagem e essas novas descobertas ajudam a estabelecer uma área de conservação aqui, perto de La Paz, para preservar a valiosa natureza e água do Valee de Zongo”.
Uma das cobras encontradas durante a expedição ao Zongo: ela se alimenta de caramujos e lesmas
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Fotos: divulgação Conservation International Bolivia/© Trond Larsen e ©Steffen Reichle
Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.
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