sábado, 11 de janeiro de 2014

Será esse o futuro de Vargem Bonita?



Urbanismo

Perigo em Vicente Pires

09:01:26

 

 

Região tem 155 áreas de risco, mas não há previsão para que obras de infraestrutura sejam realizadas. Administração promete remover as famílias mais ameaçadas. Na cidade, crateras são recorrentes

Francisca e Lucas são vizinhos na Rua 19 da Vila São José, uma das áreas mais atingidas pelas enxurradas: uso do trator é medida paliativa
Sem regularização e, consequentemente, sem obras de captação pluvial, Vicente Pires tem 155 áreas de risco. 

Nesses locais, construções podem desabar por conta, principalmente, de enxurradas. Segundo levantamento da administração regional e da Defesa Civil do Distrito Federal, grande parte desses assentamentos fica em pontos mais baixos e mais carentes da cidade, nos bairros Vila São José e Colônia Agrícola Samambaia. 

As áreas mais nobres da região administrativa também sofrem com as chuvas. 

A cada tempestade, a fina camada de asfalto das ruas 3, 8, 10 e 12 se descola e provoca crateras por todo o trajeto. Segundo o administrador de Vicente Pires, Glênio José da Silva, obras significativas para mudar a situação da região só acontecerão em 2015. ...
Na Rua 8, Delmísia construiu uma barreira na porta do comércio

Raíssa e a buraqueira na Rua 10: difícil passar de carro pela rua


Os moradores conquistaram, em abril do ano passado, a licença ambiental e o projeto urbanístico da região, que prevê um sistema de captação de águas pluviais. 

A verba destinada para as obras é de cerca de R$ 420 milhões. 

Porém, de acordo com uma nota divulgada pela Secretaria de Obras do DF, a licitação que escolherá a empresa para executar os trabalhos só acontecerá após uma assinatura do contrato de financiamento com o Ministério das Cidades, ainda sem data marcada. 

E a empreiteira que vencer o certame só poderá trabalhar no período de seca.

Glênio pede paciência. Enquanto a licitação não acontecer, ele garante que a administração continuará recapeando as vias. “O problema é que somos uma cidade feita de trás para frente. Construímos sem autorização, e fica muito mais difícil regularizar uma região erguida dessa maneira. Por enquanto, tomaremos medidas paliativas para minimizar os transtornos da população. Quanto às áreas de risco, estamos estudando um local para assentar as famílias que necessitarem”, garante.


Casos de alagamento

Vivendo em um barraco com cinco filhos, um genro e uma neta, Francisca Valentina de Oliveira, 39 anos, enfrenta o risco de desabamento a cada tempestade. 

Ela mora em uma das últimas casas da Rua 19 da Vila São José. Somente este ano, Francisca já viu a água invadir o barraco que ocupa pelo menos três vezes. Vizinhos da mulher tiveram a casa derrubada durante tempestades em anos anteriores. 

“Quando chove, molha tudo dentro de casa. Mas não tenho para onde ir”, reclama. Algumas residências acima, Lucas Carmélio, 23, e Francisca Dourado, 28, relatam que, quando chove, não há como transitar pela rua.

 “Meu cunhado não tem como sair de moto, por conta dos buracos. A administração passa a máquina na rua após as chuvas, mas a enxurrada seguinte destrói tudo”, lamenta Lucas.


Na Rua 8, a comerciante Delmísia Oliveira de Sousa, 42 anos, conta uma história parecida com a de Francisca Valentina. Dona de um pequeno mercado, ela construiu uma barreira de concreto, na porta do estabelecimento, para frear a água da chuva. Mas nem sempre o obstáculo é suficiente. 

“Só não perdi nada ainda porque, todas as vezes que isso aconteceu, eu estava aqui. Precisamos de canalização de águas pluviais. Só assim, o asfalto vai parar de rachar. Mas é uma obra que sempre prometem e nunca cumprem”, afirma. 

Raíssa Fernandes, que trabalha como secretária em uma pequena loja na Rua 10, se queixa da buraqueira. “Vou para casa, normalmente, de carona. Quando está seco, enfrentamos os buracos e, quando chove, a água chega até o joelho”, conta.

Será esse o futuro de Vargem Bonita?

Mudança

A Colônia Agrícola Vicente Pires foi criada logo depois da inauguração de Brasília. As chácaras, com área mínima de dois hectares, eram destinadas à produção de legumes, verduras e hortaliças. A ideia era distribuir essa produção na cidade, para reduzir a dependência externa. Mas, nos últimos 20 anos, os lotes rurais foram fracionados em centenas de terrenos urbanos.

Nenhum comentário: