Sexta-feira, 10 de janeiro de 2014 | 15:26
Por Artur Benevides
Ave,
Ave todos aqueles que “por ignorância e má-fé” lutam para defender a
cidade de um mal maior. A eles todo o meu respeito e admiração.
A entrevista do governador Agnelo Queiróz, exibida na televisão, em 05/01/2014
nos trouxe dados e acusações lamentáveis, especialmente se
considerarmos a figura de homem público e de autoridade que representa.
Dentre os vários assuntos tratados, o governador afirmou que todos
aqueles que criticam o Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de
Brasília – PPCUB, arquitetos, urbanistas e grande parte da sociedade,
agem por “ignorância ou por má-fé”.
Como assim, governador?
Má-fé
é omitir as propostas do PPCUB, enganando a população! Todas as
Audiências Públicas primaram pela superficialidade na análise dessa
caixa-preta. Mais grave se considerarmos que novas propostas foram
colocadas na versão encaminhada à Câmara Legislativa para aprovação que
sequer foram levadas às Audiências Públicas.
E nós é que agimos de
má-fé?
Como
membro do Conselho Comunitário da Asa Sul, sinto-me honrada por estar
lado a lado de tantas outras instituições e entidades como o Instituto
dos Arquitetos/DF, Conselho de Arquitetura e Urbanismo, Faculdade de
Arquitetura da UnB, Faculdade de Arquitetura da Universidade Católica de
Brasília, Instituto Histórico e Geográfico/DF, Urbanistas por Brasília,
Comitê Brasileiro do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios –
ICOMOS, Sindicato dos Arquitetos do DF, Centro Acadêmico da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo -FAU, Associação Civil Rodas da Paz, Movimento
Amigos da Paz, Prefeitura do Setor de Diversões Sul – Conic, Conselho
Comunitário da Asa Norte, Conselho Comunitário do Sudoeste e Associação
Parque Ecológico das Sucupiras.
Ter
ajudado a abortar a intenção do GDF em ver o PPCUB aprovado pela Câmara
Legislativa, a toque de caixa, em dezembro passado foi a nossa
contribuição a uma cidade cuja gestão tem sido temerária. Seria um golpe
sem precedentes entregar milhares de metros quadrados de áreas públicas
para a livre especulação imobiliária. Nunca ninguém ousou tanto.
O
governador afirma agora que há SOMENTE 5 pontos divergentes no PPCUB e
que eles serão NEGOCIADOS. Depois de se comprometer a “Retirar os
pontos polêmicos“, agora afirma que serão negociados? Como assim,
governador?
Enganar de novo a sociedade é mais uma atitude de má-fé! Com
quem seria essa negociação? É bom lembrar que os problemas do PPCUB vão
muito além dos tais 5 pontos divergentes, pontos estes, vale ressaltar,
que consideramos INEGOCIÁVEIS.
Se
após vários anos sendo elaborado, o PPCUB ainda apresenta tantas
propostas divergentes e polêmicas, algo está errado. Faltou discussão?
Pressões da especulação imobiliária? Ou apostaram na falta de informação
da população para aprovar as propostas?
Certamente, o governador não analisou os mais de 200 artigos e 70 planilhas constantes do PL e jamais poderia imaginar que alguém se dispusesse a fazê-lo. Falhou na imaginação. Revela que a cidade nunca teve um plano de preservação e mostra-se orgulhoso pois seu governo o faz exatamente para impedir o adensamento desenfreado, desordenado, a anarquia, a ilegalidade.
Acho
que ele desconhece que muitas das propostas ferem frontalmente o plano
urbanístico de Lucio Costa, o tombamento e as recomendações da UNESCO
e, ainda, que trarão o adensamento, o que ele afirma querer evitar, só
que agora com o aval do GDF e de quem mais vier a aprová-las. Será mais
uma marca negativa do seu governo nessa cidade.
Afirma
também que não há quem mais deseje preservar essa cidade do que ele,
visto que“INAUGUROU” o Catetinho, o Panteão da Pátria, o Cine Brasília, o
Planetário, e vai inaugurar o Teatro Nacional. Ah, inaugurou também a
Torre Digital. É verdade. Mas o teria feito não fosse o apelo pessoal e
contundente do arquiteto Oscar Niemeyer, para que não deixasse inacabada
a obra iniciada pelo governo Arruda? Acho que o governador precisa se
informar também sobre a diferença entre o inaugurar e o reinaugurar
após reformas.
Com
relação aos outros assuntos, disse o governador que agora começa a
colher os resultados dos “investimentos gigantescos” na saúde,
transporte, ciclovias, meio-ambiente, obras, segurança, policiamento
inteligente, monitoramento 24 hs nas cidades, já em implantação, e
integração das polícias.
Que
em 50 anos não conseguiram resolver todos esses problemas e ele está
fazendo isso. Fez ainda muitas promessas a serem concretizadas até o
final de seu governo. Resumindo, acredita que está salvando Brasília do
caos em que se encontrava.
Diante
de tudo que vi e ouvi,ficou patente na entrevista que o governador
desconhece a realidade dos fatos e parece viver em outra cidade que não a
nossa. O olhar de espanto do entrevistador deixava transparecer, em
alguns momentos, esse mesmo sentimento. Heliete Bastos
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