Saúde
Estudos científicos sérios que, de repente, não vão adiante. Por que será? Arriscamos aqui algumas hipóteses
por Riad Younes
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publicado
19/02/2014 04:52
Não podemos nem imaginar o tamanho do esforço jogado
no lixo.
Quando falamos que um estudo publicado em revista científica apresentou resultados X ou Y, e que esses resultados poderão modificar nosso modo de manejar nossos pacientes, poucos têm a dimensão do trabalho que dá para se chegar a tais conclusões.
O professor emérito da Faculdade de Medicina da USP Dario Birolini me disse, algumas décadas atrás, que o trabalho científico se chama trabalho científico porque dá muito trabalho. Senão, seria chamado de passeio científico.
Pois bem. Isso não mudou desde aqueles dias de meus primórdios médicos e científicos. Por que, então, tem pesquisadores médicos, das mais variadas especialidades, que fazem o estudo, têm o trabalho prolongado, e depois desse esforço jogam fora seus resultados? Mistério para mim.
Recentemente, cientistas da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, debruçaram-se sobre esse fenômeno bizarro.
Olharam todos os estudos que foram apresentados por seus autores em congressos médicos internacionais de grande impacto. Nesses eventos, os pesquisadores enviam um resumo de seus estudos para ser aprovado pelas comissões científicas de cada congresso.
Quando aprovados, são imediatamente tornados públicos em revistas ou em sites de internet, para que todo o mundo possa ter acesso aos dados e os analise.
Tais estudos são depois apresentados no dia do evento, discutidos e analisados por especialistas de cada área. A seguir, os estudos devem obedecer a um ritual quase automático. Os autores incluem as sugestões dos examinadores, corrigem eventuais erros, explicam pontos não muito claros e enviam seus estudos em forma de artigos detalhados para as revistas científicas de medicina para que sejam publicados em seus formatos completos e detalhados.
Seria o caminho esperado. O doutor P.J. Hackett e seus colegas de Pittsburgh observaram que somente 39% dos estudos apresentados em congresso foram realmente publicados em revistas sérias. A maioria absoluta dos trabalhos científicos foi jogada no lixo.
Fico pensando em algumas explicações.
Primeira explicação, o trabalho foi malfeito, e seus resultados, francamente errados e incorrigíveis, e assim não pode ser publicado por sua má qualidade científica.
Segunda, os autores ficaram muito preguiçosos e não tiveram mais energia para completar o último passo e enviar os resultados espetaculares para uma revista médica, e beneficiar doentes ao redor do mundo.
Terceira, os autores estavam enganando todo mundo, mandando resumos de pesquisas com resultados falsificados.
Quarta, os pesquisadores tinham o único propósito de apresentar o estudo naquele congresso específico, por razões não muito científicas. Tais como o evento será em Paris, e por que não usar o trabalho como desculpa para visitar o Louvre.
De qualquer forma, qualquer uma dessas explicações me deixaria profundamente preocupado. Esforço e dinheiro jogados fora.
Afinal, a pesquisa custa muito caro, em tempo e em finanças.
Quando falamos que um estudo publicado em revista científica apresentou resultados X ou Y, e que esses resultados poderão modificar nosso modo de manejar nossos pacientes, poucos têm a dimensão do trabalho que dá para se chegar a tais conclusões.
O professor emérito da Faculdade de Medicina da USP Dario Birolini me disse, algumas décadas atrás, que o trabalho científico se chama trabalho científico porque dá muito trabalho. Senão, seria chamado de passeio científico.
Pois bem. Isso não mudou desde aqueles dias de meus primórdios médicos e científicos. Por que, então, tem pesquisadores médicos, das mais variadas especialidades, que fazem o estudo, têm o trabalho prolongado, e depois desse esforço jogam fora seus resultados? Mistério para mim.
Recentemente, cientistas da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, debruçaram-se sobre esse fenômeno bizarro.
Olharam todos os estudos que foram apresentados por seus autores em congressos médicos internacionais de grande impacto. Nesses eventos, os pesquisadores enviam um resumo de seus estudos para ser aprovado pelas comissões científicas de cada congresso.
Quando aprovados, são imediatamente tornados públicos em revistas ou em sites de internet, para que todo o mundo possa ter acesso aos dados e os analise.
Tais estudos são depois apresentados no dia do evento, discutidos e analisados por especialistas de cada área. A seguir, os estudos devem obedecer a um ritual quase automático. Os autores incluem as sugestões dos examinadores, corrigem eventuais erros, explicam pontos não muito claros e enviam seus estudos em forma de artigos detalhados para as revistas científicas de medicina para que sejam publicados em seus formatos completos e detalhados.
Seria o caminho esperado. O doutor P.J. Hackett e seus colegas de Pittsburgh observaram que somente 39% dos estudos apresentados em congresso foram realmente publicados em revistas sérias. A maioria absoluta dos trabalhos científicos foi jogada no lixo.
Fico pensando em algumas explicações.
Primeira explicação, o trabalho foi malfeito, e seus resultados, francamente errados e incorrigíveis, e assim não pode ser publicado por sua má qualidade científica.
Segunda, os autores ficaram muito preguiçosos e não tiveram mais energia para completar o último passo e enviar os resultados espetaculares para uma revista médica, e beneficiar doentes ao redor do mundo.
Terceira, os autores estavam enganando todo mundo, mandando resumos de pesquisas com resultados falsificados.
Quarta, os pesquisadores tinham o único propósito de apresentar o estudo naquele congresso específico, por razões não muito científicas. Tais como o evento será em Paris, e por que não usar o trabalho como desculpa para visitar o Louvre.
De qualquer forma, qualquer uma dessas explicações me deixaria profundamente preocupado. Esforço e dinheiro jogados fora.
Afinal, a pesquisa custa muito caro, em tempo e em finanças.
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