domingo, 23 de fevereiro de 2014

Detidos, militares podem ser expulsos da corporação

Doze acusados de participar da Operação Tartaruga tiveram mandados de prisão expedidos pela PMDF
 
Isa Stacciarini
isa.coelho@jornaldebrasilia.com.br


A operação de policiais e bombeiros que começou batizada de Tartaruga resultou em prisão. A Corregedoria da Polícia Militar expediu pelo menos12 mandados contra praças e oficiais da ativa. Quem foi penalizado tem patentes que variam de soldado a capitão.

Entre os crimes em que estes militares foram enquadrados estão desobediência, cuja pena varia de dois a quatro anos de reclusão; desrespeito superior, que prevê três meses a um ano de reclusão; recusa de obediência, com penalidade de um a dois anos; e publicação indevida ou crítica, de dois meses a um ano de prisão.

A ação da corregedoria se baseou no regulamento próprio das forças de segurança pública, o Código de Processo Penal Militar.  

Foram feitas apurações nas unidades policiais para identificar os militares que insuflaram a Operação Tartaruga. 

Além disso, uma empresa especializada em Tecnologia da Informação, contratada pela corporação,     instalou ferramentas para identificar quem fez publicações indevidas na internet. 

 A maioria dos policiais, segundo a corregedoria, se manifestou nas redes sociais de forma anônima, mas teve a identidade revelada após as investigações.

A Polícia Militar começou a identificar os servidores que agiram contra a lei na noite de quarta-feira, mas foi na manhã de ontem que as 12 prisões começaram a ser decretadas. Eles foram conduzidos ao Núcleo de Presídio Militar no 19º Batalhão de Polícia. A prisão é cautelar e vale por até 30 dias, porém  pode ser prorrogada até a conclusão do Inquérito Policial Militar (IPM).

Disciplina e hierarquia
 
O corregedor-geral da Polícia Militar, coronel Civaldo Florêncio da Silva, destaca que as prisões têm o objetivo de que   a disciplina e a hierarquia imperem dentro da corporação. 
 
As investigações continuam e, caso seja  confirmada  a autoria de outros crimes,   novos mandados de prisão podem ser expedidos. “A prisão cautelar, que auxilia os trabalhos de investigação, foi necessária para que o Estado recolha quem atrapalha as apurações e prejudica o princípio de hierarquia e disciplina dentro da Polícia Militar”, destaca.
 
Caso a caso
 
O próximo passo é comunicar a prisão para o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) e para a auditoria militar do Tribunal de Justiça. Praças e oficiais podem ser punidos com advertência até expulsão do cargo militar, mas as penalidades precisam ser avaliadas pontualmente, segundo o corregedor.
 
Os praças com mais de dez anos de carreira são submetidos ao Conselho de Disciplina. Já os oficiais com o mesmo tempo de serviço são enquadrados no Conselho de Justificação. Por outro lado, tanto praças quanto oficiais que tenham menos de dez anos de trabalho passam pelo Processo Administrativo de Licenciamento.
 
MP já havia recomendado punição
 
O corregedor-geral da Polícia Militar avalia como interessantes as recomendações que foram enviadas há uma semana pela Promotoria de Justiça Militar do Ministério Público. O JBr. mostrou ontem que o MP recomendou a aplicação de punições severas ao policiais que descumprirem ordens.  Segundo o coronel Civaldo Florêncio da Silva, o Ministério Público corrobora com  ações   já executadas pela corporação. 
 
“A Polícia Militar sabe das funções constitucionais e atende aos pilares da legislação. Tanto é que as prisões já foram decretadas para preservar a disciplina dentro da corporação e não deixar que alguns militares atrapalhem nas investigações”, afirma.
 
Prisão contestada
 
O corregedor-adjunto, coronel Eduardo de Lima e Silva, conta que alguns policiais presos perguntaram sobre a necessidade da reclusão diretamente aos comandantes das unidades policiais. Segundo Silva, os militares são “profissionais excepcionais”, mas cometeram atos que feriram   princípios de hierarquia e da disciplina da PM.
 
 “Ninguém é bandido, mas é necessário estabelecer a ordem dentro da Polícia Militar. Não é um prazer expedir mandados de prisões contra militares. Muitos nós conhecemos e sabemos quem são, mas tem tempo para tudo. É preciso saber a hora de falar, de calar, de caminhar e de parar”, garante.
 
Flagrante
 
O advogado de um dos policiais, Ataualpa Chagas, aponta que pelo regulamento disciplinar é permitido que o comandante ou o oficial de serviço prenda um militar em nome do Comando Geral. No entanto, segundo o especialista, a prisão só pode ocorrer em situação de flagrante. 
 
A transgressão disciplinar, por exemplo, representa um risco de garantia a ordem hierárquica e disciplinar da polícia, mas o que existem são investigações. Não há nada em flagrante. Vários militares foram ouvidos na corregedoria, mas até às 12h de hoje (ontem) tinham sido liberados ”, garante. 
 
Chagas completa que  a Justiça Militar não expediu nenhum mandado de prisão. “Por isso, pode ser dada entrada em um pedido de habeas corpus na auditoria militar, representando o constrangimento da situação”, explica.
 
Ponto de Vista

O professor especialista em segurança pública  George Felipe Dantas  reforça que a ação da Corregedoria da Polícia Militar é legal, mas acredita os impactos políticos são imensuráveis. Segundo o estudioso, nas redes sociais existem novas vias de expressão, inclusive protesto. 

 “Os policiais, inseridos na emoção e nos ânimos de um movimento por melhorias salariais, se pronunciaram de maneira questionável por parte da administração policial militar”, explica. 

A administração policial entendeu que existem indícios de crime. Na cultura militar, o militarismo tem ética e estética”, conclui.

Fonte: Da redação do Jornal de Brasília

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