É claro que ninguém comparece a uma audiência de CPI sem alguma preparação. Quanto mais pesado é o caso, as pessoas e os entes envolvidos, mais intensa ela é. O esdrúxulo do caso foi a alegada participação de parlamentares nessas tratativas: afirma-se que os inquiridores participaram da montagem da cena. Falta de escrúpulos, sem dúvida.
Ninguém comparece a uma audiência de CPI sem alguma preparação; quanto mais pesado é o caso, mais intensa ela é diretor-executivo da Transparência Brasil, sobre a denúncia de combinação de perguntas e respostas entre envolvidos na CPI da Petrobras
As instituições políticas brasileiras desenvolveram com os respectivos Executivos uma tal relação de promiscuidade que transforma praticamente toda atividade parlamentar em subsidiária da vontade dos governantes.
Isso se conseguiu – em 100% das casas legislativas do país, insisto – por força do mecanismo de comprar o apoio político de partidos por meio da distribuição, entre eles, de abundantes quantidades de cargos na administração. Esse poder de cooptação está garantido na própria Constituição (Artigo 37, Inciso V).
A compra dos partidos tem a finalidade de transformar parlamentares em sócios do poder. Em grande parte dos casos, sócios não apenas no sentido figurado, mas também no comercial.
A capacidade praticamente ilimitada que os governantes têm de vender cargos na administração em troca de apoio é a principal causa da deterioração da integridade política no Brasil. A prática destrói não apenas a eficiência administrativa, mas também a legitimidade da representação política.
A capacidade que os governantes têm de vender cargos em troca de apoio é a principal causa da deterioração da integridade política no Brasil diretor-executivo da Transparência Brasil, sobre a distribuição de cargos em empresas e órgãos do governo entre partidos aliados
Para isso, bastaria emendar a Constituição de forma a limitar drasticamente esse poder. Outras medidas saneadoras surgiriam como consequência.
Apesar da gritante relação que a compra de apoios por meio do loteamento administrativo guarda com a saúde do sistema político, cientistas políticos, advogados metidos a reformadores (o que é um desvio de finalidade, mas esse é outro assunto), políticos e observadores da imprensa permanecem cegos a ela quando tratam do tema reforma política.
Afirmam – e o digo com a experiência de ter ouvido inúmeras vezes – que o loteamento é uma questão administrativa, e não política.
O fato, contudo, é que se os chefes do Executivo das três esferas continuarem a ter liberdade para lotear a administração entre partidos políticos, não há esquema eleitoral capaz de melhorar os escrúpulos parlamentares.
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