quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Desanimo! por Merval Pereira

Entra eleição, sai eleição, tão certo quanto a noite chega ao fim do dia, as campanhas presidenciais são marcadas por baixarias. As denúncias se sucedem, desde o nível municipal até o Palácio do Planalto, que este ano entrou no circuito de campanha à medida que foram se perdendo ao longo do tempo as divisas entre o governar e o uso eleitoral do governo, entre o público e o privado na sua acepção mais ampla.

Usar o palácio para propaganda eleitoral, usar viagens presidenciais para gravar programas de propaganda de governo, tudo vai se misturando em todos os níveis do Estado brasileiro, piorando o que já era ruim. As regras complacentes para a atuação dos incumbentes que se candidatam à reeleição foram feitas com esse propósito, de alargar os limites do aceitável.


Por isso, é muito grande a chance de um governante se reeleger. Esgotada a capacidade de mobilizar a sociedade à base de promessas que não se realizaram, o PT passou a adotar a tática do medo contra seus adversários, especialmente os tucanos, que haviam usado a mesma tática em 2002 sem resultado, pois naquela ocasião o ambiente político pedia mudanças.


Os tucanos pagam até hoje pelo erro político de terem aprovado a reeleição para o próprio mandato de Fernando Henrique Cardoso, o que à época parecia uma providência necessária para garantir a continuidade do Plano Real, e hoje se tornou um golpe político a purgar. Não é por acaso que o candidato do PSDB à presidência da República este ano, Aécio Neves, tem como um dos seus projetos o fim da reeleição. 


Apesar do mensalão em 2005, Lula reelegeu-se em 2006 na base da ameaça de que os programas sociais corriam perigo sem ele na presidência, e com uma campanha contra as privatizações que o então candidato tucano Geraldo Alckmin não soube combater. 


Foi nessa campanha que surgiram os aloprados, presos com montanhas de dinheiro em um hotel em Sāo Paulo para a compra de dossiês contra os candidatos tucanos, especialmente José Serra, que acabou se elegendo governador de São Paulo.

Em 2010 a baixaria começou cedo na campanha presidencial, com novos dossiês contra Serra, então candidato à presidência novamente, surgindo no QG de Dilma, e mais adiante a invasão de dados de familiares de Serra na Receita Federal.


Nesta atual campanha eleitoral, a internet tem sido usada de maneira desabrida contra o candidato tucano Aécio Neves, e de maneira generalizada contra jornalistas e políticos considerados inimigos do regime. A tensão desta vez tende a ser maior durante a campanha, pois, mesmo sendo Dilma a favorita para vencer a eleição, nunca a vitória esteve tão ameaçada, seja pela fragilidade de seu governo, seja pelo anseio de mudanças na condução do país.


Apesar dos pesares, a resiliência da candidatura petista é uma demonstração de como quem está no governo tem instrumentos para continuar nele, mesmo com uma economia em pandarecos e com crescimento médio abaixo de 2% ao ano nos últimos quatro anos. A questão agora é saber se a velocidade das notícias ruins combinará com o timming das urnas, e não é à toa que os petistas voltaram a falar com força em uma vitória no primeiro turno.


A falta de mobilidade das candidaturas, todas elas praticamente em linha reta há alguns meses, e a insistência de um eleitorado desiludido em votar branco ou nulo, ou se ausentar da eleição, faz com que esse sonho de vitória imediata volte a ser factível.
Além do mais, as pesquisas mostram que num eventual e ainda provável segundo turno, os candidatos de oposição ganham novo alento diante do duelo entre Dilma e qualquer um deles. Todas as pesquisas mostram a possibilidade real de um empate técnico entre o candidato tucano Aécio Neves e a presidente Dilma.


Já Eduardo Campos se aproxima a cada rodada da presidente, reduzindo a diferença que, no primeiro turno, ainda é grande. Mas quando ele é a única opção oposicionista, suas chances crescem com o voto útil, o que mostra uma tendência claramente de mudança na motivação do eleitorado.


Os estudos matemáticos da Macrométrica do economista Chico Lopes, utilizando-se de um programa do matemático americano Nate Silver, perito em previsões corretas dos resultados eleitorais hoje com um blog no The New York Times, mostram que Aécio Neves pode vencer a eleição no segundo turno se o número de brancos e nulos, e mais as abstenções, forem nos níveis normais das eleições anteriores.


Se, no entanto, se confirmar a tendência de denunciar os métodos políticos em prática no país rejeitando as eleições, o efeito deverá ser contrário, confirmando na Presidência quem a maioria quer ver fora, segundo as pesquisas mostram. Será esse o caso se os candidatos oposicionistas não conseguirem reverter a situação em que o desânimo derrota a esperança.

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