Entra eleição, sai eleição, tão certo quanto a noite chega ao fim do
dia, as campanhas presidenciais são marcadas por baixarias. As denúncias
se sucedem, desde o nível municipal até o Palácio do Planalto, que este
ano entrou no circuito de campanha à medida que foram se perdendo ao
longo do tempo as divisas entre o governar e o uso eleitoral do governo,
entre o público e o privado na sua acepção mais ampla.
Usar o
palácio para propaganda eleitoral, usar viagens presidenciais para
gravar programas de propaganda de governo, tudo vai se misturando em
todos os níveis do Estado brasileiro, piorando o que já era ruim. As
regras complacentes para a atuação dos incumbentes que se candidatam à
reeleição foram feitas com esse propósito, de alargar os limites do
aceitável.
Por isso, é muito grande a chance de um governante se
reeleger. Esgotada a capacidade de mobilizar a sociedade à base de
promessas que não se realizaram, o PT passou a adotar a tática do medo
contra seus adversários, especialmente os tucanos, que haviam usado a
mesma tática em 2002 sem resultado, pois naquela ocasião o ambiente
político pedia mudanças.
Os tucanos pagam até hoje pelo erro político de terem aprovado a reeleição para o próprio mandato de
Fernando Henrique Cardoso, o que à época parecia uma providência
necessária para garantir a continuidade do Plano Real, e hoje se tornou
um golpe político a purgar. Não é por acaso que o candidato do PSDB à
presidência da República este ano, Aécio Neves, tem como um dos seus
projetos o fim da reeleição.
Apesar do mensalão em 2005, Lula
reelegeu-se em 2006 na base da ameaça de que os programas sociais
corriam perigo sem ele na presidência, e com uma campanha contra as
privatizações que o então candidato tucano Geraldo Alckmin não soube
combater.
Foi nessa campanha que surgiram os aloprados, presos com
montanhas de dinheiro em um hotel em Sāo Paulo para a compra de dossiês
contra os candidatos tucanos, especialmente José Serra, que acabou se
elegendo governador de São Paulo.
Em 2010 a baixaria começou cedo na
campanha presidencial, com novos dossiês contra Serra, então candidato à
presidência novamente, surgindo no QG de Dilma, e mais adiante a
invasão de dados de familiares de Serra na Receita Federal.
Nesta
atual campanha eleitoral, a internet tem sido usada de maneira desabrida
contra o candidato tucano Aécio Neves, e de maneira generalizada contra
jornalistas e políticos considerados inimigos do regime. A tensão desta
vez tende a ser maior durante a campanha, pois, mesmo sendo Dilma a
favorita para vencer a eleição, nunca a vitória esteve tão ameaçada,
seja pela fragilidade de seu governo, seja pelo anseio de mudanças na
condução do país.
Apesar dos pesares, a resiliência da candidatura
petista é uma demonstração de como quem está no governo tem instrumentos
para continuar nele, mesmo com uma economia em pandarecos e com
crescimento médio abaixo de 2% ao ano nos últimos quatro anos. A questão
agora é saber se a velocidade das notícias ruins combinará com o
timming das urnas, e não é à toa que os petistas voltaram a falar com
força em uma vitória no primeiro turno.
A falta de mobilidade das
candidaturas, todas elas praticamente em linha reta há alguns meses, e a
insistência de um eleitorado desiludido em votar branco ou nulo, ou se
ausentar da eleição, faz com que esse sonho de vitória imediata volte a
ser factível.
Além do mais, as pesquisas mostram que num eventual e
ainda provável segundo turno, os candidatos de oposição ganham novo
alento diante do duelo entre Dilma e qualquer um deles. Todas as
pesquisas mostram a possibilidade real de um empate técnico entre o
candidato tucano Aécio Neves e a presidente Dilma.
Já Eduardo Campos
se aproxima a cada rodada da presidente, reduzindo a diferença que, no
primeiro turno, ainda é grande. Mas quando ele é a única opção
oposicionista, suas chances crescem com o voto útil, o que mostra uma
tendência claramente de mudança na motivação do eleitorado.
Os
estudos matemáticos da Macrométrica do economista Chico Lopes,
utilizando-se de um programa do matemático americano Nate Silver, perito
em previsões corretas dos resultados eleitorais hoje com um blog no The
New York Times, mostram que Aécio Neves pode vencer a eleição no
segundo turno se o número de brancos e nulos, e mais as abstenções,
forem nos níveis normais das eleições anteriores.
Se, no entanto, se
confirmar a tendência de denunciar os métodos políticos em prática no
país rejeitando as eleições, o efeito deverá ser contrário, confirmando
na Presidência quem a maioria quer ver fora, segundo as pesquisas
mostram. Será esse o caso se os candidatos oposicionistas não
conseguirem reverter a situação em que o desânimo derrota a esperança.
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