quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Tese de que comoção pela morte de Campos impulsiona Marina é falsa

Blog do Josias de Souza


Josias de Souza

Veio à luz mais uma pesquisa do Ibope, a primeira desse instituto desde que a morte retirou Eduardo Campos da corrida presidencial. Eis as novidades: Marina Silva (29%) abriu dez pontos sobre Aécio Neves (19%). E está a cinco pontos dos calcanhares de Dilma Rousseff (34%).

Num eventual segundo turno, Marina prevaleceria sobre Dilma com uma vantagem de nove pontos: 45% a 36%.

Atônitos, tucanos e petistas buscam um lenitivo na ilusão. Afirmam que Marina sobe graças à comoção que a morte de seu ex-companheiro de chapa ateou no eleitorado. Nessa versão, a candidatura dela murcharia depois que passasse o choque provocado pela tragédia. A tese é falsa.

Campanha presidencial 2014

26.ago.2014 - A candidata Marina Silva (PSB) abraça a candidata à reeleição, Dilma Rousseff (PT), ao lado do candidato Aécio Neves (PSDB), no estúdio da TV Bandeirantes, minutos antes do primeiro debate entre presidenciáveis das eleições de 2014 Leia mais Miguel Schincariol/AFP
 
 
 
Marina ostenta agora o mesmo tamanho que exibia em outubro de 2013, quando o Datafolha enviou seus pesquisadores às ruas, nas pegadas do acordo firmado entre Marina e Eduardo Campos. Num cenário em que Marina encabeçava a chapa do PSB, ela amealhava os mesmos 29% que o Ibope lhe atribui agora. Estava 12 pontos à frente de Aécio, que tinha 17%. Dilma aparecia um pouco mais bem posta do que agora: 39%.


Ou seja: o potencial de votos de Marina esperava desde o ano passado para acontecer. Foi sufocado pela falta de registro da Rede Sustentabilidade na Justiça Eleitoral. Sem partido, o fenômeno teve de se contentar com o papel de coadjuvante de um projeto protaginizado por Eduardo Campos. A morte de Campos como que ressuscitou Marina.


De volta ao jogo, ela dá um nó na língua de João Santana.


Também em outubro de 2013, poucos dias antes da veiculação do Datafolha que atribuía a Marina 29% das intenções de voto, o marqueteiro do PT dissera o seguinte ao repórter Luiz Maklouf Carvalho: “A Dilma vai ganhar no primeiro turno, em 2014, porque ocorrerá uma antropofagia de anões. Eles vão se comer, lá embaixo, e ela, sobranceira, vai planar no Olimpo.”


João Santana incluía no rol dos “anões” Marina Silva, Aécio Neves e Eduardo Campos. Numa entrevista ao blog, Marina comentou na época: “Quando a gente olha de baixo pra cima, a gente vê o que está acima de nós. E o que está acima de nós é o Brasil. Esta é a posição dos anões, pelo menos a minha. Olhar de baixo pra cima pra ver o que está acima de mim. E o que está acima de mim é o Brasil.”


Três meses antes, em julho de 2013, o Datafolha detectara os primeiros efeitos políticos do ronco das ruas de junho. A popularidade de Dilma despencara 21 pontos. E o segundo turno em 2014, antes improvável, ganhara impulso. Só João Santana não acreditava: “Essa pesquisa tem o valor de uma vaia em estádio. Não passa de catarse temporária. Redobro a aposta: Dilma ganha no primeiro turno.”, disse ao Painel na ocasião.

A 40 dias da eleição, é mais fácil enxergar a empáfia de João Santana do que distinguir Davi de Golias. Sob ameaça de cair do Olimpo, Dilma já não está em posição tão sobranceira. Talvez tenha de se envolver na antropofagia de anões.
Editoria de Arte/Folha

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