Deputado quer ter acesso aos documentos
Interceptações telefônicas feitas pela Polícia Federal com ordem judicial levantaram indícios de que dinheiro desviado do Pronaf, o programa de incentivo à agricultura familiar, foi usado em campanhas eleitorais do PT no Rio Grande do Sul.
A investigação, denominada Operação Colono, resultou em inquérito que passou a tramitar no Supremo Tribunal Federal por ter indícios do suposto envolvimento do deputado federal reeleito em 2014 Elvino Bohn Gass (PT-RS), que tem foro privilegiado...
O inquérito revela que dinheiro liberado na forma de empréstimos do Pronaf contraídos no Banco do Brasil em nome de produtores rurais entrou nas contas de uma associação de Santa Cruz do Sul (RS), a Aspac, e de lá seguiu para contas pessoais de dirigentes e ex-dirigentes da entidade. Em seguida houve saques em espécie e transferências para outras contas.
A suspeita de fraude começou a ser investigada porque produtores rurais procuraram a PF e o Ministério Público para dizer que não haviam autorizado os empréstimos em seus nomes e que tinham assinado papéis em branco que ficaram na associação.
A PF quebrou o sigilo de 107 contas bancárias e concluiu que a associação recebeu em créditos, repassados por 26 mil depósitos, um total de R$ 104 milhões de 2006 a 2012. Desse volume, R$ 85 milhões vieram do Pronaf.
Laudos da PF mostram que dirigentes e familiares recebiam recursos da associação em suas contas bancárias pessoais. O vereador Wilson Rabuske (PT-RS), segundo o laudo, recebeu R$ 700 mil, e sua mulher, R$ 324 mil. Outro ex-candidato a vereador pelo PT recebeu R$ 126 mil.
Conforme informações da Receita à PF, o casal Rabuske anotou uma diferença de R$ 2,15 milhões entre o que foi declarado ao fisco como renda entre 2007 e 2011 e o valor que entrou em suas contas.
A PF interceptou 13 aparelhos telefônicos, incluindo os de Rabuske. Numa das conversas, um homem que a PF identifica como sendo representante da Aspac disse a um produtor rural que a entidade tinha dificuldades para cobrir dívidas que atingiam R$ 1 milhão. Mas que políticos estavam ajudando na arrecadação de dinheiro. Segundo a interceptação, havia um motivo para esse esforço.
"Muito dinheiro foi pra campanha do Wilson [Rabuske] e pra campanha do Bohn Gass. [...] E essa dívida que existe está muito ligada a isso", disse ele. Na mesma conversa, o homem da Aspac disse como Bohn Gass agiria para quitar dívidas com o BB. "Vai ser uma espécie de caixa dois, mas [Gass] é o cara que vai ajudar a resolver isso."
Em outra gravação, Bohn Gass teve uma conversa interceptada, ao telefonar para Rabuske. Ele contou que atuava junto ao então ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas (PT), para conseguir decretos que permitissem renegociação de dívidas de produtores. Ele agradeceu a Rabuske "pela parceria".
Em 2007, o ministério havia repassado R$ 642 mil à mesma associação para "palestras" e "visitas técnicas".
Ao enviar o caso ao STF, a juíza Karine da Silva Cordeiro disse que o relatório indicava de forma clara e consistente suposto envolvimento de Bohn Gass com o grupo.
Outro lado: Deputado investigado pela PF quer ter acesso aos documentos da apuração
O deputado federal reeleito Elvino Bohn Gass (PT) –investigado por usar dinheiro desviado do Pronaf na campanha eleitoral–, informou que "confia na Justiça" e que ainda não teve acesso ao inquérito que investigou as fraudes contra o Pronaf. Ele protocolou no STF pedido de acesso aos documentos.
Interceptações telefônicas feitas pela Polícia Federal com ordem judicial levantaram indícios de que dinheiro desviado do programa, que dá incentivos à agricultura familiar, foi usado em campanhas eleitorais do PT no Rio Grande do Sul. A investigação, denominada Operação Colono, resultou em inquérito que passou a tramitar no Supremo Tribunal Federal, já que Bohn Gass tem foro privilegiado.
"Não tive acesso às informações oficiais. Confio que a Justiça será feita. Estranha-me a coincidência com o momento eleitoral. Não devo, portanto, não temo", disse.
"Não tenho conhecimento de nada, não fui intimado. A princípio, tudo o que eu sei é pela imprensa", disse o vereador de Santa Cruz do Sul (RS), Wilson Rabuske (PT).
O vereador contou que "desde abril" está tentando ter acesso aos autos, sem sucesso. "Já fiz petições às autoridades e até o momento não sei do que estão acusando a Aspac". Por isso deixou de comentar a investigação.
O presidente da Aspac atendeu o seu celular, mas disse que havia problemas na ligação, que caiu. Em seguida, seu telefone não atendeu mais às chamadas. Ninguém na Aspac atendeu aos telefonemas nesta terça (21).
A coordenação do Movimento de Pequenos Agricultores em Brasília "nega qualquer envolvimento com qualquer tipo de irregularidade".
Fonte: Portal Folha. Por RUBENS VALENTE. Foto: Luciano Veronezi/Editoria de Arte/Folhapress - 22/10/2014 - -
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