Do UOL, em São Paulo
- Luis Moura / Parceiro / Agência O GloboSeca continua na represa reserva Jaguari-Jacareí, na cidade de Bragança Paulista, no interior de São Paulo
Até agora, a Sabesp estava autorizada a captar apenas a água da primeira cota do volume morto, conforme resolução conjunta entre a ANA e o Daee de julho deste ano. A norma estabeleceu que a Sabesp poderia retirar água do reservatório Atibainha até a marca de 777 metros. Para captar além disto, teria que pedir autorização aos órgãos competentes.
Os 5,94 bilhões de litros correspondem a 5,7% do total de toda a segunda cota de volume morto (106 bilhões de litros). Nesta quarta, o índice do Cantareira caiu para 3,2%, o menor de sua história.
Ao Daee, a Sabesp afirmou que uma erosão ocorrida no canal que liga o reservatório à represa de Jacareí impediu a vazão de água para o Atibainha entre 18 de setembro e 2 de outubro, o que motivou a captação adicional. Segundo a Sabesp, a retirada extra era uma medida "imprescindível" para manter o abastecimento da Grande São Paulo.
Em 10 de outubro, a Sabesp pediu ao Daee para usar a segunda cota do volume morto no reservatório Atibainha. O órgão estadual concordou com a captação adicional e solicitou autorização à ANA. O Daee também propôs ao órgão federal que fosse elaborada outra resolução para definir o formato e a quantidade de água retirada.
Em resposta, a ANA pediu esclarecimentos à Sabesp sobre a situação do reservatório Atibainha e defendeu que fossem aumentados os limites estabelecidos em julho para outros reservatórios do Sistema Cantareira (Jaguari-Jacareí e Cachoeira), de modo a compensar a captação adicional no Atibainha.
A ANA também exigiu que a Sabesp atestasse que a retirada adicional não prejudicaria a vazão de água na bacia do rio Piracicaba. A estatal, no entanto, não respondeu aos ofícios da agência federal.
Medidores desaparecem
De acordo com a ANA, o segundo volume morto já está sendo utilizado ao menos desde 14 de outubro, quando uma medição de técnicos da agência constatou que o nível do Atibainha já estava a 776,62 m, ou seja, 38 centímetros a menos do que o permitido.A medição da Sabesp, no entanto, apontava que o nível estava em 777,02, dois centímetros acima do permitido.
No dia 15, técnicos da ANA foram até o Atibainha e detectaram que as réguas de medição do nível do reservatório haviam sumido. Nos dois dias seguintes, o sistema da Sabesp que informa as medições ficou fora do ar. O Daee já reinstalou os medidores.
No ofício enviado à ANA, o Daee informou que determinou à Sabesp que corrigisse a medição incorreta feita no dia 14.
Procurada pela reportagem desde ontem (22), a Sabesp não respondeu porque captou água além do permitido e não se manifestou sobre o desaparecimento das réguas.
Segundo volume morto
Em paralelo à captação adicional do Atibainha, a Sabesp pediu à ANA e Daee que pudesse captar água da segunda cota do volume morto como um todo, isto é, incluindo as demais represas do Sistema Cantareira.ANA e Daee concordaram com a retirada, mas a captação só ocorrerá depois que ambos aprovarem uma resolução para estabelecer a quantidade e o formato da retirada da água. A ANA propõe que a captação seja feita em etapas.
Segundo a Sabesp, a água do segundo volume morto deve começar a ser utilizada em novembro, quando a primeira cota terminar, para abastecer um terço da capital paulista (6,5 milhões de pessoas).
Nessa terça-feira (22), o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, referiu-se, pela primeira vez, a uma terceira cota do volume morto.
Disputa partidária
Ontem (22), o presidente da ANA, Vicente Andreu, que é filiado ao PT, afirmou que a terceira cota não é própria para uso por tratar-se de lodo. O presidente da agência afirmou ainda que usar a água do segundo volume morto, embora inevitável, é uma "pré-tragédia".Em resposta, o secretário de Energia de São Paulo, o tucano José Anibal, chamou Andreu de "vagabundo". O secretário-chefe da Casa Civil, Saulo de Castro Abreu Filho, disse que a declaração do presidente da ANA é "lamentável" por "tentar tirar proveito político de uma crise."
O que é o volume morto?
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