Nem
bem havia terminado a contagem dos votos quando as primeiras
manifestações começaram a pipocar. Uma eleitora vociferava em caixa alta
no Twitter: “GENTE O NORDESTE É REFEM DE UM GOVERNO MENTIROSO,
TRUCULENTO, VAGABUNDO”; “NORDESTE, A VACA TEVE 11 MILHOES DE VOTOS PQP”;
“O PT CONSEGUIU SEPARAR O NORDESTE DO RESTO DO PAÍS. O RESTO DO PAÍS
QUER QUE A QUADRLHA SEJA PRESA, O NORDESTE É REFÉM DELA”.
Parecia posicionamento político, mas era só preconceito. A “vaca” era a presidenta Dilma Rousseff e os reféns, os eleitores de uma região onde ela acabava de obter mais de 65% dos votos. Não era a manifestação única: no prédio onde mora, em Valinhos (SP), um amigo nordestino ouviu e reagiu contra uma vizinha que gritara na janela algo como “esses filhos da putas nordestinos votaram em peso. Tem que morrer de fome”. Pouco depois, uma cidadã postava um vídeo bastante elucidativo do estado das coisas (este prefiro não relatar, mas clique AQUI e confira)
O desempenho na região, a segunda mais populosa do País, ajudava a garantir à candidata petista mais quatro anos de mandato na eleição mais acirrada da história. Dilma perdeu na maioria dos estados do Sul e do Sudeste, mas obteve duas vitórias simbólicas na região: uma, em Minas Gerais, estado governado por Aécio Neves (PSDB) durante oito anos. A outra exceção foi o Rio de Janeiro. No geral, Dilma venceu com margem apertada: 51,4% contra 48,6%, cerca de 3 milhões de votos. Parte deles não vieram, por exemplo, do Acre, Rondônia e Roraima, onde o PT foi derrotado.
O mapa eleitoral confundia a cabeça de quem, como a eleitora esclarecida do primeiro parágrafo, esperava ver nas urnas um país rachado, 100% azul no Sul e 100% vermelho no Norte. Nas redes sociais, no entanto, o racha era claro em parte de um eleitorado ressentido, preso na própria bolha e refém da intolerância.
A beligerância dos eleitores, acentuada pela postura dos próprios candidatos, que chegaram a trocar ofensas pessoais na propaganda e nos debates, foi a marca de uma eleição que mais confundiu do que esclareceu; mais instigou do que apaziguou; mais agrediu do que dialogou; mais rachou do que uniu. A reação dos eleitores é, em parte, reflexo disso, mas também de campanhas de ódio promovidas por quem confunde ativismo político com bingo de quermesse. É a nossa sétima eleição desde 1989, e ainda temos muito a avançar.
Passada a eleição, desarmar essa tensão será a primeira grande missão da presidenta a partir desta segunda-feira. O próprio Aécio Neves, em seu pronunciamento após o resultado das urnas, fez um aceno para a “união”. Dilma vai precisar. Uma CPI no Congresso se desenha. As projeções da economia não são as melhores. Há muito o que se fazer. Para isso é preciso acenos, rearranjos e armistícios, a começar pelo presidente Lula, que durante a campanha não poupou ataques para alavancar o “nós contra eles”. Caso contrário o País não será apenas dividido: será ingovernável.
Parecia posicionamento político, mas era só preconceito. A “vaca” era a presidenta Dilma Rousseff e os reféns, os eleitores de uma região onde ela acabava de obter mais de 65% dos votos. Não era a manifestação única: no prédio onde mora, em Valinhos (SP), um amigo nordestino ouviu e reagiu contra uma vizinha que gritara na janela algo como “esses filhos da putas nordestinos votaram em peso. Tem que morrer de fome”. Pouco depois, uma cidadã postava um vídeo bastante elucidativo do estado das coisas (este prefiro não relatar, mas clique AQUI e confira)
O desempenho na região, a segunda mais populosa do País, ajudava a garantir à candidata petista mais quatro anos de mandato na eleição mais acirrada da história. Dilma perdeu na maioria dos estados do Sul e do Sudeste, mas obteve duas vitórias simbólicas na região: uma, em Minas Gerais, estado governado por Aécio Neves (PSDB) durante oito anos. A outra exceção foi o Rio de Janeiro. No geral, Dilma venceu com margem apertada: 51,4% contra 48,6%, cerca de 3 milhões de votos. Parte deles não vieram, por exemplo, do Acre, Rondônia e Roraima, onde o PT foi derrotado.
O mapa eleitoral confundia a cabeça de quem, como a eleitora esclarecida do primeiro parágrafo, esperava ver nas urnas um país rachado, 100% azul no Sul e 100% vermelho no Norte. Nas redes sociais, no entanto, o racha era claro em parte de um eleitorado ressentido, preso na própria bolha e refém da intolerância.
A beligerância dos eleitores, acentuada pela postura dos próprios candidatos, que chegaram a trocar ofensas pessoais na propaganda e nos debates, foi a marca de uma eleição que mais confundiu do que esclareceu; mais instigou do que apaziguou; mais agrediu do que dialogou; mais rachou do que uniu. A reação dos eleitores é, em parte, reflexo disso, mas também de campanhas de ódio promovidas por quem confunde ativismo político com bingo de quermesse. É a nossa sétima eleição desde 1989, e ainda temos muito a avançar.
Passada a eleição, desarmar essa tensão será a primeira grande missão da presidenta a partir desta segunda-feira. O próprio Aécio Neves, em seu pronunciamento após o resultado das urnas, fez um aceno para a “união”. Dilma vai precisar. Uma CPI no Congresso se desenha. As projeções da economia não são as melhores. Há muito o que se fazer. Para isso é preciso acenos, rearranjos e armistícios, a começar pelo presidente Lula, que durante a campanha não poupou ataques para alavancar o “nós contra eles”. Caso contrário o País não será apenas dividido: será ingovernável.
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