19/10/2014
às 11:33
Em julho de 2013, o jornalista Guilherme Fiuza escreveu
um texto intitulado “Lula privatizou a si mesmo”. O Ministério Púbico
pedira, então, que a Polícia Federal abrisse um inquérito para
investigar denúncia de Marcos Valério, segundo quem Lula
— sim, o Babalorixá de Banânia — havia intermediado o repasse de R$ 7
milhões de uma empresa de telefonia portuguesa para o PT. A informação
era pública, e Fiuza fez considerações a respeito. O partido decidiu processá-lo por danos morais, com pedido de indenização de R$ 60 mil.
Pois é…
Agora o PT pediu sabem o quê? Uma audiência de conciliação! Aconteceu depois que o advogado de Fiuza apresentou em juízo a lista negra
elaborada pela legenda, da qual, como vocês sabem, faço parte. Segundo o
senhor Alberto Cantalice, vice-presidente do partido, Fiuza integra a
súcia de homens que fazem mal ao Brasil: além de nós dois, compõem o rol dos perigosos Diogo Mainardi, Augusto Nunes, Demétrio Magnoli, Marcelo
Madureira, Arnaldo Jabor, Lobão e Danilo Gentili. Sabem como é… Somos
pessoas más. As boas estavam reunidas na Petrobras, fazendo um Brasil
melhor.
Pois é… Só que Fiuza quem não quer conciliação. Quer que o processo siga até o fim. Afinal havendo ainda juízes em Berlim e no Brasil, é ele quem está sendo molestado pelo PT, não o contrário. O texto que motivou a ação do partido integra o excelente livro “Não é a Mamãe”, publicado pela Editora Record.
*
Lula privatizou a si mesmo
O
Ministério Público pediu à Polícia Federal abertura de inquérito contra
Lula. A base do pedido é a denúncia de Marcos Valério, que o acusa de
ter intermediado um repasse de R$ 7 milhões de uma telefônica para o PT.
Valério afirmou que foi a Portugal em 2005 para preparar essa operação.
O
Ministério Público parece que bebe. Será possível que os procuradores
ainda não entenderam? Lula não sabia. Tanto não sabia, que até outro dia
afirmava, para quem quisesse ouvir, que o mensalão não existiu. A
condenação de seus companheiros mensaleiros, aliás, deve ter sido um choque para ele. Se é que ele já sabe o que aconteceu no Supremo Tribunal Federal.
É uma
injustiça essa suspeita de armação petista para sugar milhões de uma
empresa privada de telefonia. Todos sabem que o PT prefere extorquir
empresas públicas. Até porque as estatais são coisa nossa (deles). Com
tanto trabalho para chegar ao poder e passar a ordenhar os cofres do
Banco do Brasil, da Caixa Econômica, do BNDES, por que Lula e sua turma
perderiam tempo achacando uma telefônica portuguesa?
Ao receber
a notícia sobre o inquérito contra Lula por suspeita de envolvimento
com o valerioduto, José Dirceu reagiu imediatamente. E disparou o
argumento fulminante: o mensalão não existiu. Se existe alguém com autoridade
para afirmar isso, esse alguém é José Dirceu. Condenado a dez anos de
prisão, ele sabe que essas coisas que não existem podem dar uma dor de
cabeça danada. Se Lula não sabia de algo que não existiu, nada melhor do
que ser defendido pelo lendário Dirceu, guerreiro do povo brasileiro –
personagem que também não existe.
Enquanto o
filho do Brasil espera esfriar a denúncia do pedágio colhido com a
telefônica, recebe a solidariedade dos fiéis por seu trabalho com as
empreiteiras. Sabe-se agora que Lula fez uma série de viagens
internacionais bancadas por algumas grandes construtoras brasileiras.
Ele explicou que isso foi um ato patriótico – foi ajudar empresas
nacionais a fazer negócios no estrangeiro, para o bem do Brasil. Não
restam mais dúvidas: a vida é bela. E é feita de gestos nobres como
este: um ex-presidente aproveita seu tempo livre para fazer boas ações,
ajudando empresários a ganhar dinheiro no exterior, porque país rico é
país sem pobreza empresarial.
Aí surge
um comovente coro de progressistas, éticos e crédulos para afiançar as
turnês lulistas, gritando que Lula não fez nada demais. De acordo com a
nova moral da república companheira, não fez mesmo. Qual o problema de o
líder máximo do partido que governa o país desenvolver uma relação
particular (ou patriótica) com grandes empreiteiras que têm o governo
como cliente? Que mal haveria na ajuda de Lula a empresas decisivas no
jogo político, com suas doações às campanhas eleitorais? Qual o problema
de Lula ter viajado para a Venezuela para arrancar de Hugo Chávez US$ 1
bilhão, devido a uma dessas empreiteiras, que pagou a viagem de Lula? E
se essa empresa for a mesma que realizará seu sonho de construir o
estádio do seu clube de coração para a Copa do Mundo, fazendo a alegria
de milhões de torcedores-eleitores fiéis?
Não tem
problema nenhum. Esse é o Brasil moderno, onde as coisas acontecem às
claras, inclusive o tráfico de influência. A não ser quando o ministro
do Desenvolvimento declara secretos os documentos de financiamentos do
BNDES a Cuba e Angola, para obras dessas mesmas construtoras amigas de
Lula. Deve ser para a imprensa burguesa não meter o bedelho – sempre uma
boa causa. Por acaso, o ministro do Desenvolvimento é Fernando
Pimentel, amigo de Dilma que prestou consultorias milionárias à
indústria de Minas Gerais. Como se sabe, essas consultorias nunca foram
demonstradas. Devem ter sido também apenas um ato patriótico, nova
definição para o velho ditado “uma mão lava a outra”.
Pelo
visto, a mão que nenhuma outra lavou no final das contas foi a do
companheiro Valério – logo ele, que lavou tanto para tanta gente. Agora,
o operador do mensalão que não existiu quer mostrar a mão grande do
chefe. Será mais um susto. Ele não sabia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário