Terminou agora o ultimo debate antes das
eleições. Aécio Neves estava afiado, demonstrando firmeza e segurança,
enquanto Dilma se mostrou nervosa, chegando a gaguejar, com voz trêmula.
Provavelmente abatida pelas denúncias recentes que Alberto Youssef, doleiro do PT, fez ao delegado da Polícia Federal, reveladas por Veja.
Foi logo o tema da primeira pergunta do
tucano, para mostrar a que veio. Acusou a adversária de ter
protagonizado a campanha mais sórdida desde a redemocratização, citando
inclusive a reportagem de capa da revista Isto É.
Dilma cambaleou, acusou o golpe, preferiu atacar a Veja em vez de
comentar o conteúdo que a mensageira apenas disponibilizou, cumprindo
sua função jornalística.
A segunda pergunta de Aécio foi outro
golpe duro na adversária: nossa infraestrutura capenga, enquanto o
governo dela prefere financiar porto bilionário… em Cuba! E pior: sob
sigilo, com prazo bem acima do normal de mercado, e sem garantias
comumente exigidas! Por que tanto privilégio ao regime ditatorial?
Silêncio e tergiversação da petista.
Repetindo sua palavra aparentemente
preferida, Dilma só se dizia “estarrecida”. Mas estarrecidos ficamos
todos nós, sem as devidas respostas! Foram perguntas importantes,
objetivas, que demandavam uma explicação. Nada. Dilma fugiu, como de
praxe. Atacou com outras questões secundárias para não ter de enfrentar
fatos incômodos.
O terrorismo eleitoral com o Bolsa
Família não foi tão explorado dessa vez pela candidata petista, mas bem
que tentou. Aécio se saiu muito bem ao afirmar que o povo carente merece
subsídios, mas que os ricaços do Bolsa Empresário via BNDES não. Ouch!
Dilma, a candidata do “povo”, é na verdade a camarada dos bilionários.
Houve ainda a oportunidade para uma
alfinetada cruel de Aécio, ao insinuar que Dilma não conhece bem o
Congresso, pois confundiu seu papel como líder do partido, e não do
governo. Mostrou mais confiança nas propostas também. Afinal, como bem
colocou, quem já fez tem mais autoridade para dizer que vai fazer. Dilma
se apresenta como uma candidata praticamente de oposição a ela mesma,
ignorando que governou pelos últimos quatro anos, e seu partido por
doze.
Ao defender no discurso punição mais
severa para corruptos, Dilma deveria ter sido mais cautelosa. Dependendo
do andar da carruagem nas investigações do escândalo da Petrobras, ela
pode acabar alvo das medidas que prega. Foi implicada diretamente no
caso, segundo o doleiro. Ele diz que ela não só sabia, como se
beneficiou do esquema.
O ponto alto da noite foi quando Aécio,
ainda no tema da corrupção, disse que a medida mais eficaz de curto
prazo para acabar com tanta corrupção e tirar o PT do poder. Foi
ovacionado no local, e sem duvida por milhões de residências Brasil
afora.
Nem mesmo as cartadas na manga de Dilma
surtiram efeito. Tentou, claro, falar sobre a crise de água em São
Paulo, mas foi lembrada por Aécio de que a crise afeta boa parte do
país, especialmente o nordeste; que não houve ajuda devida do governo
federal; e que o diretor a Agência Nacional de Água, apontado por Rose
(por onde anda?), foi para o presídio em vez de ajudar no planejamento.
Alckmin, por outro lado, foi reconhecido pelos paulistas como bom
gestor, tanto que acabou reeleito no primeiro turno.
Outra provocação legítima de Aécio foi
sobre o tema da reeleição, quando perguntou diretamente: quem está
governando o Brasil, candidata? Mostrou, antes, que ela praticamente não
esteve no Palácio do Planalto nesses últimos dias todos, assim como
seus ministros estiveram ausentes, atuando em sua campanha.
Dilma, sobre reforma política, bateu na
tecla do financiamento empresarial. Que bola levantada para
Aécio! Dilma, do PT, condenando financiamento empresarial depois de
arrecadar mais de empreiteiras e bancos do que todos os outros partidos
juntos, é como Beira-Mar condenando o tráfico de drogas…
O tucano rebateu bem a insistência de
Dilma na comparação, distorcida, com o governo FHC, sempre tirando do
contexto aquela época. Quem olha muito para o passado é porque quer
fugir do presente ou não tem nada a apresentar para o futuro, jogou na
cara da petista.
Uma grande gafe da presidente foi quando
uma economista de 55 anos, desempregada, quis saber o que o governo
pretendia fazer para ajudá-la. Dilma, que só sabe repetir o Pronatec
nessas horas, acabou recomendando um curso técnico. Pronatec para uma
economista formada, com 55 anos e sem emprego? Aécio perdeu a chance de
mostrar o quanto Dilma se mostrou perdida na questão ao recomendar uma
qualificação de primeiro e segundo grau, a do Pronatec, para uma mulher
que tem curso superior em economia. Talvez a sua equipe da Unicamp
devesse mesmo fazer um curso no Senai e mudar de ramo de atividade…
Por fim, Aécio cobrou aquilo que William
Bonner já havia cobrado na entrevista para o Jornal Nacional, sem
resposta: o que Dilma, a cidadã e candidata, pensa sobre a condenação de
José Dirceu? O chefe do mensalão é um “herói nacional”, como querem os
membros de seu próprio partido, ou um criminoso, como diz o STF?
Ficamos, uma vez mais, sem saber a resposta. Dilma fugiu. Negou-se a
responder.
Como quem cala consente, e como Dirceu
continua bem próximo de todos aqueles que estão com Dilma, fico com a
opção número um. Vote em Dilma e leve o “herói” Dirceu junto…
PS: Na fala final, Dilma “paz e amor”
falou de um Brasil do amor, da união e da solidariedade. Mais cedo, na
campanha da televisão, mostrou uma cara bem mais raivosa. Vamos depredar
essa maldita Veja que ousa expor fatos, em nome do amor e da
solidariedade? Dilma e o PT são mesmo os ícones da incoerência.
Rodrigo Constantino
A ética (novamente) no lixo?
Em 2006, durante a campanha eleitoral e
no auge do escândalo do mensalão, escrevi um texto alarmado com a
vantagem que o então presidente Lula tinha nas pesquisas. Custava a crer
que o eleitor o colocaria novamente no poder, mesmo após tantos
escândalos de corrupção. Se assim o fizesse, estaria dando um
salvo-conduto, uma carta em branco para o ex-operário.
Dito e feito: Lula venceu, e o PT ficou
ainda mais ousado na arte de roubar recursos públicos, aparelhar a
máquina e ignorar as leis. O eleitor foi cúmplice naquela ocasião. Ao
ignorar a ética, sinalizou ao governo que não ligava para a roubalheira,
que seguiu a todo vapor. A economia ia bem, mas será que é o
suficiente?
Hoje a economia vai mal, os escândalos
não param de surgir, e já implicam até a própria presidente e o
ex-presidente Lula, segundo o doleiro do PT. Será que o povo brasileiro
vai mesmo assassinar de vez qualquer chance de moralidade na vida
pública? Dessa vez, se fizer isso será fatal, sem volta. Eis meu texto
da época, que continua válido e atual, e mais necessário do que nunca:
A ética no lixo
“Não se queixe da neve no telhado da casa do seu vizinho, quando a soleira da sua porta não está limpa.” (Confúcio)
Não temos o
direito de exigir uma determinada conduta ética dos nossos vizinhos
quando nós mesmos a ignoramos por completo. Dizem que o exemplo correto
vale por mil palavras na educação dos filhos. Creio estarem certos. A
ética da malandragem, o “faça o que eu digo e não o que eu faço”, abre
os portões do caos. Se queremos viver em uma sociedade organizada e de
confiança – e temos todos os interesses individualistas para desejar
isso – devemos abandonar urgentemente essa postura imoral de cobrar dos
outros o que não respeitamos individualmente.
A popular
“Lei de Gérson”, de tentar tirar vantagem ilícita em cima de todos o
tempo todo, cria um ambiente totalmente hostil ao desenvolvimento da
sociedade. A relevância do império da lei e da confiança mútua não pode
ser subestimada para o sucesso de uma nação. Saber que o próximo irá
respeitar as regras isonômicas, e que quando não o fizer será punido, é
um ótimo estímulo ao bom andamento das trocas voluntárias entre os
cidadãos. Por outro lado, quando impera a lei da selva, quando cada um
tenta apenas tirar proveito da inocência alheia ou se organizar para
defender seus interesses, por mais injustos e nefastos que sejam, temos
um convite irresistível ao atraso. Nenhuma civilização progride
decentemente desta forma.
Não fazer
com o próximo aquilo que você não gostaria que fizessem contigo é um
aforismo bastante razoável, de claro apelo individualista, mas que gera
um bom resultado para o coletivo. Infelizmente, esta máxima tem sido
bastante ignorada em nosso país, desde os pequenos atos até as decisões
que alteram o rumo da nação. Quem realmente respeita o próximo e evita
trafegar pelo acostamento durante o engarrafamento? Com receio de ser o
“único otário”, a grande maioria acaba aderindo à tentação, prejudicando
o resultado geral e todos aqueles que respeitam as regras. Da mesma
forma, quantos se dão ao trabalho de recolher as fezes do cão na
calçada? Esses exemplos – e existem muitos outros – são simples, do
cotidiano, mas denotam o abandono de um código de ética decente.
Transportando
isso para os temas maiores, como a política, vemos um quadro mais
preocupante ainda. Eleitores simplesmente parecem ignorar as manchas
éticas na trajetória dos candidatos, escolhendo-os somente por puro
imediatismo, com critérios totalmente imorais. Se o candidato me garante
um cargo público, entrega uma esmola estatal qualquer, discursa com
afinidade à minha ideologia, protege meu sindicato ou oferece algum
privilégio ao meu grupo de interesse, recebe meu voto. Nada mais
prejudicial ao bom funcionamento da democracia a longo prazo. Eleger
corruptos para defender um interesse imediato é garantia de perpetuar a
miséria em nosso país.
Dito isso,
me espanta o fato do atual presidente contar com ampla vantagem nas
pesquisas de intenção de votos para as próximas eleições. Afinal,
trata-se de um governo atolado em infinitos casos de corrupção, com
fortes evidências ou mesmo provas. O próprio Ministério Público já
deflagrou o esquema de quadrilha montado pelos principais membros do
governo e aliados do presidente, que confiava e ainda confia fielmente
neles. São escândalos atrás de escândalos, um mais grave que o outro. Os
envolvidos não poderiam ser mais próximos do presidente, que foi o
maior beneficiado do esquema. Nem mesmo seu filho escapou ileso.
A bandeira
da ética, sempre utilizada pelo PT, está completamente esgarçada pelas
traças do poder. E não obstante tudo isso, Lula será reeleito, ao que
tudo indica. Qual a mensagem que o cidadão brasileiro está mandando? O
crime compensa? Tanto faz roubar, contanto que pela minha causa? Se a
reeleição de fato se concretizar, parece que esse é o recado do povo. A
ética será jogada no lixo. Quando isso ocorre, normalmente o futuro da
nação vai para o lixo também. Pobres daqueles cidadãos honestos, que não
compactuam com o crime nem são complacentes com os corruptos. Pagarão o
preço da irresponsabilidade e da falta de ética da maioria do povo.
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