domingo, 9 de novembro de 2014

Conjuntura: Brasil mais fraco: “A crise de 2008 ainda não foi superada. Estamos no meio do caminho”





Uma das estrelas da última reunião de cúpula do G20, país chega à Austrália, no próximo fim de semana, com inflação elevada, crescimento quase inexistente e um ministro da Fazenda que não permanecerá no governo no ano que vem.

O Brasil chega mais fraco à reunião de cúpula do G20, no próximo fim de semana, na Austrália. Às vésperas de assumir o segundo mandato, a presidente Dilma Rousseff tem pouco a se orgulhar dos números da economia desde o último encontro do grupo, em 2008, ano da crise financeira internacional. ...

Fora isso, estará acompanhada do ministro da Fazenda, Guido Mantega, o mais longevo representante da pasta da era republicana, mas que em outubro foi descartado por ela mesma e não permanecerá no cargo.

Ao fazer uma simples comparação de alguns dados econômicos de 2008 com estimativas para 2014, é possível perceber a discrepância. O Brasil daquela época celebrava uma das mais altas taxas de crescimento entre os membros do G20, a inflação estava mais próxima do centro da meta, de 4,5% ao ano, e a nação acabava de entrar para o seleto clube de países com grau de investimento, aqueles com baixo risco de calote nos títulos públicos e que atraem o capital externo.


O Brasil de Luiz Inácio Lula da Silva estava no centro do debate. Falava-se de um descolamento dos emergentes em relação à crise e, nesse contexto, o país estava bem na foto.

O próprio Mantega, hoje demissionário, foi um dos principais articuladores do encontro. O Brasil presidia o G20. Neste ano, o ministro será um mero coadjuvante, sem a representatividade de quem tem o destino da economia do país pela frente e com poucos dados positivos para apresentar.

Há seis anos, enquanto as nações desenvolvidas amarguravam recessão, o país surfava na chamada “marola” da crise, assim apelidada por Lula. Não demorou, porém, para que a marola virasse um tsunami, com estragos que persistem até hoje. Para se ter ideia, em 2008 o Brasil crescia 5,2%. Este ano, o Produto Interno Bruto (PIB) não deve alcançar alta de 0,3%, de acordo com previsão do Fundo Monetário Internacional (FMI). Economistas consultados pelo Banco Central toda semana esperam crescimento ainda menor, de 0,24%. Cenário bem diferente dos Estados Unidos, que em 2008 estavam mergulhados na recessão e agora têm projeção de aumento de 2,2% do PIB.

Lanterna

Não é à toa que o Brasil disputa a lanterna das economias que menos crescem com a Rússia, que está à beira de uma guerra civil com a Ucrânia e sofre sanções de países ocidentais; e com a Argentina, que vive crise econômica sem precedentes, sofrendo as consequências de um rombo de cerca de US$ 80 bilhões na conta-corrente, o terceiro maior do planeta.

A taxa de investimento em relação ao PIB do Brasil, principal item para que um país tenha crescimento sustentável, é outro item que ilustra as transformações dos últimos anos. O indicador era ascendente em 2008 e galgava 20,7% do PIB. Recuou para 16% atualmente, abaixo das estimativas do FMI, de 17%, e dos 25% prometidos por Dilma no primeiro ano de governo. Essa proporção é a menor entre os integrantes do G20, incluindo a Argentina, onde a taxa de investimento está em 17,9%. A fragilidade na economia brasileira é tamanha que o risco de o país perder o grau de investimento até a primeira metade de 2015 aumenta a cada indicador divulgado.

“É inegável a piora nos dados econômicos entre 2008 e 2014. O país não tem feito o dever de casa e precisa de ações de longo prazo para recuperar competitividade”, destaca o diretor de Desenvolvimento Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Carlos Eduardo Abijaodi. Ele ressalta que o país vem caindo em outro ranking: o Doing Business, do Banco Mundial, que mede a facilidade de realizar negócios. “Em uma lista de 180 países, só existem 14 piores do que a gente”, lamenta.

Integrantes da equipe econômica do governo rebateram a comparação feita pelo Correio. Para eles, o ideal seria comparar médias de crescimento entre 2008 e 2013 (antes de o país entrar em recessão técnica), pois 2014 é um ponto fora da curva. Nesse caso, o Brasil teria a terceira menor queda da taxa de crescimento do G20. “O desempenho da economia nesse período é satisfatório. O importante é que a inflação está controlada e houve preservação dos empregos e aumento da renda”, diz uma fonte da equipe econômica.

Dados piores
A economista Monica Baumgarten de Bolle, sócia-diretora da Galanto Consultoria, é taxativa em relação à piora no quadro. “Não importa qual é o recorte. A maioria dos dados piorou, mas o principal problema é que essa economia ruim ainda não bateu na realidade das pessoas”, afirma. Ela lembra que, em 2008, foi um equívoco apostar em um descolamento dos emergentes, como o Brasil. “Na verdade, o que ocorreu foi uma defasagem dos ciclos econômicos. O país estava particularmente atrasado no ciclo e o efeito está sendo sentido agora, enquanto algumas economias começam a se recuperar”, defende.

O economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa, também não vê dados positivos entre 2008 e 2014. “O quadro está aí, os números falam por si. Está ruim porque houve erros na política econômica e a crise geopolítica prejudicou ainda mais o país”, conta ele, enumerando os problemas: “A inflação estava em 5,6% ao ano e hoje está acima do teto de 6,5%. Naquela época, o país crescia, em média, 4% ao ano. Nos últimos quatro anos, avançou 1,7%.” Para ele, esse é o resultado da política econômica aplicada. “Desequilibraram o tripé macroeconômico, administrando o câmbio, permitindo uma inflação mais alta e, do lado fiscal, queimaram o superavit primário para dar incentivos. Foi uma estratégia que não deu resultado”, destaca Rosa.

Por sua vez, o economista-chefe da consultoria LCA, Bráulio Borges, concorda com os técnicos do governo de que é preciso fazer uma análise considerando a média de vários anos para ter dados mais precisos. “Na primeira metade desse período, o Brasil voou com os emergentes. É preciso relativizar um pouco e tirar uma média. Todavia, Borges reconhece que o baixo crescimento do país é resultado de equívocos na condução da economia e lembra: “A crise de 2008 ainda não foi superada. Estamos no meio do caminho”.


Fonte: Correio Braziliense - Por ROSANA HESSEL. Foto : Internet - 09/11/2014 - - 12:00:26
 
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