PT monta plano B para lidar com rebeldia do PMDB na Câmara
IG
A exemplo do que já tentou no passado, partido estuda alternativas para
diminuir a dependência em relação ao partido aliado nas votações que
possam provocar tensão
O
Plenário da Câmara fervia enquanto os deputados decidiam a votação da
chamada minirreforma eleitoral. Era fim de outubro de 2013 e, em meio ao
burburinho, o então líder do PT na Casa, José Guimarães (CE), não
tirava os olhos do painel de votação. Alheio até aos cumprimentos dos
colegas, Guimarães verificava até que ponto era possível não depender do
PMDB. Pelo menos naquela ocasião, a tentativa deu errado e o PT acabou
derrotado. Mais de um ano depois e sob a perspectiva do segundo mandato
de Dilma Rousseff, PT e governo esboçam numa nova roupagem estratégia
para obter maioria quando seu principal aliado, o PMDB, resolver jogar
contra.
Agência Câmara
Deputado Marco Maia diz que PT dará prioridade a partidos que apoiaram Dilma na eleição
Agora, como nas tentativas de 2013, o plano é
estreitar laços com os outros partidos da aliança que apoiou Dilma na
disputa eleitoral, como PP, PR, PSD, PROS e PRB, e cortejar os nanicos.
“O PT pretende conversar com todos os partidos, em especial aqueles que
estiveram juntos na campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff”,
diz o deputado Marco Maia (RS), ex-presidente da Câmara dos Deputados.
Nesse
cálculo, o governo coloca também o PTB, cuja bancada na Câmara sempre
reservou seu carinho para a presidente, apesar da coligação formal com
Aécio Neves (PSDB). Reservadamente, líderes petistas ligados ao governo
admitem novamente a tese de se estabelecer uma relação mais horizontal
com os partidos da base e até atrair apoio de legendas que não compõem o
governo.
Leia: PT exalta importância na campanha e pede diálogo direto com Dilma
Mesmo
a diminuição da bancada do PMDB que tomará posse na próxima legislatura
é apontada como um fator a ser considerado. Com 66 deputados eleitos, o
PMDB perdeu espaço na Câmara. Atualmente tem 71 deputados. Considerando
os partidos da base e o PTB, o governo poderia assegurar 263 deputados a
seu favor.
O número pode até ser suficiente para aprovar projetos
de lei e medidas provisórias, que exigem quórum de 257 deputados e cuja
aprovação demanda apenas maioria simples. A conversa, entretanto, muda
de figura quando o assunto for proposta de emenda à Constituição. Nesse
caso são necessários votos de 308 deputados. Para esse tipo de matéria o
governo não pode abrir mão do PMDB.
Gustavo Lima / Câmara dos Deputados
O líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha: ele quer a vaga hoje ocupada por Henrique Alves
ProvocaçõesO plano B do PT
ganhou força depois dos mais recentes movimentos do líder do PMDB na
Câmara, Eduardo Cunha (RJ). Cunha tem sido direto e agressivo nos
últimos dias. Atuou assim na votação que derrubou o decreto presidencial
que previa a criação de conselhos populares. Tem usado tom desafiador
também para tratar da sucessão à presidência da Câmara, hoje ocupada por
Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Cunha quer o posto, está em plena
campanha e vem dizendo abertamente que o PT não deve ficar com a vaga
com base no resultado eleitoral apertado, quebrando assim o acordo de
rodízio entre os dois partidos.
"A
postura do líder tem nos causado muita insegurança", admite o líder da
bancada do PT, deputado Vicentinho (SP). "O PMDB não deve ser visto como
um partido da base, ele é parte do governo. O vice-presidente da
República é do PMDB", acrescenta ele. Vicentinho diz que a bancada se
reunirá na próxima terça-feira para tratar, entre outros temas, da
relação com o PMDB. Ele adota tom conciliador. "Não podemos abrir mão da
parceria com o PMDB", afirma.
A posição do Planalto sobre essas
provocações é não dançar a dança que Cunha propõe. Representantes do
governo não rebaterão o líder do PMDB e em público destacarão a
importância da parceria com Cunha e com o PMDB na Câmara. Tudo para
evitar conflitos que, na visão do governo, só beneficiariam o próprio
Cunha e poderiam gerar outras animosidades que em nada seriam
interessantes para o governo, sobretudo às vésperas da votação do
Orçamento, cuja discussão deve esquentar ânimos. Aliados do governo não
descartam que o Orçamento não seja votado neste ano, a exemplo do que
aconteceu em 2012.
Mesmo assim, fontes palacianas admitem que o
governo tem observado com alguma cautela os movimentos do PMDB, partido
que na Câmara tem sido extremamente inflexível com relação à aliança.
Por sua vez, reservadamente, admitem que o governo nunca trabalhará com a
ideia de que o PMDB é essencial para assegura a governabilidade.
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