sexta-feira, dezembro 12, 2014
Venina Velosa da Fonseca |
Os
diretores da Petrobras tanto da gestão de José Sérgio Gabrielli quanto
de Graça Foster foram alertados por uma gerente sobre as irregularidades
em contratos firmados pela estatal com prestadoras de serviço, segundo
reportagem do jornal Valor Econômico publicada nesta sexta-feira.
Venina Velosa da Fonseca era gerente da diretoria de Abastecimento
comandada por Paulo Roberto Costa e começou a suspeitar de
superfaturamento nos idos de 2008.
Desde que começou a fazer alertas e a
juntar documentos, foi expatriada para a Ásia e, mais recentemente,
afastada do cargo juntamente com os funcionários suspeitos de
envolvimento na Operação Lava Jato. Em email a Graça, a gerente relata
que chegou a ser ameaçada com uma arma e que suas filhas também corriam
perigo.
Venina,
que é geóloga na estatal desde a década de 1990, começou a suspeitar
que havia problemas quando percebeu que os gastos com pequenos contratos
de prestação de serviços avançaram de 39 milhões para 133 milhões de
reais em 2008, sem razão aparente.
Em sua apuração interna, a gerente
detectou que a estatal estava pagando por serviços de comunicação que
sequer estavam sendo prestados. Sua primeira atitude foi informar Paulo
Roberto Costa, seu superior direto, e pedir mais rigor na fiscalização
dos contratos. Costa, relata Venina, apontou para o retrato de Lula em
sua sala e perguntou" você quer derrubar todo mundo?".
A gerente então
encaminhou as denúncias ao presidente Gabrielli que, após auditoria
interna, acabou demitindo o diretor de comunicação, Geovanne de
Morais.
A
gerente prosseguiu com suas investigações e apurou o que viria a ser um
braço do esquema de desvio de dinheiro e cartel de empreiteiras
mostrados hoje pela Lava Jato. Em email a Graça, que ainda era diretora
de Gás e Energia, a funcionária aponta irregularidades em contratos
bilionários referentes a Abreu e Lima, além de questionar o fato de
acordos de tão alto valor serem firmados com dispensa de licitação. Em
retorno, obteve o silêncio de Graça.
O
desgaste interno fez com que Venina fosse transferida para o escritório
da Petrobras em Cingapura, em 2009, onde ela foi afastada da área
operacional e direcionada a um curso de especialização. Em 2011, já de
volta ao Brasil, voltou a escrever para Graça, a quem confidenciou que
sentia vergonha de trabalhar na empresa. "Diretores passam a se
intitular e a agir como deuses e a tratar pessoas como animais",
escreveu. Em 2012, depois de ficar cinco meses no Rio de Janeiro sem
qualquer atribuição, voltou a Cingapura ao escritório da estatal. Foi
então que levantou novas suspeitas de superfaturamento de compra de
combustível que a Petrobras fazia no país asiático. Venina informou a
sede sobre suas descobertas, mas novamente foi ignorada.
De
volta ao Brasil em 2014, a gerente fez uma apresentação sobre as
irregularidades apuradas na Ásia e sugeriu a criação de uma área de
controle interno para conter perdas nos escritórios internacionais, mas
nada foi feito. Em 19 de novembro, Venina foi afastada da empresa
juntamente com outros funcionários suspeitos de envolvimento na Lava
Jato. Ficou sabendo sobre seu afastamento por meio da imprensa. No dia
seguinte, escreveu um email à presidente da estatal.
"Desde 2008, minha
vida se tornou um inferno. (...) Ao lutar contra isso, fui ameaçada e
assediada. Até arma na minha cabeça e ameaça às minhas filhas. Levei o
assunto às autoridades competentes da empresa, inclusive Jurídico e
Auditoria, o que foi em vão. (...) Voltei a me opor ao esquema que
parecia existir no projeto Rnest. Novamente fui exposta a todo tipo de
assédio. Ao deixar a função, fui expatriada e o diretor hoje preso
levantou um brinde, apesar de dizer ser pena não poder me exilar por
toda a vida".
Em
nota, a Petrobras informou que aprimorou processos de compra e venda de
combustível em seus escritórios internacionais e que, em auditoria, não
encontrou "nenhuma não conformidade" nas operações entre 2012 e 2014.
Sobre Abreu e Lima (Rnest), a empresa afirma que realizou apurações e
enviou relatório aos órgãos de controle e autoridades competentes. A
empresa não se posicionou sobre a razão do afastamento da funcionária. Do site da revista Veja
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