Um quinto delas está em más condições e 38% não têm teto.
eric.zambon@jornaldebrasilia.com.br
Esperar por ônibus no Distrito Federal não é confortável. De acordo com o Transporte Urbano do DF (DFTrans), um quinto das mais de 4,7 mil paradas, com base em dados de setembro do ano passado, está em más condições ou avariadas. Da quantidade total, pelo menos 1,8 mil não têm abrigo para os passageiros e são os pontos sinalizados por placas, ou os chamados pontos habituais, que existem apenas por força de costume da comunidade, sem qualquer traço de identidade.
Quando mesmo os locais convencionais não apresentam boas condições, o jeito é improvisar.
Arranjos de plástico e pinturas, por exemplo, são usados para identificar um determinado lugar como parada e também servem como protesto. Em certos casos, moradores levam até sofás velhos para aguardar o coletivo passar.
Segundo o DFTrans, são gastos R$ 100 mil mensais para reparar e manter os abrigos dos pontos. O contrato atual, que passou a vigorar em setembro, vai até maio, o que significa cerca de R$ 1,2 milhão investidos em manutenção. A autarquia informou não ter planos de diminuir o custo com o serviço “porque grande parte das avarias é resultante de vandalismo.”
Precário, mas necessário
No Pistão Sul, em Taguatinga, entre a pista principal e uma marginal, em frente a um hotel, o único abrigo oferecido pelo ponto de ônibus é provido por uma estrutura “caseira”. Onde deveria estar um local para dar o mínimo de conforto aos passageiros em espera, há um arranjo rústico, com telhas de plástico fazendo as vezes de teto e uma pintura feita à mão com o dizer “parada”.
“Antigamente o sol batia direto. É bem desconfortável”, reclama a vendedora Rita Márcia de Carvalho, de 50 anos, que mora nas redondezas e afirma “nunca ter visto a parada ajeitadinha”.
“Sempre foi ruim desse jeito. Tinha que ter ao menos uma cobertura para a gente ficar”, sugere.
Descaso presente no dia a dia
A auxiliar administrativa Thaynara de Almeida, de 18 anos, também frequenta o ponto improvisado do Pistão Sul diariamente e reclama que a falta de uma estrutura propícia prejudica os passageiros de diversas formas, além de oferecer desconforto. “Às vezes, o ônibus nem para, passa direto pela gente. Acho que é porque o motorista nem vê que aqui é um lugar para ter gente”, opina.
Ela ainda critica a localização perigosa de alguns pontos, como um da Avenida Samdu, também em Taguatinga. Thaynara conta ter escapado de assaltos no lugar e, hoje em dia, teme ir para a parada sozinha. “É horrível para quem precisa pegar transporte. A impressão que a gente tem é de que as coisas estão sempre ruins”, desabafa.
Estrutural
Na Cidade Estrutural, quase todas as paradas contam com algum tipo de improviso ou intervenção da população local. Um terminal próximo ao posto policial, na entrada da região, por exemplo, é feito com telhas e madeiras. É espaçoso e atende às necessidades, mas tem o caráter de “amadorismo” dificilmente visto no Plano Piloto, por exemplo.
Entre os pontos repletos de publicidade e sujeira, um sinalizado por placa na Quadra 1, conjunto 6, é o que atende as necessidades do aposentado Antônio Pinto de Souza Neto, de 68 anos. Por morar nas proximidades, ele costuma esperar por transporte, quase todo dia, no mesmo local. “É pertinho de casa, então para mim está bom. Só podia ter uma sombrinha, né?!”, opina.
A placa em questão está pregada em um cano de ferro, bem diferente do padrão utilizado pelo DFTrans. A inscrição “ponto de ônibus” foi pintada à mão em papelão e fica a alguns metros da cobertura mais próxima. “Não fosse a farmácia aqui perto, ficaríamos ao relento”, diz, apontando o estabelecimento ao lado. “Quando está cheio, muita gente fica ao sol”, lamenta.
Antônio acredita que menos improviso, mais zelo e investimento na questão trariam benefícios a todos. “Ter boas paradas é uma coisa bonita para a cidade e também é mais confortável para quem precisa do serviço”, afirma.
Situação desanimadora
De acordo com o mestre em Engenharia de Transportes e doutor em
estudos nessa área, Paulo César Marques da Silva, as condições
encontradas pelos passageiros podem trazer consequências maiores. “É o
tipo de coisa que contribui para que as pessoas fujam do sistema
público. Isso faz com que elas procurem o carro ou outras opções para se
locomover”, alerta.
Paulo César aponta que além de questões como conforto para proteger
de intempéries, é preciso observar também pequenos aspectos que também
interferem na qualidade do serviço, como o desnível entre a calçada e os
degraus do veículo. “Essas paradas de vidro, também, têm problema
quanto ao sol, que penetra a cobertura. Elas são de padrão europeu, mas
lá o clima é diferente”, aponta.
Por fim, o especialista acredita haver falta de paradas no DF. “As
que existem muitas vezes têm infraestrutura inadequada e ainda há
aquelas informais, sem qualquer aparato”, avalia. Esse último tipo,
inclusive, chamado de “ponto habitual” pelo DFTrans, representa quase
25% do total, sendo a maioria em Ceilândia e Planaltina.
Idosos
Na QNP 10 de Ceilândia Sul, moradores afirmam que um ponto habitual
existe há mais de 20 anos entre a quadra e a QNN 36 e nunca houve
sequer esboço de uma construção no local. A indignação cresce, pois em
um sentido da via há uma parada de mármore comumente vazia, no outro, os
passageiros se escoram em um poste.
As amigas aposentadas Miriam de Santana, 70 anos, e Carmem Soares,
83, precisam recorrer a um guarda-chuva e ficar em pé por até uma hora à
espera de um ônibus. “Para quem trabalha deve ser pior, pois chega aqui
às 6h ou 7h e fica à mercê da malandragem, sem proteção”, critica
Miriam.
A amiga sofre de asma e diz que ao menos ter um lugar para se
sentar a ajudaria a “se sentir menos mal”. “Na minha idade, tudo dói,
tudo é complicado”, reclama. Elas ainda têm esperança de solução para a
situação. O problema é que, no aguardo do ônibus, nem ao menos esperar
sentada elas poderão.
Fonte: Da redação do Jornal de Brasília
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