quarta-feira, 18 de março de 2015

A falsa humildade de Dilma


As sandálias da falsa humildade.
Gigantescas manifestações pelo país afora fizeram Dilma ensaiar mudanças de comportamento. Balela. Os petistas agem com método, não reconhecem os fatos, vivem num mundo de versões fantasiosas. Diálogo? Sim, desde que todos concordem com Dilma. Como reconhece o editorial do Estadão, a natureza e a psicologia de Dilma e do PT nada têm a ver com modéstia e conciliação:


Pressionada pela voz das ruas, a presidente Dilma Rousseff ensaia uma mudança de comportamento em relação às críticas a seu governo calcada em três pontos: ênfase no reconhecimento do óbvio direito democrático da expressão das divergências; defesa vigorosa das medidas de ajuste fiscal destinadas a botar ordem nas contas públicas como pré-requisito para a retomada do crescimento econômico; e, finalmente, "disposição para abrir diálogo" com todos. De novo, nisso tudo só uma tímida e incompleta tentativa de autocrítica: "Podem ter sido cometidos erros" na economia, disse ela. No geral, ficou evidente que a tática do governo para a "batalha da comunicação" é calçar as sandálias da humildade, essa atitude que desde logo esbarra na natureza e na psicologia de Dilma e do PT, que nada têm a ver com a modéstia e a conciliação.
O maior problema de Dilma Rousseff não são seus erros na economia, a corrupção endêmica nas administrações petistas ou sua incapacidade de administrar a coalizão partidária que deveria dar apoio ao governo. O maior problema da presidente da República, depois do desastrado primeiro mandato e de uma campanha eleitoral que se revelou mentirosa, é que a maior parte dos brasileiros - as ruas e as pesquisas de opinião o confirmam - nela não confia. A população não acredita que ela tenha competência para enfrentar os problemas do País. Dilma perdeu a credibilidade. E a desconfiança não se reverte com discursos e promessas. Isso exige provas concretas, realizações palpáveis, resultados positivos.
Agrava esse cenário nada animador a evidência de que, do ponto de vista político, além da rebeldia do PMDB, Dilma Rousseff tropeça nas contradições de seu próprio partido, o PT.
Como podem os brasileiros acreditar que Dilma é contra a corrupção e a favor da punição dos corruptos quando o seu partido transformou em heróis e promoveu a "guerreiros do povo brasileiro" os dirigentes condenados no escândalo do mensalão? Como podem os brasileiros acreditar que Dilma está verdadeiramente disposta a impor medidas corretivas rigorosas para promover o reajuste fiscal se o seu partido é o primeiro a fazer campanha contra essas medidas?
O PT, na verdade, está menos preocupado com os problemas reais que Dilma enfrenta do que em encontrar para si a porta de saída de uma crise que pode levá-lo a se confrontar com a temida e indesejável alternância no poder. Prestar atenção ao que Lula tem dito e feito ajuda a ilustrar esse cenário.
De qualquer modo, a questão essencial que se coloca para quem está genuinamente preocupado com os destinos do País é saber até que ponto, diante do impasse político que imobiliza o governo, Dilma Rousseff está verdadeiramente disposta a mudar para, com atos concretos, recuperar a credibilidade sem a qual não poderá governar de fato. Seus pronunciamentos recentes, com todas as hesitações e reticências, revelam muito pouca disposição diante do que exige o clamor das ruas.
Depois de conversas, principalmente com Lula - que segundo fontes palacianas trocou com Dilma palavras ásperas na segunda-feira à noite -, a presidente parece disposta a promover uma reforma pontual em sua equipe de governo, afastando uns poucos ministros que não precisaram de três meses para demonstrar que foram uma péssima escolha. Não a preocupa a mediocridade gritante do restante da equipe, porque a ideia é abrir espaço para o buliçoso PMDB.
Também precisa ser para valer a intenção ruidosamente proclamada por Dilma de "abrir diálogo" com quem quer que esteja disposto a conversar. Não faz bem o gênero da presidente essa disposição para ouvir. Mas é o caso de torcer para que a promessa presidencial de mudança não seja destinada exclusivamente a atender à recomendação marqueteira de sua assessoria baseada em pesquisas de opinião encomendadas para lastrear o novo desenho da "batalha da comunicação". Foram tão reticentes e cheias de condições as suas afirmações em favor do diálogo que ficou a inevitável impressão de que ela está, sim, disposta a conversar - mas com quem concorde com ela.

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