(O Globo) Análise interna do Palácio do Planalto, feita pelo ministro da
Secretaria de Comunicação Social (Secom), Thomas Traumann, e encaminhada à
presidente Dilma Rousseff, diz que o país vive um "caos político" e
que dificilmente o governo conseguirá reverter esse quadro. Segundo a
avaliação, a comunicação do governo é "errada e errática", e a
presidente ficou encastelada no começo do segundo mandato. Também afirma que os
aliados do Planalto estão levando uma "goleada" da oposição nas redes
sociais. O texto critica ainda a escolha de Joaquim Levy para o Ministério da
Fazenda e as medidas do ajuste fiscal.
O GLOBO teve acesso ao
documento, que não tem a marca do governo federal nem assinatura. O texto é
dividido em três capítulos _ Onde estamos, Como chegamos até aqui e Como virar
o jogo. "De um lado, Dilma e Lula são acusados pela corrupção na Petrobras
e por todos os males que afetam o País. Do outro, a militância se sente acuada
pelas acusações e desmotivada por não compreender o ajuste na economia. Não é
uma goleada. É uma derrota por WO", avalia.
O documento começa com uma
dura avaliação da comunicação, mas diz que a crise é maior do que os erros de
interlocução com a sociedade: "A comunicação é o mordomo das crises. Em
qualquer caos político, há sempre um que aponte 'a culpa é da comunicação'.
Desta vez, não há dúvidas de que a comunicação foi errada e errática. Mas a
crise é maior do que isso."Mesmo admitindo o erro, a Secom cobra mais ação
da militância petista, que, segundo a análise, perdeu a disputa nas redes
sociais e nas ruas, desde as manifestações de 2013: "Ironicamente, hoje
são os eleitores de Dilma e Lula que estão acomodados com o celular na mão,
enquanto a oposição bate panela. Dá para recuperar as redes, mas é preciso,
antes, recuperar as ruas.
"O segundo capítulo
discorre sobre os equívocos do governo Dilma desde a eleição de 2010,
criticando políticas adotadas pelo Ministério da Cultura e pela Secom, quando
comandados por Ana de Hollanda e Helena Chagas, respectivamente. Diz que no início do primeiro
mandato de Dilma houve um "rompimento com a militância digital",
considerada fundamental para rebater boatos da campanha eleitoral.
"A
defesa ferrenha dos direitos autorais pelo Ministério da Cultura e o fim do
diálogo com os blogues pela Secom geraram um isolamento do governo federal com
as redes que só foi plenamente reestabelecido durante a campanha eleitoral de
2014", afirma o documento, acrescentando que esse erro se repete neste momento.
Pela avaliação, as redes sociais a favor de Dilma foram murchando a partir de
novembro e hoje estão praticamente extintas.
A
avaliação é que houve um descolamento entre o governo e seus apoiadores, a
partir de novembro, devido à escolha de Levy e o anúncio das medidas do ajuste
fiscal, com o endurecimento das regras de acesso ao seguro desemprego e a
benefícios previdenciários, como a pensão por morte. O texto diz que, nas redes
sociais, há uma mágoa dos eleitores de Dilma com a postura da presidente e as
ações do governo após a posse: "A ausência de agendas públicas da
presidenta da eleição ao carnaval, a mudança nas regras do seguro desemprego e
pensão por morte, o desastrado anúncio de cortes do FIES, o aumento nos preços
da gasolina e energia elétrica e o massacre nas TVs com as denúncias de
corrupção naPetrobras geraram entre os dilmistas um sentimento de 'abandono' e
'traição'.
”As
páginas dos deputados e senadores do PT, segundo a análise, pararam de defender
o governo. Diz que o deputado Jean Wyllys, do oposicionista PSol, "tem um
peso na defesa do governo maior que quase toda a bancada federal" petista.
Constata ainda que a principal página do Facebook pró-Dilma não oficial, a
Dilma Bolada, começou a perder fãs em fevereiro, "o que pode significar
uma situação de quebra de imagem".
Segundo o
texto, as páginas oficiais do Planalto e do PT atingem apenas os aliados:
"Ou seja,o governo e o PT passaram a só falar para si mesmo".
Enquanto isso, o PSDB manteve ativos os mecanismos de comunicação da campanha,
nas redes sociais. Os tucanos, segundo a avaliação da secom, teria gastado R$
10 milhões para manter esses instrumentos, mas o resultado seria positivo. Em
fevereiro, a campanha da oposição teria chegado a 80 milhões de brasileiros,
enquanto as páginas do Planalto e do PT, 22 milhões. "Ou seja, se fosse
uma partida de futebol estamos entrando em campo perdendo de 8 a 2", diz.
Na
conclusão, o texto diz que "não será fácil virar o jogo", mas aponta
caminhos, começando por uma ação coordenada de comunicação do governo, do PT e
dos partidos aliados. "A guerrilha política precisa ter munição vinda de
dentro do governo, mas ser disparada por soldados fora dele", afirma. O
documento critica o discurso adotado pelo governo e o PT nas respostas ao
escândalo da Petrobras e na situação da economia brasileira, especialmente em
relação à inflação. "Óbvio que essa reconquista não é apenas um trabalho
de comunicação. Não adianta falar que a inflação está sob controle quando o
eleitor vê o preço da gasolina subir 20% de novembro para cá ou a sua conta de
luz saltar em 33%. O dado oficial IPCA conta menos do que ele sente no bolso.
Assim, como um senador tucano na lista da Lava Jato não altera o fato de que o
grosso do escândalo ocorreu na gestão do PT", diz o texto.
Avalia
como positiva a entrevista da presidente, anteontem, mas diz que Dilma precisa
aparecer mais:"É preciso que a PR fale mais, explique, se exponha
mais". também prega a unificação do "núcleo de comunicação estatal,
juntando numa mesma coordenação a Voz do Brasil, as páginas de sites, twitter e
Facebook de todos os ministérios, o Facebook da Dilma e a Agência Brasil".
Além de concentrar a publicidade oficial em São Paulo, reforçando as parcerias
com a Prefeitura. "Não hácomo recuperar a imagem do governo Dilma em São
Paulo sem ajudar a levantar a popularidade do Haddad. Há uma relação direta
entre um e outro", diz.
Leia mais: DILMA USOU ROBÔS.
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Postado
por O EDITOR às 00:01:00
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