Em
entrevista à Veja.com, o senador Cristovam Buarque manifestou "a
sensação de que a presidente não lidera mais". A turbulência política,
diz ele, é de profunda gravidade. O senador falou também algumas
bobagens, como chamar Dilma de democrática. Ora, ora, democrata apenas
por conveniência; por dentro, é uma autoritária bolivariana:
O senador
Cristovam Buarque (PDT-DF), de 71 anos, é um dos políticos mais
experientes do Congresso Nacional. Está há 13 anos no Senado, período só
interrompido para atuar como ministro da Educação no início do governo
Lula. Ex-governador do Distrito Federal e candidato à Presidência da
República em 2006, Cristovam já presenciou uma série de turbulências
políticas ao longo dos anos. Mas anda espantado nos últimos tempos: "A
sensação é de que a presidente não lidera mais". Em entrevista ao site
de VEJA, o senador repetiu o discurso que irritou a bancada petista nas
últimas semanas: "Corre-se o risco de ingovernabilidade. Aí o
impeachment termina sendo uma coisa natural".
Como o senhor analisa a relação da presidente Dilma com o Congresso?
Sempre
houve turbulência, mas o nível atual tem uma gravidade profunda. É a
sensação de que a presidente não lidera mais. Ao não liderar, ela não
está controlando. Por exemplo: o Lula tem de intervir de vez em quando e
falar com o PT, a Dilma tem de dar pito no ministro da Fazenda. Eu
creio que um dos grandes problemas da presidente hoje é que ela tem um
ministro que não gosta, mas que não pode demitir. O Joaquim Levy não
parece ter o perfil que ela gostaria, mas, como ela não pode demitir,
fica evidenciado que perdeu a liderança. E isso é o que caracteriza seu
novo mandato.
Esse descontrole já estava anunciado antes da reeleição?
Sim, e
por isso eu votei no Aécio Neves. As pessoas não entendiam por que eu,
que sempre estive próximo à ala da esquerda, votei no PSDB. O PT não tem
propostas transformadoras da sociedade. Mas os partidos ficaram todos
iguais e, de repente, votei em alguém que estava do outro lado. Votei no
Aécio porque era o novo. A democracia cria a cada quatro anos a lua de
mel entre o dirigente e o povo. Mas a Dilma já chegou sem lua de mel.
Começa um casamento velho em que jogou muito dinheiro e cometeu
infidelidade, já que disse uma coisa e agora faz outra. O melhor seria a
novidade. Ela permitiria mudar os quadros dirigentes e colocaria as
esquerdas na oposição para voltar a ter projetos e sonhos. Não se
consegue sonhar nos sofás dos palácios. Você se acomoda, se acostuma,
fica preso naquele momento. Eu saí do PT quando o partido perdeu o vigor
transformador e se acomodou. Age como se não precisasse fazer mudanças
sociais - basta dar Bolsa Família. Qual foi a transformação social do
PT? O PT tem coisas ótimas, mas transformação social não tem. Hoje, 52
milhões de pessoas não passam fome. Mas isso não é transformação. Isso é
uma coisa assistencial. Transformação seria se o ensino tivesse sido
modificado, e não foi.
E qual a consequência disso?
O povo
está falando no impeachment. Tem direito de falar e não é golpismo, está
na Constituição. Mas a proposta de impeachment não é boa.
Pedagogicamente, o eleitor perde a convicção da importância do seu voto.
Passa no inconsciente de que se não der certo, tira. Quando isso
acontece ao longo da história da República uma ou duas vezes, tudo bem.
Mas a gente só teve até aqui quatro presidentes eleitos. E para cada um
se falou em impeachment, do Collor até a Dilma. É muito enfraquecedor,
uma democracia doente.
Nesse cenário de insatisfação, qual seria a alternativa?
É melhor
encontrar uma solução. E eu considero urgente a união das pessoas que
nesse país têm responsabilidade para a construção de uma agenda. Nessa
agenda é necessário ter um ajuste, mas tem de ter transparência sobre o
que vai acontecer depois. A presidente tem de fazer o que se faz em
qualquer casamento: se foi pega na infidelidade, tem de enfrentar o
assunto, pedir desculpas e dizer que errou. Mas tem de apontar uma
solução e acertar. A presidente agora tem de construir pontes, o que,
parece, ela não gosta de fazer. Ela tem de reconhecer os erros. Os
militares foram mais sensíveis que a Dilma quando perceberam que um
modelo estava se esgotando e começaram a dialogar com forças de
oposição. A Dilma, que é de esquerda e democrática, não está
reconhecendo o esgotamento de um modelo e procurar as forças que pensam
diferente, que são críticas.
Mas qual a garantia de que a presidente vai cumprir as promessas?
Se ela
não fizer isso, corre-se o risco de ingovernabilidade. Aí o impeachment
termina sendo uma coisa natural. Em relação à economia, eu estou de
acordo com que disse o Armínio [Fraga, ex presidente do Banco Central]:
'Nós estamos no caminho para um colapso'. Então se a gente tem um
colapso na economia e na política, e o social sobrevive do
assistencialismo - o que dá uma certa tranquilidade, porque o povo não
desce das favelas -, então virá uma ingovernabilidade.
Durante
as manifestações de junho de 2013, a presidente Dilma foi a público
anunciar cinco pactos nacionais - mas nada saiu do papel.
A Dilma
ir à televisão e fazer promessas não tem mais credibilidade. Só faz
sentido o que eu proponho, que é a construção de uma agenda, se houver
um consenso, inclusive, entre as forças de oposição. A Dilma anunciou o
pacto após os protestos do mesmo jeito que no dia 1º de janeiro, ao
assumir o mandato, anunciou o slogan 'Pátria Educadora'. E dois meses
depois cortou dinheiro da educação. É uma certa esquizofrenia. A
presidente ora fala como manda o ventríloquo João Santana, ora fala - ou
deveria falar - como o ventríloquo Joaquim Levy. As pessoas não sabem
em quem acreditar. E aqui dentro, no Congresso, também não encontram em
quem acreditar. Por isso, quando falo no impeachment, falo que não é a
hora - mas pode ficar inevitável.
Depois de lançar o lema 'Pátria educadora', a presidente cortou verbas para a educação. O que o senhor achou do corte?
Mesmo que
o corte tenha sido generalizado, o da educação foi o maior. Dilma tinha
de ter evitado isso. Educação não era a prioridade dela? Ela tinha que
tirar dinheiro de outros cantos. (Continua).
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