quinta-feira, 26 de março de 2015
Com Blog do Noblat - O Globo
Se alguém interessado em tomar o pulso da situação desembarcar por esses
dias em Brasília não terá dificuldades em descobrir que mudou o eixo do
poder dentro e fora do governo.
Dentro, o endereço mais privilegiado não está no terceiro andar do
Palácio do Planalto, onde despacha a presidente da República. Muito
menos no quarto andar onde funciona a Casa Civil.
Anote: Esplanada dos Ministérios, Bloco P, 5º andar. Esse é o endereço do gabinete do ministro Joaquim Levy, da Fazenda.
O que não passar por ali dificilmente contará com o aval de Dilma e, depois, com a boa vontade do Congresso.
Fora do governo, os endereços mais quentes estão no prédio do Congresso.
A saber: os gabinetes dos presidentes da Câmara, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Onde fica o gabinete do ministro responsável pela coordenação política
do governo, Pepe Vargas (PT-RS)? No Palácio do Planalto. Mas, esqueça.
Ele não tem importância.
Aloizio Mercadante, ministro-chefe da Casa Civil, ainda guarda alguma
importância. Mas ele está mais para o Dilma da Dilma do que para uma
espécie de primeiro-ministro.
O primeiro-ministro é Levy. E a centralizadora e arrogante presidente
parece conformada com isso. Quando nada porque se ele resolver, de
repente, ir embora, o governo dela desmoronará.
Em junho de 2013, quando milhões de brasileiros saíram às ruas e
derrubaram pela primeira vez a aprovação de Dilma, ela prometeu muitas
coisas, sendo a reforma política uma delas. Nada fez.
No último dia 15, quando milhões de brasileiros outra vez saíram às ruas
e reduziram a pó a popularidade de Dilma, ela despachou para o
Congresso o pacote de medidas contra a corrupção prometido em junho de
2013.
Na luta diária pelo poder não se admite espaço vago. Levy entrou no
governo como a salvação da lavoura. Para aplainar um terreno cheio de
buracos e de más elevações.
A fraqueza de Pepe, a crise de identidade de Mercadante e a falta de
rumo de Dilma abriram espaço para que Eduardo e Renan batessem com o pé
no chão e começassem a falar grosso.
Os dois estão envolvidos com o escândalo da Petrobras. O governo de
Dilma também está. A avaliação do Congresso consegue ser pior do que a
avaliação de Dilma, segundo a mais recente pesquisa Datafolha.
Mas Eduardo e Renan são ousados. Sabem o que querem. E estão fazendo por
onde conseguir. Querem afirmar a autoridade do Congresso – e, por
tabela, a deles mesmos. E aproximá-lo do que pede a voz das ruas.
Daí a reforma política possível, que os dois já dispararam. O ajuste
fiscal possível, que negociam com Levy. E o reajuste da dívida de
Estados e municípios, que discutem com Levy, governadores e prefeitos.
Enquanto isso, Dilma...
Enquanto isso, Michel Temer, o vice-presidente, vive a desejável
atribulação de alguém que só cresce em prestígio na República. Toca em
sintonia com Eduardo e Renan.
O primeiro governo de Dilma foi dela mesma e do PT. O segundo governo está sendo do PMDB até aqui.
Joaquim Levy, ministro da Fazenda, e Renan Calheiros, presidente do Senado (Imagem: Antônio Cruz / Agência Brasil)
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