Percebe-se,
de longe, que o clima político em Brasília está pesadíssimo (diga lá,
Coronel). As relações de Dilma com o Congresso estão em turbulência
máxima depois da "lista de Janot". Alô, Dilma, o 15 de março vem aí para
jogar mais lenha na fogueira:
A presidente Dilma Rousseff está preocupada com o agravamento da tensão com o Congresso após a apresentação da lista da Procuradoria-Geral da República. O temor é que os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do Senado,
Renan Calheiros (PMDB-AL), não apenas culpem o governo por estarem
citados na lista como inviabilizem qualquer votação de interesse do
Executivo, criando um clima de instabilidade política. Nesta
quarta-feira, Dilma se reúne com líderes do Senado e da Câmara a fim de
acalmar os ânimos.
A avaliação interna no Planalto é a de que Cunha pode agir como Renan - que já retaliou o governo na terça, devolvendo ao Executivo
a medida provisória que onera a folha de pagamento - e interpretar que
foi incluído "na marra" na lista dos suspeitos da Operação Lava Jato,
numa "manobra" arquitetada pela Polícia Federal para neutralizar o seu
poder de fogo na Câmara. Na tentativa de se contrapor ao efeito
bumerangue, Dilma planeja fortalecer o PMDB, abrindo mais espaço para o
partido no primeiro e no segundo escalões da equipe. O problema é que
uma das vagas que poderiam ser dadas a Cunha é justamente o Ministério
do Turismo, ocupado por Vinícius Lages, afilhado de Renan.
Ajuste
- Dilma também fará concessões em projetos a fim de evitar novas
derrotas que comprometam seu ajuste fiscal. Já aceita afrouxar prazos
estabelecidos em duas Medidas Provisórias editadas em dezembro - a 664 e
a 665 - que integram seu plano de ajuste. O Planalto aceita diminuir,
por exemplo, a carência para o pagamento do seguro-desemprego.
O modelo
antigo estabelecia carência de um semestre, mas o texto do Executivo
altera para dezoito meses na primeira solicitação, doze meses na segunda
e seis meses a partir da terceira e é justamente esse novo prazo que
será flexibilizado para obter aprovação do Legislativo. O governo também
deve concordar em flexibilizar a carência para o recebimento de pensão
por morte. Antes da medida provisória, não havia carência para esse tipo
de benefício. Agora, o pagamento depende de um período de carência de
no mínimo 24 contribuições mensais. (Veja.com).
Solução política para um caso policial?
Merval Pereira
faz um comentário um tanto enigmático sobre "A lista de Janot". A
República está num alto grau de tensão. Haverá rugido nas ruas? A
conferir.
As
atitudes hostis do presidente do Senado, Renan Calheiros, em direção ao
Palácio do Planalto são reflexos diretos da certeza de que seu nome está
na lista de Janot de políticos envolvidos na Operação Lava-Jato. Renan,
e também Eduardo Cunha, o presidente da Câmara, estão convencidos de
que houve o dedo do governo, com a atuação do ministro da Justiça, José
Eduardo Cardozo, através da Polícia Federal, para incriminá-los com o
objetivo de fragilizar o Congresso e dividir as atenções neste momento
de crise que o país atravessa.
Como as
investigações devem prosseguir até o fim do ano, pelo menos, teremos um
Congresso em ebulição pressionando por uma solução política para um caso
policial. Mas é um engano imaginar que o fato de o procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, pedir investigações sobre os políticos
envolvidos na Operação Lava-Jato, em vez de já fazer denúncias, como no
mensalão, significa um retrocesso ou é sinal de que se arma uma grande
pizza no STF.
Acontece
que no mensalão as investigações foram feitas durante as Comissões
Parlamentares de Inquérito (CPIs), e o então procurador-geral Antonio
Fernando de Souza apresentou denúncias ao Supremo com base nelas. No
petrolão, apesar da série de delações premiadas, as investigações se
aprofundarão agora, quando o relator do processo, ministro Teori
Zavascki, autorizá-las, provavelmente a partir desta sexta-feira, ao
mesmo tempo em que liberará o sigilo para que a lista seja revelada.
Ao
contrário do que a maioria imaginava, inclusive eu, o fato de a delação
premiada ser homologada pelo STF não significa que o delator forneceu
provas de que está dizendo a verdade. A homologação apenas atesta que os
ritos legais foram atendidos no processo de delação premiada, mas será
durante as investigações que as informações dadas serão checadas,
cruzadas com outros fatos, eventuais planilhas ou documentos fornecidos
pelos delatores — que serão analisados —, para que se forme um quadro
conclusivo.
A
delação, por si só, não pode servir de prova contra ninguém, mas deve
indicar o caminho das investigações. E nesse caso do petrolão, graças às
diversas delações premiadas, pode ser possível seguir o rastro do
dinheiro, como preconiza o juiz Sérgio Moro na investigação sobre
políticos corruptos.
A
preocupação do Ministério Público será, a partir da próxima semana,
arranjar as provas que permitam denunciar os investigados e condená-los
no decorrer do processo. No mensalão, havia até mesmo recibos assinados
do dinheiro a que cada um teve direito, o que facilitou muito a formação
de provas.
No caso
atual, o difícil será conseguir provar que o dinheiro doado por
empreiteiras por meio de mecanismos legais e registrado no Tribunal
Superior Eleitoral (TSE) tem origem ilegal, desviado das obras da
Petrobras. Mesmo que se prove esse desvio com o cruzamento de planilhas,
descobrindo-se o caminho do dinheiro, será preciso provar que o
político que recebeu aquela doação sabia que era dinheiro ilegal.
Até mesmo
o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, o mais exposto de todos, pode
alegar que não sabia que o dinheiro era desviado de obras, embora haja
várias delações premiadas dando conta dos acertos financeiros entre
eles, os diretores da Petrobras e os empreiteiros. Juntar essas pontas
com provas é que será o trabalho dos investigadores a partir de agora.
Provavelmente
haverá um sentimento de frustração na opinião pública quando constatar
que até mesmo os empreiteiros hoje presos serão soltos brevemente, e que
os políticos da já famosa lista do procurador Janot continuarão nas
suas atividades dentro do Congresso enquanto as investigações estiverem
ocorrendo, mas esse é o ritmo do processo no STF, que deve ser apressado
pela decisão de entregar a uma das turmas o julgamento do caso, e não
ao plenário do STF, como foi feito no julgamento do mensalão.
O
julgamento dos empreiteiros e outros envolvidos na Operação Lava-Jato na
primeira instância, pelo juiz Sérgio Moro, em Curitiba, deve ser mais
rápido do que o processo do STF, mas em compensação os réus terão mais
instâncias recursais.
O
Ministério Público poderá também fazer uso de “provas emprestadas” para
fundamentar sua acusação contra os políticos, isto é, provas levantadas
nas investigações sobre as empreiteiras, ou delações premiadas que
tenham conexão com as investigações sobre os políticos, poderão ser
requisitadas para o outro processo no STF.
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