ANÁLISE DE CONJUNTURA
Jornalistas,
sociólogos, cientistas políticos e outras criaturas geradas na academia
tentam agora esclarecer o que motiva o tucano Fernando Henrique Cardoso a
repelir com tamanha veemência a hipótese de impeachment da petista
Dilma Rousseff.
O que há de
oculto na motivação de FHC? Quais são as verdadeiras intenções dos
agentes políticos envolvidos neste imbróglio que coloca tucanos contra
tucanos?
As criaturas
diplomadas respondem com complexas análises de conjuntura da política
nacional. O debate anima os correspondentes de Brasília na TV, rádio e
internet.
Talvez, dizem
os seres diplomados, o PSDB esteja rachando (de novo) por conta da
disputa velada entre os polos paulista e mineiro, ou seja, entre os
meninos Alckmin e Aécio. É tudo a velha disputa por poder interno, e o
tio FHC tomou partido de Alckmin.
O impeachment
seria ótimo para Minas Gerais, mas não para Pindamonhangaba. Daí o tio
FHC apareceu pra dizer que agora é a vez de Alckmin tentar. “É uma vez
de cada, meninos!”.
Há muitas outras hipóteses forjadas com base em outras análises de conjuntura.
E várias delas,
oriundas da esquerda que se encontra encharcada na lama, são
verdadeiras hagiografias que pintam FHC como um democrata genuíno que
coloca os interesses da República à frente dos interesses do seu
partido.
Agora que se
posicionou contra o impeachment, FHC recuperou sua realeza. Sua
Majestade diz que o impeachment é uma aventura, baseada em uma tese, e
não deve passar disso.
Comentaristas
petistas da GloboNews, jornalistas petistas da Folha de São Paulo,
petistas travestidos de advogados da OAB e senadores petistas do PSDB
repetem, em coro, o mantra real segundo o qual não há base jurídica para
o impeachment.
Aqui na Reaçonaria não cansamos de lembrar o
que eles não se cansam de esquecer: alguns dos maiores juristas do
Brasil dizem que há, sim, fundamentos jurídicos para o impeachment.
A lista inclui Ives Gandras Martins, Bernardo Cabral e Modesto Carvalhosa, entre outros.
Ame-me
Diante de um
mundo complexo e mágico – onde os telepatas da GloboNews respondem com
riqueza de detalhes à perguntas do tipo: “Cristiana Lobo, o que o
governo pensa sobre isso?” – prefiro, sempre, apelar para a boa e velha
Navalha de Occam.
O velho frade
Guilherme de Occam ensinava que a explicação mais simples costuma ser a
mais próxima da verdade. A simplicidade de Occam é precisa, afiada e
certeira.
Eis minha tese:
FHC tem alma de mulher de malandro. Quem murmura, escreve ou brada nas
ruas – com olhar raivoso, boina vermelha adornando a cabeça vazia e
espuma saindo do canto boca – que odeia FHC e seu neoliberalismo…acaba
conquistando o seu coração!
Quatro anos de
sociologia me habilitam a dizer que os sociólogos têm uma preferência
natural por coisas e pessoas de natureza excêntrica. FHC é como o
aristocrata que flerta com os rebeldes decapitadores porque os acha
interessantes e progressistas.
Quando
governava o Brasil, FHC via da janela do carro aquele povo estranho e
progressista que exigia, sem medo de ser feliz, “Fora FHC!”. Foi amor à
primeira vista.
Ele sempre quis
o colo aconchegante da esquerda. FHC apanhou muito, nos jornais, no
Congresso, nos protestos de rua, mas nada, absolutamente nada, mudou o
que ele sente por barbudos do ABC Paulista que agora justificam
ideologicamente a corrupção.
Agora que os
companheiros estão afundados em mil crises, FHC tem, finalmente, a sua
chance: ele surge, radiante, em um cavalo branco, estendendo a mão
e oferecendo socorro aos petistas em segredo.
Segundo o jornalista Diogo Mainardi,
FHC prometeu a Joaquim Levy o apoio do PSDB ao ajuste fiscal do governo
Dilma. O ministro prometeu que se apoiar o ajuste fiscal ficará imune a
novos ataques do PT. E uma nova era de amor se desenrola no horizonte.
Era tudo o que esse sociólogo com alma de mulher sofrida sempre quis na vida!
A imprensa já começou a operação cafuné. O petista Ricardo Kotscho descreveu solenemente o homem no cavalo branco que veio salvar Dilma, a dama em perigo, dos golpistas:
“Voz isolada de bom senso neste golpe sem quartel que está em andamento, agora com o apoio do PSDB e de seu presidente, Aécio Neves, FHC foi enfático na defesa da legalidade: ‘impeachment não pode ser tese’”
Dá pra imaginar FHC lendo, entre lágrimas, essas cartinhas de amor dos seus detratores.
Mas, é claro,
não vai passar disso. A cúpula oficial do PT sempre irá criticar FHC em
público e implorar por sua ajuda em segredo. Para afagar o velho, usarão
os seus escribas de plantão. E, quem sabe, lhe darão alguma medalhinha
no futuro.
Quem sabe…
Os petistas até
hoje culpam FHC por todos os males do universo. Porém, como toda mulher
de malandro, ele ainda acha que os petistas podem mudar.
Para
reconquistar esse amor, o tucano fará de tudo, inclusive, desautorizar
os cidadãos honestos que estão nas ruas pedindo a saída dos ratos que
ocupam o poder.
Não tem jeito. Sua Majestade – como a princesa Diana – tem alma de mulher iludida.
FHC é igual a
amante que acredita, firmemente, que um dia o homem casado – que lhe usa
apenas para obter prazer – realmente vai abandonar sua mulher e filhos
para fugir com ela. Então, barbudos do ABC e sociólogos da USP serão
felizes, juntos, em Paris.
Os petistas
estão casados com o Foro de São Paulo, com o bolivarianismo, com a
corrupção como método de aparelhamento estatal. Mas FHC sonha em amar e
ser amado por essa gente. Mulher de malandro sabe: o amor supera tudo.
28 de abril de 2015
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