Domínio do Crime
Milícias e traficantes controlam os 64 conjuntos habitacionais do Rio e governo federal busca alternativas para o problema antes de construir novos condomínios
"Achávamos que tínhamos ficado livres de um sistema criminoso, mas estamos assistindo à reorganização das mesmas práticas violentas de antes”, denuncia à ISTOÉ uma contemplada pelo Programa Minha Casa, Minha Vida no Rio de Janeiro. A moradora pediu sigilo de identidade e não é difícil entender o motivo. Todos os 64 conjuntos habitacionais do programa federal implantados na cidade vivem sob domínio de organizações criminosas.
A carioca que não quer se identificar faz parte de uma das
85 famílias transferidas da favela da Indiana, na zona norte da cidade,
para o conjunto Bairro Carioca, em Triagem, a 24 quilômetros de
distância.
Segundo denunciam os moradores, ali quem manda é a milícia, mas inquéritos policiais mostram que o tráfico tem sua parcela de poder entre os conjuntos construídos no município. Também há registros de denúncias de violência nos empreendimentos do programa em outros 16 estados.
A funcionária pública Maria do Socorro, 49 anos, 35 deles vividos na favela Indiana, vem lutando para não ser transferida para uma residência do projeto. “Quem se mudou, se arrepende. As pessoas estão desesperadas porque pagam todos os impostos que antes não pagavam e mesmo assim têm problemas. Os milicianos estão ocupando os apartamentos”, diz. Após criar uma força-tarefa interministerial para gerenciar a crise, em abril do ano passado, o governo federal agora reúne especialistas em políticas públicas para montar um diagnóstico de segurança a ser elaborado antes da construção dos próximos condomínios.
Segundo denunciam os moradores, ali quem manda é a milícia, mas inquéritos policiais mostram que o tráfico tem sua parcela de poder entre os conjuntos construídos no município. Também há registros de denúncias de violência nos empreendimentos do programa em outros 16 estados.
DESCASO
Nas duas fotos, o Condomínio Guadalupe, no Rio, que está tomado por criminosos.
Acima, invasores fazem uma corrente. Abaixo, flagra de bandido com arma
Nas duas fotos, o Condomínio Guadalupe, no Rio, que está tomado por criminosos.
Acima, invasores fazem uma corrente. Abaixo, flagra de bandido com arma
Diferentemente de outras cidades, no Rio
mais da metade dos moradores do Minha Casa Minha Vida chega aos
apartamentos por ordem de remoção e não por financiamento. O resultado é
o perigoso encontro de grupos oriundos de territórios dominados por
facções rivais. No Conjunto Residencial Haroldo de Andrade I, na zona
norte, por exemplo, 80 famílias foram expulsas sob ordem de Celso
Pinheiro Pimenta, o Playboy, um dos criminosos mais procurados pela
polícia carioca.
As pessoas expulsas vinham justamente de uma favela
comandada por adversários do traficante.
Em outubro do ano passado, ele
enviou mensagem de voz a seus oponentes informando que os que mudaram de
lado e se juntaram aos seus capangas ganharam apartamentos. A realidade
é muito parecida no condomínio Valdoriosa, em Queimados, região
metropolitana fluminense. Em entrevistas realizadas pelo Instituto de
Estudos de Trabalho e Sociedade, 50% dos moradores admitiram ter visto
pessoas armadas circulando pelo local.
A Secretaria Estadual de Segurança informa
que está realizando investigações sigilosas, mas que prendeu em
flagrante três pessoas em dois condomínios diferentes entre os dias 8 e
10 deste mês, todas por tráfico de drogas. Mais operações e prisões
estão por vir, anuncia o órgão. No entanto, segundo Sergio Magalhães,
presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil, o problema não é apenas
de polícia.
“Não se resolve a questão da habitação somente com o
fornecimento de moradia. Desse modo se desestrutura as cidades e se
impõe uma vida em guetos. Precisamos olhar para as experiências
anteriores e reinventar o programa, criando uma política urbana.”
A funcionária pública Maria do Socorro, 49 anos, 35 deles vividos na favela Indiana, vem lutando para não ser transferida para uma residência do projeto. “Quem se mudou, se arrepende. As pessoas estão desesperadas porque pagam todos os impostos que antes não pagavam e mesmo assim têm problemas. Os milicianos estão ocupando os apartamentos”, diz. Após criar uma força-tarefa interministerial para gerenciar a crise, em abril do ano passado, o governo federal agora reúne especialistas em políticas públicas para montar um diagnóstico de segurança a ser elaborado antes da construção dos próximos condomínios.
Pedro
Strozenberg, um dos estudiosos convidados e secretário executivo do
Instituto de Estudos da Religião, diz que a intenção é criar um diálogo
entre municípios, estados e União porque sem essa sintonia, estarão
sendo construídos condomínios vulneráveis e violentos. “É um desafio
enorme, mas é também o único caminho para conquistarmos cidades mais
seguras.”
Revista
IstoÉ -
http://www.istoe.com.br/reportagens/414417_MINHA+CASA+MINHA+VIDA+SOB+O+DOMINIO+DO+CRIME?pathImagens=&path=&actualArea=internalPage
Helena Borges - helenaborges@istoe.com.br
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