São Paulo, quarta-feira, 27 de julho de 2005
Eleição do PT pode ser destino de dinheiro
KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA
O Ministério Público Federal
tem indícios de que a destinação
de pelo menos parte do dinheiro
apreendido com o ex-dirigente do
PT no Ceará José Adalberto Vieira da Silva poderia ser usado para
as eleições do Diretório Estadual
do partido neste ano.
Segundo o procurador Márcio
Torres, a suspeita surgiu porque
os implicados são do PT e estavam envolvidos diretamente no
processo de eleição. Tanto Adalberto como o ex-assessor do BNB
(Banco do Nordeste do Brasil)
Kennedy Moura, tido pela Polícia
Federal e pelo Ministério Público
como o principal suspeito de ser o
responsável pelo dinheiro, faziam
parte da chapa do Campo Majoritário que disputaria a eleição.
Adalberto foi preso no último
dia 8, no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, quando tentava embarcar para Fortaleza com
R$ 200 mil numa mala e US$ 100
mil escondidos na roupa. Ele era
dirigente do PT no Ceará e assessor do deputado estadual José
Nobre Guimarães (PT-CE), irmão do ex-presidente nacional do
PT José Genoino.
Depoimento
Moura, que também já assessorou Guimarães, prestou depoimentos ontem à Comissão de Ética do PT e ao Ministério Público.
Ele confirmou que falou com
Adalberto por telefone "antes, durante e depois" de ele ter pego o
dinheiro, mas negou que tivesse
algum envolvimento no caso.
Uma das ligações foi na quinta-feira, dia 7, à noite, quando Adalberto já estaria com o dinheiro.
Moura disse que em nenhum momento desconfiou que o amigo
estivesse em São Paulo e que apenas conversaram sobre o partido.
A primeira ligação feita por
Adalberto quando se hospedou
num hotel, possivelmente logo
depois de ter pego o dinheiro,
também foi para Moura, segundo
um relatório de chamadas do hotel Quality, da avenida Faria Lima.
A ligação, pelo extrato, durou
quase dois minutos. O ex-assessor
do BNB, porém, disse que não
conseguiu identificar quem havia
ligado e que só falaram "alô, alô,
não posso atender".
As investigações, até agora,
apontam que o dinheiro pode ser
propina, fruto do favorecimento
de um consórcio, o STN (Sistema
de Transmissão Nordeste), num
contrato com o BNB de R$ 300
milhões.
Moura voltou a dizer que Guimarães, então chefe de Adalberto,
pediu a ele que assumisse a origem do dinheiro em uma reunião
em São Paulo, dois dias depois da
prisão de Adalberto.
A reunião foi presenciada por
dois petistas, Danilo Camargo e
Francisco Rocha, que negam a fala de Moura.
Genoino
O delegado da PF responsável
pelo caso no Ceará, José Pinto de
Luna, afirmou que tem imagens
do local onde aconteceu a reunião
e que, na gravação, há um momento em que aparece Genoino,
ao lado de Camargo.
A captação da imagem foi possivelmente depois da reunião entre
Moura e os demais, de acordo
com o delegado. Segundo Camargo, que mora no flat onde aconteceu a reunião, Genoino foi até lá
para conversarem sobre a conjuntura do PT nacional e também
sobre o caso do dinheiro apreendido com Adalberto. O próprio
Moura negou ontem que soubesse que Genoino estaria no flat.
Guimarães também esteve com
seu irmão no mesmo local e confirmou que eles conversaram sobre o caso de Adalberto.
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