quinta-feira, 16 de abril de 2015

Queda de Dilma abala candidatura de Lula para 2018


Pedro do Coutto


Esta vinculação, aliás, uma tendência lógica, encontra-se objetivamente assinalada na pesquisa do Datafolha publicada na reportagem de Graciliano Rocha, Folha de São Paulo, edição de terça-feira. Tanto assim que a popularidade do ex-presidente recuou nada menos que 21 pontos, passando de 71 para 50%, ao longo dos últimos cinco anos incompletos: do final de 2010 ao início de 2015. Tal processo de desgaste de imagem coincidente com o declínio da atual presidente da República.



Se houvesse eleições presidenciais hoje, acentua o Datafolha, Aécio Neves alcançaria 33% dos votos contra 29 de Lula e 14 pontos de Marina Silva, que assim se mantém bem colocada no quadro político. Claro que disputas eleitorais se decidem com base no desempenho dos candidatos na campanha, assim como os jogos de futebol decidem-se no campo, mas sem dúvida os números de hoje indicam tendências básicas, que podem mudar amanhã, porém nem por isso deixam de ter importância relativa. Afinal todos os pormenores eleitorais começam num ponto.


No momento o quadro, como se vê, não é favorável ao Partido dos Trabalhadores, causador e vítima, ao mesmo tempo, de contradições que o intoxicam junto à opinião pública, portanto, junto ao eleitorado. A corrupção na Petrobrás, a mais importante delas, uma vez que a estrutura da legenda encontra-se envolvida em diversos inquéritos adicionados a uma série de delações premiadas. Em consequência, a legenda ficou enfraquecida e não teve força para sustentar a popularidade de Dilma Rousseff.


NOVA REALIDADE
A partir de agora, com a divulgação do levantamento publicado pela FSP, as correntes internas do PT passam a se defrontar com uma nova realidade, um novo panorama político. A pressão de Lula sobre Dilma vai crescer antes que diminua ainda mais seu prestígio. Afinal, descer de 71% para 50% no espaço de pouco mais de quatro anos revela um estrago muito grande em matéria de potencial de votos. E também na perspectiva de alianças eleitorais.


Esta deve ter sido uma das razões que levaram o Planalto a concordar com mudanças nos princípios sociais contidos na medida provisória do Ajuste Fiscal, de inspiração e autoria do ministro Joaquim Levy, que aguarda votação tanto na Câmara quanto no Senado Federal. Reportagem de Geralda Doca, Marta Beck e Cristiane Bonfanti, O Globo também de terça-feira, focaliza o tema com objetividade.


AUMENTAR IMPOSTOS
A prova maior da reformulação, vamos assim chamar, está no fato de o ministro da Fazenda admitir modificações no seu próprio texto original e voltar sua investida para uma elevação de tributos sobre a área rural. Ele aparece entre sorrisos na fotografia que saiu no Globo, ao lado da ministra Kátia Abreu. Aliás são duas as reportagens publicadas no jornal na mesma edição. A primeira já foi citada. A segunda é de Simone Iglesias, Luiza Damé e Eliane Oliveira. Os dois assuntos na realidade convergem: mais impostos, menos cortes nos direitos sociais.


Este segundo tema, aumento de impostos, terminará inevitavelmente na elevação de preços que pune sempre os assalariados, sobretudo agora com menos perspectivas de terem seus vencimentos reajustados pelo menos de forma a empatar com a inflação (oficial). Aliás, como sucede invariavelmente. Em consequência, retrai-se o mercado de consumo e, com isso, o volume da produção, atingindo o nível de empregos e, no final, o processo de desenvolvimento econômico do país.


Um círculo vicioso que começou nas urnas do ano passado e cuja próxima estação será em 2018, com uma parada em 2016.

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