quinta-feira, 14 de maio de 2015

A falsa polêmica envolvendo a Fundação de Economia e Estatística (FEE) do Rio Grande do Sul.

Em geral, quando muitos os meus amigos falam que a evidência empírica pode solucionar certos debates eu fico com um grande ceticismo. De 2008 a 2014, muitos alertaram sobre os sucessivos erros de politica econômica, mas de nada adiantou até chegarmos perto expectativa de perder o grau de investimento. Assim, dada a expectativa de agravamento da crise, a presidente e o PT convidarem Joaquim Levy para ministro da fazenda, que tem a missão de desmontar tudo que a equipe econômica anterior fez nos últimos seis anos.


Várias pessoas no primeiro governo Dilma acreditavam (e ainda acreditam) que o governo com o forte crescimento da divida pública para dar incentivos setoriais levaria a mais crescimento porque o efeito multiplicador do crédito subsidiado e dos gastos do governo ocasionariam expansão do PIB e crescimento da arrecadação que pagaria a conta do maior endividamento.


Mas isso não ocorreu, ou seja, a evidência empírica não corroborou a hipótese daqueles que defendiam o aumento do endividamento público como forma de estimular o crescimento do investimento e do PIB. Apesar disso, muitos ainda acreditam que o problema foi a “crise mundial”, que por algum motivo nos levou a um crescimento zero no ano passado e a uma queda real do PIB este ano, apesar de um crescimento mundial esperado de 3,5% do mundo para 2015.


Não é que agora chega na minha caixa postal uma polêmica idiota de alguns supostos defensores do politicamente correto contra um grupo de pesquisadores da Fundação de Economia e Estatística (FEE) do Rio Grande do Sul, que publicaram um trabalho sobre mercado de trabalho, um texto acadêmico (clique aqui), no qual os pesquisadores tentam explicar, entre outras coisas, porque os homens no Brasil ganham mais do que as mulheres. Segundo o estudo, os resultados das regressões mostram que:


“Os resultados da decomposição do diferencial de salários entre homens e mulheres observado em 2013 podem ser vistos na Tabela 4, considerando tanto a equação (4) quanto a equação (5). Para fins de análise optou-se, nesse relatório, pelo grupo de referência dos homens, i.e., equação (5). O diferencial das previsões dos logaritmos dos salários é de 0,202, o que pode ser interpretado como um diferencial salarial de 20,2% entre homens e mulheres. Segundo a Tabela 4, dos 20,2% de diferencial, 13,5 pontos percentuais (p.p.) são explicados pelas diferenças nas características individuais, ou seja, aproximadamente dois terços (66,8%) do diferencial salarial se devem às covariadas utilizadas no exercício empírico. Portanto, apenas 6,7 p.p dizem respeito a fatores não observados.”


O que deve ter deixado muita gente (mulheres em especial) irritada é o fato de os pesquisadores terem encontrado que o componente de discriminação existente no mercado de trabalho – diferença de salários entre homens e mulheres não explicados por fatores observáveis- seria de apenas 7% e não 20%!


Algumas pessoas me falaram que, por causa desse estudo e de sua conclusão, um grupo estaria pedindo a cabeça do presidente da FEE, Igor Alexandre Clemente de Morais. É difícil acreditar que com tantos problemas, no Brasil, existam pessoas que agora querem controlar o resultado de estudos econométricos porque não gostam dos resultados. Seria mais fácil essas pessoas tentarem fazer um outro estudo com metodologia respeitável para ver se conseguem refutar o estudo em questão,



É assim que deveria ser um bom debate, ao invés de algumas pessoas ficarem irritadas com o resultado de estudos que não mostram o resultado que João ou Maria gostariam. Pedir punição ou a exoneração de pessoas de uma instituição por causa do resultado de um estudo acadêmico é o melhor exemplo de discriminação, para não usar um adjetivo mais forte que tal atitude mereceria.

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