Não é possível, em pleno século XXI, promover mais um tipo de diversão em que o centro da ação lúdica se estabelece com o sofrimento de um animal.
Vaquejadas: manifestação cultural ou cultura dos maus-tratos?
postado por
Carta Potiguar
Por Alyson Freire e Daniel Menezes
(Sociólogos e Colunistas da Carta Potiguar)
No senso comum ou na política, evocar ou
apelar ao termo “cultura” pode ser conveniente de várias maneiras e
atender diversos interesses; desde o desejo de conferir à algo um status
distintivo, refinado, culto ou reivindicar a legitimidade de modos de
vida, identidades e crenças, uma mãozinha para obter recursos de
financiamento do Estado e do mercado e, até mesmo, bloquear certas
manifestações e práticas culturais das críticas, questionamentos e
avaliações.
Quando então, ao lado do termo “cultura” soma-se a palavra “esporte” a coisa fica ainda mais institucionalizada. Logo, mais difícil de ser questionada e submetida à crítica. É o caso de certos costumes e/ou esportes como caça à coelhos, touradas e, no caso do Brasil, as vaquejadas e rodeios.
Ao contrário de outros animais, somente o
homem inflige dor por esporte ou prazer. E o fato de ter consciência da
dor causada não diminui nem o faz retroceder em seu ímpeto de
crueldade.
Nesse sentido, em se tratando de “esportes” ou “tradições culturais” cujo mote se assentam, direta ou parcialmente, na submissão dos animais a maus-tratos e à crueldade, é necessária a regulamentação ou a proibição legal para aplacar o que alguns poderiam pensar ser um “instinto” humano dirigido à violência. Aliás, a própria Constituição Federal (art. 225, § 1º, VII) veda qualquer prática que submeta os animais à crueldade.
Nesse sentido, em se tratando de “esportes” ou “tradições culturais” cujo mote se assentam, direta ou parcialmente, na submissão dos animais a maus-tratos e à crueldade, é necessária a regulamentação ou a proibição legal para aplacar o que alguns poderiam pensar ser um “instinto” humano dirigido à violência. Aliás, a própria Constituição Federal (art. 225, § 1º, VII) veda qualquer prática que submeta os animais à crueldade.
Pensando nisto, se deu início um movimento, que já tem algum tempo e que agora age pela internet, que visa colher assinaturas para proibir os maus tratos com os animais infligidos na vaquejada (ver as justificativas http://www.peticaopublica.com.br/?pi=P2011N15526).
A vaquejada é um esporte – pelo menos segundo alguns -, e um lucrativo negócio também, em que dois vaqueiros à cavalo puxam o rabo de um boi para derrubá-lo em um local previamente estabelecido. Nesta competição ou celebração da cultura do cabra-macho, o boi, e muitas vezes, meros bezerros, é um objeto a ser derrotado, entenda-se violentado, pela força e a habilidade das “puxadas” dos vaqueiros, munidos da energia de cavalos velozes e fortes. É um “jogo” desigual: um boi contra dois vaqueiros e dois cavalos.
A vaquejada expõe o animal a inúmeras
condições de maus-tratos: o animal encarcerado e submetido a chutes e
chicotadas em algumas partes do corpo, inclusive, nos testículos, para
que o bicho fique afoito e aumente o grau de dificuldade para os
concorrentes. Nesta perspectiva, é impossível não imaginar que não há
envolvimento de muito sofrimento ao animal.
O animal é, nesse tipo de prática “esportivo-cultural”, reduzido a mero meio para satisfazer dois propósitos – vaidades – humanos. Um mais particular e outro mais geral. O primeiro, a diversão, o espetáculo. O segundo, mais geral e menos consciente, é atestar a superioridade do homem sobre a natureza e os outros animais. O problemático aqui é que, nesse ritual que é a vaquejada, a diversão é ao custo do sofrimento do animal e a dita superioridade do homem é provada e conquistada pela força, pela capacidade de infligir dor e submissão.
De um modo geral, a vaquejada está, a um
só tempo, envolvida num ritual de dominação da natureza sustentado no
sofrimento e subjugação do animal, como também pela exaltação do “ser
macho nordestino”, da cultura de masculinidade machista que se estende
desde as bandas de forró que se apresentam aos demais personagens;
vaqueiros, locutores etc..
Para aqueles que defendem a vaquejada, é
preciso lembrar que a proibição da vaquejada pode representar um salto
civilizatório significativo no tocante as relações homem-natureza em
busca de uma racionalidade e modos de relacionamento que não se reduzam à
instrumentalidade e à dominação via a violação e a prova de força.
Passo já dado pela Ilhas Canárias e Catalunha, regiões da Espanha que
proibiram as famosas touradas em seu país, pondo fim a uma tradição
cultural bastante antiga e arraigada.
O argumento de que a vaquejada é uma
manifestação cultural não implica aceitar os elementos de violência,
crueldade e as condições de sofrimento a que os animais são
expostos. Por vezes, a palavra “cultura” ou adjetivo “cultural” encobrem
equívocos e violências aos quais se tenta justificar e tornar intocável
práticas e hábitos assim qualificados. Por exemplo, práticas de
infanticídios e mutilamento genital seriam relativizadas por serem
práticas culturais de um determinado povo. Logo, segundo esse
raciocínio, qualquer intervenção ou crítica seria um equívoco de
indisfarçável etnocentrismo travestido de boas razões humanitárias e
civilizatórias.
Não se trata apenas de uma concepção congelada e imóvel
da cultura, como se esta fosse uma entidade estanque, autoreferente,
fechada e incapaz de aprender e redefinir suas crenças, representações e
práticas. O problema é também que a ideia – cultura – que deveria
constituir a base para desnaturalizar os fenômenos humanos, de que estes
são mutáveis, modificáveis e dependem da ação das pessoas, acaba por
ser utilizado como discurso que referenda e reforça naturalizações,
justificando e perpetuando violências, dominações e desigualdades
hierárquicas cuja existência é arbitrária.
O importante, do ponto de vista de uma
sociedade democrática madura e reflexiva, é que o fato de certas
manifestações, crenças ou práticas constituírem traços de uma cultura
particular não sirvam como uma maneira de neutralizar e blindar estas
contra questionamentos e interpelações públicas, quer visem tais sua
supressão ou ajustamento. A prática da vaquejada precisa ser discutida
publicamente quanto aos seus traços e elementos perversos e
desnecessariamente violentos.
O homem passou por um processo de
pacificação de suas atividades cotidianas e o esporte se estabeleceu
como uma das vias para que os agentes produzissem uma economia psíquica
dentro de determinadas regras e limites, que viesse a substituir a
violência antes praticada. Até os esportes de combate tidos como os mais
violentos, como é, por exemplo, o chamado vale-tudo, hoje MMA,
apresentam limites objetivos, que visam respeitar a figura da pessoa
humana e procurar zelar pela sua integridade.
Ora, esta pacificação deve passar também
pelos esportes em que o homem estabelece relação com outros animais. A
mudança de viés deve contemplar também o modo como nos relacionamos com a
natureza.
Não é possível, em pleno século XXI, promover mais um tipo de diversão em que o centro da ação lúdica se estabelece com o sofrimento de um animal.
Comentário:
1. Chico Vigilante e Juarezão: Vocês estão privilegiando o lucro pessoal em detrimento do bem estar de animais inocentes.Que tipo de mensagem vcs estão passando a seus leitores?Que causar sofrimento em animais é OK desde que seja lucrativo? Não contem NUNCA MAIS com meus votos!!
Anonimo
Não é possível, em pleno século XXI, promover mais um tipo de diversão em que o centro da ação lúdica se estabelece com o sofrimento de um animal.
Comentário:
1. Chico Vigilante e Juarezão: Vocês estão privilegiando o lucro pessoal em detrimento do bem estar de animais inocentes.Que tipo de mensagem vcs estão passando a seus leitores?Que causar sofrimento em animais é OK desde que seja lucrativo? Não contem NUNCA MAIS com meus votos!!
Anonimo
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