quinta-feira, 14 de maio de 2015

Fogo amigo do ex-presidente Lula


Eu não paro de me surpreender com as declarações do ex-presidente Lula. Além do presidente ter causado na terça-feira da semana passada um ruído desnecessário ao irritar o PMDB e dizer que o partido na Câmara estava querendo retirar direitos dos trabalhadores com a aprovação do Projeto de Lei que regulamenta a terceirização, o ex-president Lula falou hoje em evento no ABC que:


“Foi um erro ter feito isso (a mudança no seguro desemprego) por Medida Provisória.  Devia ter chamado o movimento sindical e feito um acordo” – ver aqui.


De fato foi um erro. Mas se um aliado da presidente fala isso, ele está dando uma excelente justificativa para que aliados e oposição votem contra o pacote de ajuste fiscal – MP 664 e MP 665.


O senador Aécio Neves havia criticado exatamente esse ponto em entrevista que deu à revista Veja na edição de 21 de janeiro de 2015:


“Há um equívoco com relação ao instrumento utilizado (Medida Provisória). As medidas deveriam passar por amplo debate na sociedade e no Congresso.”


Há muita gente que acha que o PSDB deveria não apenas votar a favor, mas ainda defender algumas das medidas de austeridade fiscal. Acho cada vez mais difícil e  improvável porque o histórico do PT é demonizar todos os outros que votam a favor ou conta propostas do governo e posar de o “salvador da pátria”, o único partido que  se preocupa com os trabalhadores. Confesso que a postura do PT nas eleições e as falsas promessas foram tantas que deixou fissuras difíceis de consertar.


De uma coisa eu tenho certeza. Acho que a grande maioria das pessoas ainda não se deu conta do tamanho da crise. Depois de quatro meses, a conta mais clara do ajuste fiscal foi uma queda real do investimento público do governo federal de R$ 10 bilhões, queda real de 35%. Se a equipe econômica cortar R$ 30 bilhões do investimento este ano em relação aos R$ 77 bilhões pagos no ano passado, isso significa uma economia de 0,6% do PIB – metade do ajuste fiscal proposto.


Mas essa formula não funciona no próximo ano, pois não será possível cortar novamente o investimento e a meta de primário é ainda maior:  2% do PIB. Assim, no próximo ano, o governo terá um novo problema. E para tonar tudo ainda mais incerto, nos cálculos que fiz hoje a receita primária de abril e do primeiro quadrimestre do ano foram ruins. O governo além de ter arrecadado menos que nos primeiros quatro meses de 2014, arrecadou menos também que no mesmo período de 2013 (o dado oficial pode mostrar um empate com a receita de 2013).



Não vejo como esse governo conseguirá entregar 2% do PIB de primário sem um grande esforço de arrecadação – leia-se aumento de carga tributária. Mas o que fazer em relação ao pacote de ajuste fiscal? Bom, se formos escutar o ex-presidente Lula, os senadores agora têm um bom motivo para rejeitar as MPs 664 e 665 enviadas ao Congresso sem um debate prévio com os trabalhadores como diz o ex-presidente Lula.



Como diria o personagem Gardelón do humorista Jô Soares na década de 80 sobre essa declaração do ex-presidente Lula que é amigo da presidente Dilma: “Amigo, Mui Amigo”.
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