terça-feira, 23 de junho de 2015

Lula e Dilma não sabem o que fazer para recuperar prestígio


Carlos Melo
Estadão



O ex-presidente Lula, herói de antanho, antigo metalúrgico e experiente político, sabe que está numa enrascada. A massa de humildes sempre foi sua força e sua proteção; o tal e suposto “dispositivo popular” do PT, por muitos anos, foi sua blindagem. “O que fazer quando Lula colocar sua massa na rua?”, perguntavam-se as tais das elites.




Mas, depois de 12 de março de 2015, quando o “exército do Stédile” não foi às ruas – ou foram uns gatos pingados, muitos às custas de “quentinhas”–, se percebeu que também Lula começou a ficar só; um tigre banguela? Em tempo de Lava Jato, o pesadelo consiste em sentir a lâmina aproximar-se do pescoço, sem defesa.  De volta à poesia de Drummond: essa “Minas não há mais”; a força mingou. 


E agora, Luís?



Hoje, o apoio ao governo do PT resume-se a algo ao redor de parcos 10%, os congressos do partido estão esvaziados; prefeitos pedem que seus diretórios municipais os expulsem como forma de se desvencilharem da legenda; os primeiros ratos sentem o cheiro do naufrágio e se retiram.



Neste contexto, Lula, o PT e Dilma sentem que precisam recuperar a massa e que necessitam de um discurso de esquerda e de abrigo social para a massa que, somente ela, poderá abrigá-los. A força da massa na rua, obrigando o recuo dos adversários, o pacto, a conciliação diante da tal “correlação de forças”. Política clássica e manjada: saída pela esquerda.



COMO FAZÊ-LO?
Mas como fazê-lo, se, ao corrigir os erros do governo e ajustar também programas e políticas públicas, retiram-se direitos, cortam-se recursos, escasseia o colchão de proteção social em que dormiram e sonharam pobres e militantes? Como sinais, são um desastre em ano pré-eleitoral: cortar pensões e o seguro desemprego, reduzir verba para educação e saúde?!?!



Como compensação, restaria o surrado discurso ideológico que, defensivo, precisa pelo menos fingir que foi ao ataque. Demonstrar que também houve aperto aos “de cima”: impostos sobre lucros e fortunas. Algo contraprodutivo, quando se quer recuperar credibilidade e investimentos, mas uma necessidade de quem precisa de, pelo menos, uma tangente retórica.



O ajuste fiscal parece ser, então, tão inevitável quanto fatal. Inevitável para o governo, fatal para o PT. Se não se faz, a economia afunda – e com ela toda a sociedade; se o faz, a sociedade que referendou a experiência petista afunda primeiro.



RETOMADA?!
Claro, o ajuste pode trazer, lá na frente, a recuperação geral, a retomada do crescimento econômico e social. Mas, seu tempo político, lento e gradual, é uma tragédia para Lula e para o PT suas centenas de prefeitos e milhares de vereadores. No longo prazo, é possível que estejamos vivos, mas nessa fórmula o PT morrerá antes. A equação contrária consistiria na hipótese de que todos morramos para que o PT sobreviva e agonize por mais tempo.



Difícil dizer. Uma canção de Lenine, cantor o homônimo do mito de tantos petistas, afirma com precisão: “ninguém faz ideia do que vem lá”. Ninguém faz. Só os charlatães arriscam palpite. Há muitas variáveis sem controle e toda essa turbulência não encontra coordenação central para contê-la. O fato é que Lula, PT e Dilma estão numa cilada lógica: um ajuste tão inevitável quanto fatal.



PEDALANDO…
Este parece ser o mundo além do jardim de Dilma, que, no  entorno de seu palácio, pedala as angústias, remoendo erros ou regurgitando os sapos que tem engolido. Busca encontrar, na bike, o equilíbrio que parece ter-lhe faltado no exercício da presidência, na eleição e no pós eleitoral; procura o movimento sincronizado e constante que perdeu nas incontáveis trapalhadas que patrocinou nesse início de segundo mandato.



Será isso mesmo, ou estará tão alheia quanto o personagem de Peter Sellers? Só a história dirá o que vem lá!

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