(Globo) Dirigentes ouvidos pelo GLOBO nesta segunda-feira, que preferiram não
se manifestar publicamente, disseram que o diagnóstico do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva sobre o governo Dilma Rousseff é certeiro,
mas o vazamento das críticas, sobretudo contra a presidente, no momento
em que ela amarga a sua pior avaliação, serve para dar munição à
oposição e aumentar o fosso entre Dilma e o partido. A interlocutores,
Lula diz que nenhuma dessas críticas é novidade para a presidente, já
que ele não esconde sua posição quando os dois se reúnem, de forma
privada, em São Paulo.
As reclamações sobre Dilma, principalmente em relação às medidas que
afetam direitos trabalhistas, são endossadas por dirigentes da sigla. No
entanto, o congresso do PT, há menos de duas semanas em Salvador,
eliminou do documento final até mesmo a expressão “ajuste fiscal”.
Para
alguns petistas, essa narrativa pode ser um ensaio de Lula para iniciar
um descolamento de Dilma. Já um dirigente diz que eles são inseparáveis
como “a corda e a caçamba”. Em outra frente, as críticas de Lula
encontraram ressonância em alas do PT que fazem esse debate interno
desde as manifestações de junho de 2013. O problema é que, na instância
do partido em que essas questões deveriam ser discutidas, Lula não foi
por esse caminho.
— Eu acho que ele está certo. Isso já vem sendo discutido
principalmente no âmbito das redes sociais, área que eu coordeno. A
militância vem criticando o excesso de burocratização e de
institucionalização do partido. Ele está vocalizando a militância. Há
crítica muito grande à acomodação dos petistas. O partido precisa
voltar-se mais para a juventude — disse um dos vice-presidentes do PT,
Alberto Cantalice.
Para o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), um dos líderes do grupo
Mensagem ao Partido, o teor da fala de Lula é o mesmo de uma carta
divulgada recentemente por 35 parlamentares, mais da metade da bancada,
que pedia a renovação da legenda, inclusive com novas eleições internas.
A carta foi rejeitada pela maioria do último congresso do PT, cuja
corrente interna mais numerosa, a Construindo um Novo Brasil (CNB), é a
de Lula.
— A gente esperava que o congresso decidisse por aí, mas decidiu por nada — reclamou o deputado.
No sábado, conforme O GLOBO revelou, Lula disse a religiosos
católicos, em um encontro no seu instituto, que é um “sacrifício”
convencer Dilma a viajar pelo país e defender o projeto petista. Ele
afirmou que, em relação à popularidade, ele e ela estão no “volume
morto”, enquanto o PT está “abaixo do volume morto”.
Lula voltou as baterias nesta segunda-feira para o PT, em uma nova
autocrítica bastante contundente. Para o ex-presidente, o partido que
fundou há 35 anos “está velho”, sem projeto e paralisado pela burocracia
porque “só pensa em cargos”. A avaliação foi feita durante debate
promovido pelo Instituto Lula, em São Paulo, com o ex-presidente de
governo espanhol Felipe González. Para o petista, o PT “perdeu um pouco a
utopia”.
O partido não reagiu diante das declarações. O presidente da legenda,
Rui Falcão, que estava no mesmo debate, não quis falar com a imprensa
na saída. Dirigentes petistas ouvidos pelo GLOBO dizem que o
ex-presidente tem mostrado insatisfação nos últimos meses tanto com a
acomodação da legenda quanto com o desempenho de Dilma no segundo
mandato. O tom, no entanto, tem subido a cada desabafo.
— Eu lembro como é que a gente acreditava nos sonhos, como a gente
chorava quando a gente mesmo falava, tal era a crença. Hoje, precisamos
construir isso, porque hoje a gente só pensa em cargo, a gente só pensa
em emprego, a gente só pensa em ser eleito, e ninguém hoje mais trabalha
de graça — disse Lula.
O ex-presidente disse estar “cansado” e falou que o partido precisa
se renovar com pessoas mais jovens e “mais ousadas, com mais coragem” — O
PT está velho. Eu, que sou a figura proeminente do PT, já estou
com 69 (anos), já estou cansado, já estou falando as mesmas coisas que
eu falava em 1980. Fico pensando se não está na hora de fazer uma
revolução neste partido, uma revolução interna — disse o ex-presidente, e
completou: — Temos que decidir se nós queremos salvar a nossa pele e os
nossos cargos, ou se queremos salvar nosso projeto.
Ao lado de González, Lula também voltou a reclamar da imprensa e acusou
veículos de “fazer oposição pelo editorial”. — Aqui no Brasil nós
reclamamos muito da mídia. A oposição é a
imprensa. Em alguns jornais, eles fazem oposição pelo editorial. Ao
invés de brigar com isso, temos de saber usar melhor a internet, as
redes sociais — disse Lula, que defendeu mais uma vez a regulação da
mídia.
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