(Estadão) O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), trabalha para nomear
um nome de seu grupo político para comandar parte dos recursos do Fundo
de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Para
conseguir ter controle sobre o fundo de investimento do FGTS (FI-FGTS),
Cunha quer promover uma dança das cadeiras na Caixa Econômica Federal,
colocando Fábio Cleto, hoje vice-presidente de Governo e Loterias, na
vice-presidência de Ativos de Terceiros. Responsável pela gestão do
FI-FGTS, essa diretoria é atualmente ocupada por Marcos Vasconcelos, que
tem apoio da presidente da Caixa, Miriam Belchior, e da presidente
Dilma Rousseff.
Três ministros disseram ao Estado, em
conversas reservadas, que Cunha usa o projeto da correção do FGTS, na
contramão dos interesses do Planalto, como moeda de troca para conseguir
mais um posto estratégico na Caixa. O presidente da Câmara nega. Cunha
patrocina a proposta que dobra a correção do FGTS - dos atuais 3% ao
ano mais Taxa Referencial (TR) para 6,17% ao ano, além da TR - nos
depósitos feitos a partir de janeiro de 2016. "Vamos votar na primeira
semana de agosto de qualquer maneira", garantiu ele ao Estado.
O
governo teme que o projeto de lei, com forte apelo popular, seja
aprovado pelo Congresso, o que encareceria os financiamentos com juros
subsidiados nas áreas de infraestrutura, habitação e saneamento. Dilma
pediu a Cunha, no último dia 6, que adiasse a votação na Câmara. A
presidente chegou a dizer a ele que, se a proposta fosse aprovada como
está, tornaria inviável a terceira etapa do programa habitacional Minha
Casa, Minha Vida.
"Não existe toma-lá, dá-cá. Tudo isso é
fofoca de quem quer me constranger", rebateu o presidente da Câmara. "Eu
não estou indicando nem Fabinho, nem Joãozinho, nem Marquinhos, nem
ninguém", insistiu. "Para manter a independência, a minha posição é
incompatível com essas indicações." O projeto é assinado
pelos deputados Paulo Pereira da Silva (SD-SP), da Força Sindical, e
pelos líderes das bancadas do DEM, Mendonça Filho (PE), e do PMDB,
Leonardo Picciani (RJ).
Pelo regimento, Cunha não pode apresentar
projetos enquanto ocupar a presidência da Casa. A Caixa calcula que, se o
texto for aprovado, os interessados em financiar a casa própria vão
pagar prestação até 38% maior nos empréstimos. Cunha sempre
quis ter o controle da gestão do FI-FGTS. Seu afilhado no banco
estatal, Fábio Cleto, já participa do comitê de investimento do FI-FGTS,
mas apenas como representante da Caixa. Na última reunião do grupo -
formado por trabalhadores, empresários e indicados pelo governo -, Cleto
pediu vistas da escolha dos projetos da carteira do BNDES que receberia
R$ 10 bilhões do FI-FGTS. O gesto, na prática, atrasou a transferência
dos recursos do fundo para o banco de fomento.
Os maiores
grupos de infraestrutura do País procuram o fundo como única fonte de
recursos neste momento em que até mesmo o BNDES pôs o pé no freio dos
desembolsos. Administrado pela Caixa, o FI-FGTS já tem R$ 32,8 bilhões
investidos como sócio dessas companhias ou em financiamentos.Cleto e
Vasconcelos não quiseram se pronunciar. A Caixa também não se
manifestou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário