(Estadão) A Polícia Federal afirmou em relatório à Justiça que a trama
desvendada na Pixuleco II – 18.º capítulo da Operação Lava Jato – sobre
desvios de valores a partir de contrato de consignados no Ministério do
Planejamento representa ‘práticas ilícitas que propiciaram a obtenção de
recursos espúrios para campanhas eleitorais do Partido dos
Trabalhadores’.
A PF aponta para suposto envolvimento do ex-tesoureiro do PT João
Vaccari Neto na distribuição de propinas e crava que o dinheiro também
foi usado para ‘pagamento de José Dirceu’.Ex-ministro-chefe da Casa
Civil no governo Lula, Dirceu foi preso dia 3 de agosto na primeira
Pixuleco por suspeita de corrupção e lavagem de dinheiro. Vaccari está
preso desde 15 de abril.
O esquema descoberto na segunda etapa da Pixuleco, diz a PF, permitiu
‘sem sombra de dúvidas, a corrupção de agentes públicos’. No âmbito do
Ministério do Planejamento a identificação de servidores envolvidos
depende dos resultados das buscas realizadas nesta quinta-feira, 13, em
dez endereços de São Paulo, Porto Alegre, Curitiba e Brasília –
incluindo quatro escritórios de advocacia, dois deles na capital
paranaense.
A PF sustenta que ‘é inequívoca’ a conclusão de que o lobista
Alexandre Romano, preso na Pixuleco II, precedeu outro lobista e também
pagador de propinas Milton Pascowitch, que fez delação premiada e
mergulhou Dirceu no esquema de propinas da Lava Jato.
Na representação à Justiça Federal, por meio da qual pede autorização
para desencadear a Pixuleco II, a PF cita a empresa Consist Sotware,
por meio da qual teriam saído repasses inclusive para Vaccari, Dirceu e o
PT. “É igualmente justo concluir que Alexandre Romano trabalhou,
considerando que continua recebendo recursos da Consist, é possível que
tenha trabalhado até recentemente com João Vaccari Neto.
Desta forma, além de propiciar à Consist vantajosos contratos firmados com entidades privadas -à exceção de bancos públicos -indissociavelmente ligados a prestação de serviços que envolviam a gestão de dados de servidores públicos federais, Alexandre Romano passou a cobrar, da Consist, uma espécie de ‘taxa de manutenção dos contratos’, sem que houvesse, na verdade, qualquer prestação de serviços.”
Desta forma, além de propiciar à Consist vantajosos contratos firmados com entidades privadas -à exceção de bancos públicos -indissociavelmente ligados a prestação de serviços que envolviam a gestão de dados de servidores públicos federais, Alexandre Romano passou a cobrar, da Consist, uma espécie de ‘taxa de manutenção dos contratos’, sem que houvesse, na verdade, qualquer prestação de serviços.”
Essa ‘taxa’, segundo a PF, passou a ser paga à Jamp Engenheiros,de
Pascowitch, ‘sem prejuízo da remuneração que continuou a ser paga a
Romano’. “Esta taxa, na realidade, nada mais era do que a destinação de
recursos ao Partido dos Trabalhadores e outros agentes públicos ainda
não identificados”, afirma o relatório da PF.
“Sob este aspecto, aliás, o deferimento da presente medida (buscas)
apresenta especial relevância, sobretudo para se apurar os demais
beneficiários dos recursos pagos pela Consist, pois é plausível que José
Dirceu, dentre outros, também tenha recebido através das empresas
vinculadas direta ou indiretamente a Alexandre Romano, assim como
agentes públicos com poder decisório no âmbito do Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão que oportunizaram a celebração do
Acordo e, indiretamente, possibilitaram a celebração dos contratos da
Consist com a ABBC e o SINAPP.”
Nos trechos em que cita João Vaccari Neto, a PF assinalou. “É
igualmente justo concluir que Alexandre Romano trabalhou, e considerando
que continua recebendo recursos da Consist, é possível que tenha
trabalhado até recentemente com João Vaccari Neto.”
A PF transcreve trechos da delação premiada do lobista e pagador de
propinas Milton Pascowitch, que cumpre prisão em regime domiciliar.
“Conforme relato de Milton Pascowitch, Romano teria servido como um
operador de João Vaccari e do Partido dos Trabalhadores junto à
Consist.
"Segundo a representação da PF à Justiça Federal ‘a atuação de Romano
junto à Consist foi confirmada pelo próprio diretor da empresa e
demonstrada por meio das notas fiscais ideologicamente falsas
apresentadas em sede policial’.
“Frise-se que o colaborador Milton Pascowitch já havia indicado Alexandre Romano como operador do PT junto à Consist, e que cabia a Romano repassar a João Vaccari valores devidos pela Consist pagos em razão de contratos que mantinham com o governo.” Segundo o relatório da PF, no curso da Operação Lava Jato foi apurado o envolvimento da empresa Consist Software – outra razão social: SWR Informática Ltda – -”em esquema de pagamento de vantagens indevidas operacionalizado por Milton Pascowitch e seu irmão José Adolfo Pascowitch e destinadas ao Partido dos Trabalhadores por meio de João Vaccari”.
O próprio Pascowitch já havia falado da existência ‘de terceiro que o
antecedeu como operador no recebimento das vantagens indevidas pagas
pela Consist direcionadas a João Vaccari e, por conseguinte, ao Partido
dos Trabalhadores por conta de ‘crédito’ que o PT possuía junto à
Consis”
No Termo de Declarações número 19 de Pascowitch foi registrado pela
PF. “Que o declarante, em determinada oportunidade, recebeu uma ligação
de João Vaccari, que gostaria de falar com o declarante; Que marcaram
uma conversa na sede do Partido dos Trabalhadores em São Paulo; que
Vaccari então relatou ao declarante que o Partido possuía um crédito
junto a uma empresa e que vinha apresentando problemas com um
intermediário anterior de nome Eduardo Romano.”
A PF acredita que Vaccari indicou o telefone de um dos executivos da
empresa Consist Software, o diretor jurídico Valter. “Foi realizada uma
reunião entre o declarante (Pascowitch), seu irmão José Adolfo e, também
Valter (jurídico da Consist), quando, a partir da atividade comercial
da Jamp Engenheiros, de Adolfo e Valter, foi decidido que formalizariam
um contrato com o escopo de contatos comerciais entre a Jamp e a Consist
para aquisição de um software de gerenciamento de empréstimos na
modalidade de crédito consignado.”
Segundo Pascowitch não houve qualquer prestação de serviços referente
ao contrato. “Os valores do contrato foram ‘acertados’ entre o
declarante e Valter. O contrato tinha um valor global estimado de
aproximadamente R$ 12 milhões, em pagamentos mensais.
Pascowitch disse que, ‘ao que se recorda’ os valores de faturamento
eram informados mensalmente por e-mail por Valter para seu irmão José
Adolfo para a emissão de notas fiscais. No total foram faturados
aproximadamente R$ 15 milhões referentes ao contrato, destaca a PF,
amparada no relato de Pascowitch. Desse montante eram descontados 20% a título de tributos, 15% eram
retidos na Jamp Engenheiros e o restante destinado a João Vaccari.
“Os valores eram entregues pelo declarante (Pascowitch) na sede do PT
em SÃO PAULO, diretamente para João Vaccari”, registrou Pascowitch em
sua delação premiada. “Que os recebimentos começaram em 2011 e seguiram
até outubro de 2014; que os contatos com João Vaccari eram sempre
realizados por telefone, para o celular do declarante; que João Vaccari
ligava para o declarante tanto do telefone fixo do Partido dos
Trabalhadores quanto de seu telefone celular; Que não sabe dizer a que
título se referiam os pagamentos, mas sabe que a Consist integrava um
grupo de empresas e que os valores eram pagos em razão de contratos que
mantinham com o governo; que tem conhecimento de que a empresa
contratante Consist Software não era a empresa principal do grupo; Que
não sabe dizer quais contratos a empresa mantem ou mantinha com o
governo;”
A PF destaca: “Percebe-se, portanto, que Milton Pascowitch já mencionara em sua colaboração a existência de outro operador no esquema de corrupção envolvendo a Consist Software e João Vaccari, o qual teria sido substituído pelo colaborador por conta de desentendimentos com Vaccari.”
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