O
site da revista Vila Nova publicou um excelente texto analítico sobre a
estratégia revolucionária comunista na América Latina coordenada pelo
Foro de São Paulo e o papel do Brasil sob o governo do PT. O texto é de
autoria de de Rodrigo Sias, mestre em economia pelo IE-UFRJ.
Faço
a postagem da parte inicial desse trabalho com link ao final para
leitura completa. Vale a pena ler para entender diversos aspectos da
atualidade política brasileira e latino-americana que, em certos casos
podem parecer até mesmo esquisitos e sem sentido para os menos avisados.
Ainda que o artigo tenha sido publicado em julho de 2014 e portanto não
contemple os últimos acontecimentos no Brasil consubstanciados nas
recentes manifestações de massa contra o governo do PT, mesmo assim
ainda possui validade analítica no que respeita à arquitetura
revolucionária comunista no continente sul-americano. Leiam:
Desde o
fim dos anos 1990, a América Latina vem passando por uma “onda” de
governos de esquerda, considerados mais radicais ou mais moderados,
conforme avaliação de suas políticas e discursos. Por muito tempo, o
governo brasileiro foi considerado moderado e umplayer confiável para
estabilizar a região. Em suma, um modelo de “pragmatismo” a ser seguido.
Com os
últimos eventos na Venezuela e o decidido apoio brasileiro à Maduro, no
entanto, os principais analistas da mídia brasileira mostram-se
confusos. Com Dilma, o Brasil teria dado uma guinada ainda mais à
esquerda? Os afagos a Cuba teriam quais motivações?
Em toda
parte, há enorme grau de insatisfação com a atual política externa
brasileira. Dilma é cobrada a se pronunciar sobre a violação dos
direitos humanos pelo governo de Caracas e atuar como mediadora do
conflito, o qual já fez mais de três dezenas de mortes e uma centena de
prisões. Empresários reclamam do Mercosul (e sua intensa ideologização) e
do imobilismo da política comercial em costurar acordos bilaterais com
outros parceiros.
Enquanto isso, o caso de espionagem dos EUA foi
tratado de forma histérica com discursos tipicamente antiamericanos
atrapalhando toda a agenda bilateral existente. Para aqueles que se
surpreendem pelos posicionamentos do Brasil, é bom lembrar: há muito
tempo nossa política externa saiu das mãos do Itamaraty para ser gerida
pelo Foro de São Paulo[1].
A crise na Venezuela apenas está explicitando novamente qual o papel do Brasil na região e dentro da estratégia do Foro.
A Dialética do Foro e o sentido socialista da história
O
principal fator a ser observado em qualquer movimento revolucionário é a
existência de duas faces: uma face visível e pública e outra
clandestina ou discreta – onde fica o cérebro e o comando da operação. A
parte visível faz a militância, promove a guerra cultural, proclama
sentimentos nobres e posa de moderada enquanto defende e acoberta as
ações da parte discreta, através da mobilização de meios legais,
diplomáticos, jornalísticos.
“Radicais” e “moderados”: todos “companheiros” por uma mesma distopia socialista.
Há
também sempre uma facção radical e histriônica que chama a atenção e
desvia o foco, enquanto a facção considerada mais pragmática viabiliza
as verdadeiras ações decisivas no processo de conquista do poder.
Dentro
deste panorama, a tradicional divisão entre os grupos de esquerda
“moderados” e os grupos “radicais” é apenas estratégica e artificial,
pois a falsa dissidência radical atua em unidade com os “moderados”.
Essas divisões dentro da esquerda revolucionária – “público x discreto” e
“moderados x radicais” – apenas provam sua vitalidade e multiplicam sua
capacidade para ataques “desconexos” e “contraditórios”, os quais
deixam os adversários paralisados ou os induz a reações que reforçam a
própria esquerda, em um de seus pólos.
No
entendimento marxista, a história é dialética e movida por contradições.
Portanto, a tarefa da vanguarda revolucionária é estimular as
contradições para acelerar o “sentido da história”[2]. Por essa razão, a esquerda acaba dividindo-se em pólos “opostos”, mas que atuam em conjunto.
Com
esses conceitos, pode-se entender o papel desempenhado pelos países e
seus governos esquerdistas no âmbito geral da cooperação dentro do Foro
de São Paulo.
A Cuba
castrista é o símbolo ideológico e a unidade de inteligência estratégica
do Foro.
A Venezuela e a Argentina, cujos governos são fanfarrões e
radicais, podem ser consideradas “pontas de lança” do processo,
auxiliadas por satélites como Bolívia e Equador. Nesses países, o
estágio de socialismo é avançado, com as instituições totalmente
aparelhadas, economia subjugada pela burocracia estatal e um clima de
controle social ostensivo, seja através da repressão governamental, seja
através da ameaça de grupos pró-governo.
Já o
Brasil é o verdadeiro quartel-general da revolução latino-americana,
dando cobertura para o avanço socialista no resto do continente. Ao
nosso país cabe o papel de fornecedor de recursos – o “prestígio” e o
peso econômico – para guarnecer a tomada de poder em outros lugares. É a
face discreta e moderada do movimento.
Essa
divisão de trabalho implica na diversidade de “experiências
socialistas”, que terão velocidades distintas dependendo da situação de
cada nação. Porém, todas essas experiências apontam na mesma direção e
nos mesmos objetivos: agem em unidade rumo à concentração de poder
progressiva nas mãos dos revolucionários.
Como as
ações do Foro e de seus membros são dialéticas e na base da
duplicidade, os grandes lances estratégicos e a radicalização dos
processos socializantes se dão fora do QG central – o Brasil -, mas
contam com sua complacência e cobertura. Clique AQUI para ler o artigo completo. Vale a pena.
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