As últimas manobras de Dilma apenas confirmam que ela é incapaz de mudar
a rota que levou o país à grave situação em que se encontra. Ela
insiste nos mesmos erros, que, diz o Estado, "estão na raiz de seu
enorme desprestígio popular":
O vice-presidente Michel Temer tem razão. Será difícil o governo
resistir três anos e meio com o insignificante apoio de 7% da população,
índice com viés de baixa. Mas Dilma Rousseff insiste nos mesmos erros
que estão na raiz de seu enorme desprestígio popular. Continua tentando
obstinadamente tapar o sol com a peneira quando se trata da grave crise
econômica do País. Só consegue com isso agravar seu déficit de
credibilidade, que despencou a partir da constatação de que ela havia
mentido na campanha eleitoral, quando acusou os adversários de estarem
dispostos a adotar, para o combate à crise, as medidas impopulares que
ela própria passou a defender, simbolizadas pela surpreendente nomeação
de um ministro da Fazenda “liberal” disposto a fazer austeros cortes de
despesas para botar em ordem as contas do governo. Para sair do sufoco
Dilma tem tentado de tudo, menos ser sincera.
A encenação com a qual a presidente pretendeu acabar com as
especulações a respeito da permanência de Joaquim Levy foi apenas mais
uma tentativa desastrada de disfarçar o conflito que existe no seio do
governo – principalmente no Palácio do Planalto – envolvendo a natureza
da crise econômica e o plano de ação para combatê-la. Esse conflito se
tornou mais agudo nas últimas semanas por causa da proposta de Orçamento
da União para 2016 que precisava ser apresentada ao Congresso até o fim
de agosto.
Contra a opinião de Levy, que queria apresentar um orçamento
equilibrado que exigiria cortes profundos de despesas, Dilma optou, com o
apoio dos ministros com os quais tem afinidades, por uma peça
deficitária em mais de R$ 30 bilhões. A clara intenção por detrás dessa
iniciativa inédita de confessar que o governo não tem como pagar suas
contas era forçar o Congresso a dividir com o Executivo a tarefa – e a
responsabilidade – de descascar o abacaxi. Não colou, é claro, porque as
velhas raposas que comandam as duas Casas do Parlamento imediatamente
acusaram o golpe e Dilma se viu constrangida a declarar que não iria
fugir da sua obrigação de resolver o problema.
A essa altura, depois de ter sido reiteradamente voto vencido,
inclusive na infeliz ideia de ressuscitar a famigerada CPMF – quando não
foi nem consultado –, a boataria corria solta e Levy já se via
arrumando as malas. Assustada com a previsão de que eventual renúncia do
ministro da Fazenda poderia deixar os petistas muito felizes, mas
agravaria a repercussão da crise dentro e fora do País, Dilma ouviu a
recomendação de cautela que lhe fez o presidente do Bradesco, que até
então era o homem que maior influência exercia na formulação e na
conduta da política econômica, pois não apenas recusara o cargo de
ministro da Fazenda, mas para ele indicara o atual ministro. Depois de
nova conversa com o presidente do Bradesco – que de pessoa mais
influente passou naquele momento à condição de homem mais poderoso do
País na condução da política econômica –, Dilma colocou na mesma sala
Levy, Nelson Barbosa e Aloizio Mercadante. Ordenou que só saíssem de lá
para anunciar que o titular da Fazenda é que estava com a razão e que o
governo continua empenhadíssimo em cumprir a meta de superávit primário
de 0,7% do PIB que ele propõe. Quer dizer: essa coisa de orçamento
deficitário estava sendo muito mal interpretada por todo mundo.
Para fechar com chave de ouro mais esse episódio do vai e volta do
orçamento e da operação “salva Levy”, Dilma designou o ministro Aloizio
Mercadante para falar à imprensa. Com a arrogância e a prepotência
habituais, Mercadante atirou contra quem ousasse imaginar que Levy
sairia do governo: “Evidente que fica!”. E explicou, sem corar: “Há
total unidade da equipe em relação a que nós precisamos continuar o
esforço de cortar gastos, especialmente as despesas obrigatórias”. E
destilou vitríolo: “Num momento de instabilidade, há uma aliança entre
os mal informados e os mal-intencionados, gente especulando e tentando
ganhar dinheiro com a turbulência”.
Enquanto isso, alheio às preocupações da presidente da República, o
presidente do PT, Rui Falcão, dedica-se a convocar a militância do
partido e de todas as entidades e organizações sócias “progressistas” –
quer dizer, as que apoiam o PT – para debater, na próxima sexta-feira, a
proposta de uma “nova política econômica”.
Assim, não há o menor risco de o Brasil sair do buraco em que o lulopetismo o meteu.
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