14/10/2015
às 3:19Ou: Presidente é estrela de encontro que grita “Fora, Levy!”
O
Brasil tem uma presidente da República que, durante o dia, tem de se
pendurar em absurdas liminares do Supremo, fingindo decoroso respeito à
lei, e, à noite, põe um casaquinho vermelho e deita falação em congresso
da CUT, chamando a oposição de golpista, convocado trabalhadores para a
resistência — sem dizer exatamente o que isso significa — e acusando o
falso moralismo dos adversários, que, segundo ela, não têm moral para
derrubá-la.
Quem
estimulou Dilma a tamanha arrogância? Quem deu a Dilma a certeza de que
ela pode desafiar, com esse desassombro, o que vai na Constituição e nas
leis, que prescrevem a impeachment em caso de crime de responsabilidade
— e, obviamente, não é ela a dar a palavra final?
Ora, quem a
estimulou ao desatino foi, claro!, o Supremo, com uma decisão
francamente incompreensível, que cassou da Câmara o direito de aplicar o
seu Regimento Interno. Ayres Britto, ex-ministro do Supremo, ao opinar
nesta terça falou, com a devida vênia, uma bobagem da obviedade: lembrou
que a presidente só pode ser afastada com o apoio de dois terços da
Câmara e só pode ser cassada com o apoio de dois terços do Senado.
Mas isso é
evidente! Ora, caso Eduardo Cunha recusasse a denúncia da oposição e
caso um deputado recorresse ao plenário, não se estaria afastando a
presidente ainda, mas apenas, se conseguidos os votos, instalando a
comissão especial. NENHUM JURISTA NESTE PAÍS SERIA CAPAZ DE DIZER QUE
PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL ESTAVA SENDO VIOLADO PARA QUE O SUPREMO TIVESSE
DE SAIR EM SOCORRO DE DILMA.
Que fique
claro mais uma vez! Cunha conserva, sim, o seu poder de aceitar um
pedido de impeachment. E fim de papo. Isso não foi alterado. Age bem a
oposição (ver post) quando decide apresentar uma nova denúncia,
incluindo nos motivos do impeachment as pedaladas de 2015 — antes que o
Supremo resolva optar, mais uma vez, por exotismos.
Dilma, nesta
terça, perdeu a tramontana num Congresso da CUT. Demonstrou que esse é
um governo que padece de uma síndrome muito dolorosa: chama-se “SARR”:
Síndrome da Arrogância Reprimida pela Realidade. A presidente adoraria
dar soco na mesa. Mas com que poder? Bastaram três liminares do Supremo
para que a mulher, na presença de Lula, chegasse à beira de pedir a luta
armada.
A seu lado
estava Lula, aquele que decidiu, de novo, ser seu tutor, embora,
intimamente, adorasse vê-la pelas costas. Ele não teve dúvida:
comportou-se como o chefe político da presidente e mandou brasa,
discursando quando ela não estava mais presente:
“Deixamos de ter apenas uma presidenta para termos uma líder política do Brasil. Dilminha veio para cá outra Dilma. Ela veio dizendo a todos: ‘Eu sei de onde vim e para onde vou’ [...] ‘Não se enganem aqueles que pensam que virei uma mulher apenas preocupada com o mercado’, porque o mercado não votou nela. Quem votou nela foi a peãozada”.
Os cutistas presentes urraram de satisfação.
E ele foi além. Chamando às falas o ministro Miguel Rossetto, afirmou, informa a Folha:
“O que Dilma tem de saber é que este país não pode ouvir falar em corte
mais uma semana ou um mês. Ele tem de ouvir falar em crescimento e
emprego”.
Por incrível
que pareça, Lula reconhece o estelionato eleitoral de sua sucessora,
embora conserve a delinquência política característica de seu partido ao
atribuir maldades a adversários: “Nós ganhamos a eleição com um
discurso, e os nossos adversários perderam com um discurso. A impressão
que nós estamos passando aqui é que nós estamos com o discurso de quem
perdeu e eles adotaram o nosso”.
E foi
adiante: “Não é aquele discurso que parece o Aécio falando, que parece
que o Serra falando, não é aquele discurso para parecer que o Bradesco
ou o Itaú estão felizes. Não fomos eleitos para isso”.
E a plateia gritou “Fora, Levy”
Assim, meus
caros, a presidente que pretende ficar mais três anos e dois meses no
poder foi a estrela de um evento no qual bateu no peito, arrotou
arrogância e se disse a mais moral dos morais. Esse mesmo evento teve
como um de seus pontos altos o “Fora, Levy”, que é, a rigor, a única
âncora que sobra à governanta.
E depois alguns bananas pretendem que o Brasil recupere a confiança.
Estamos sendo governados por um bando de incompetentes, por um bando de trapalhões, por um bando de irresponsáveis.
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