Reinaldo Azevedo
14/10/2015
às 3:57
A
presidente Dilma Rousseff resolveu vestir seu casaquinho vermelho e ir à
luta. Horas depois de Lula admitir, num congresso de pequenos
agricultores, que ela praticou, sim, pedaladas fiscais, ela própria, na
abertura do 12º Congresso da CUT, admitiu o crime, oferecendo a mesma
justificativa dada pelo ex-presidente. Foi para manter programas
sociais.
Só tomou o cuidado de dizer que outros
governos o fizeram antes dela, o que o TCU já constatou não ser verdade
no volume, na frequência e na determinação. A presidente transformou a
pedalada num jeito de governar. Tanto é assim que a prática se repete em
2015.
Sentindo-se certamente estimulada por uma
plateia inteiramente a favor, chamou a oposição de “golpista” e me
parece ter estimulado, se necessário, o confronto de rua: “Nenhum
trabalhador pode baixar a guarda; é preciso defender a legalidade”.
Claro que é preciso defender a
legalidade, que está com aqueles que reconhecem que o impeachment está
previsto na Constituição e na Lei 1.079. Dilma abusou da retórica
incendiária:
“A sociedade brasileira conhece os chamados moralistas sem moral. E conhece porque o meu governo e o governo do presidente Lula proporcionou o mais enfático combate à corrupção de nossa história. Eu insurjo contra o golpismo. Quem tem força moral, reputação ilibada e biografia limpa, para atacar a minha honra?”.
No governo de Lula, veio à luz, à revelia
do governo, o mensalão — e lá estavam figuras de proa da República e do
Partido dos Trabalhadores. No governo Dilma, veio à luz, à revelia do
governo, o petrolão — e lá estavam figuras de proa da República e do
Partido dos Trabalhadores. Há personagens comuns aos dois escândalos.
Eis os governos que, segundo Dilma, mais combateram a corrupção.
Esta senhora foi presidente do Conselho
da Petrobras no momento em que a então maior empresa brasileira havia se
transformado num lupanar. E ela vem se orgulhar de quê? Esta senhora
foi presidente da República e, antes, ministra de Minas e Energia e
depois da Casa Civil, quando uma quadrilha passou a comandar a estatal, e
ela vem arrotar a sua superioridade moral sobre os outros? Por quê?
Já escrevi a respeito. Sempre acho
engraçado quando esquerdistas atacam o que chamam “moralismo”. No mais
das vezes, eles não se conformam mesmo é com a existência de uma moral
que não esteja subordinada à conveniência. Porque, afinal de contas,
essa é a moral deles. Um esquerdista fará qualquer coisa para ver
triunfar o ponto de vista do ente ao qual ele serve — se preciso, mata
sem pestanejar. Por isso o comunismo matou uns 150 milhões no século
passado. Não fazer a vontade do partido ou não servir às suas
necessidades é considerado “moralismo”.
Quem deu a Dilma tamanho destemor? Quem
deu a Dilma tamanha coragem? Quem deu a Dilma essa língua muito maior do
que a certeza que ela tem de que vai continuar no cargo? Ora, foram
dois ministros do STF: Teori Zavascki e Rosa Weber. Concederam liminares
contra a tramitação que havia sido indicada por Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), presidente da Câmara, caso ele venha a rejeitar a denúncia.
Que fique claro: se ele aceitar e mandar instalar a comissão especial, a
decisão estará tomada, e não há Supremo que possa impedi-lo. A menos
que saltem de lá homens armados até os dentes para impor a sua vontade a
ferro e fogo.
Ainda referindo-se à oposição, afirmou:
“Na busca incessante de encurtar o seu caminho ao poder, tentam dar um golpe. Querem construir de forma artificial o impedimento de um governo eleito pelo voto direto. Jogam sem nenhum pudor no quanto pior, melhor. Pior para a população e melhor para eles.”
“Na busca incessante de encurtar o seu caminho ao poder, tentam dar um golpe. Querem construir de forma artificial o impedimento de um governo eleito pelo voto direto. Jogam sem nenhum pudor no quanto pior, melhor. Pior para a população e melhor para eles.”
É asqueroso, não? Então um governo
cercado de corruptos por todos os lados é mesmo um primor de amor pelo
povo, mas aqueles que o combatem estão a serviço de seus próprios
interesses?
Dilma, aquela que faz rigorosamente o
contrário do que prometeu; Dilma, aquela que não pode sair às ruas
porque o povo não lhe perdoa o estelionato eleitoral; essa mesma senhora
teve a ousadia de afirmar o seguinte sobre seus adversários:
“O interessante é que eles votam contra medidas que eles próprios aprovaram no passado”.
Até parecia que ali não estava a presidente que aplicava medidas que, no passado, ela própria disse que jamais aplicaria.
Para encerrar: dizer isso na CUT é coisa para covardes. Gostaria de ver Dilma fazendo esse discurso na Avenida Paulista!
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