Gilda de Castro
O Tempo
Sebastian Brant publicou, em 1494, “A Nau dos Insensatos”, uma história de 112 loucos que iam para Narragônia, um reino da loucura. Muitas outras obras receberam depois esse título. Um filme de Stanley Kramer, por exemplo, mostrou, em 1965, um grupo com atitudes insanas durante uma viagem entre o México e a Alemanha antes do nazismo.
É possível usar agora o mesmo rótulo para analisar a relação entre economia capitalista, grande população compelida ao consumo desenfreado e os recursos naturais do planeta, porque essa equação não será sustentável por muito tempo se não houver revisão do tratamento conferido ao ambiente.
A acumulação patrimonial integra a Revolução Agrícola, que ocorreu entre 10 mil e 12 mil anos atrás, determinando sedentarismo e criando o conceito de propriedade privada. Ela mobilizou homens vigorosos para a estocagem de víveres e delimitação de territórios, oprimindo outros homens e povos. Isso atingiu um ponto extraordinário, no século XVIII, com a Revolução Industrial, que implicava a produção em grande escala de muitos itens para a população que se fixou nas cidades.
Todos foram compelidos à adoção de novos padrões culturais, fomentando o novo sistema produtivo, enquanto trabalhadores e consumidores de bens além de suas necessidades básicas.
Criou-se, assim, o binômio mercado insaciável x produção em grande escala, sem considerar a finitude dos recursos naturais. Ou seja, não se questionou, até o fim do século XX, a sustentabilidade desse procedimento no planeta. Buscou-se, pelo contrário, explorar todas as fontes de matéria-prima com drástica intervenção em inúmeros ecossistemas.
FELICIDADE IRREAL
Surgiram novos conceitos sobre conforto, beleza e felicidade mediante adoção de automóveis, asfalto, plástico e outros produtos alheios à simples subsistência, com intensa substituição de objetos obsoletos por outros mais modernos. Não importavam a geração de lixo e a inutilidade do produto, principalmente quando ele se tornava símbolo de poder, riqueza e prestígio.
A conscientização de que a devastação ambiental pode comprometer nossa sobrevivência ocorreu há poucos anos e ficou restrita a algumas pessoas; poucas ações foram implementadas, justamente para não bloquear o dinamismo econômico nem rever os conceitos sobre desenvolvimento e modernidade. Ficamos, pelo contrário, dependentes da comunicação em tempo real e aplaudimos o uso egoísta de qualquer instrumento.
Os desastres climáticos, a redução de água potável, a contaminação do solo, a extinção de muitas espécies vegetais e animais e as novas enfermidades indicam que haverá brevemente esgotamento da natureza. Estamos, portanto, pavimentando o caminho para a tragédia, pois não haverá uma tecnologia que possa deter essa fúria contra a exploração desenfreada.
A Terra não terá complacência por quem acredita que o banquete nunca terá fim, e seremos todos engolidos pelo mesmo processo destruidor decorrente dessa orgia.
O Tempo
Sebastian Brant publicou, em 1494, “A Nau dos Insensatos”, uma história de 112 loucos que iam para Narragônia, um reino da loucura. Muitas outras obras receberam depois esse título. Um filme de Stanley Kramer, por exemplo, mostrou, em 1965, um grupo com atitudes insanas durante uma viagem entre o México e a Alemanha antes do nazismo.
É possível usar agora o mesmo rótulo para analisar a relação entre economia capitalista, grande população compelida ao consumo desenfreado e os recursos naturais do planeta, porque essa equação não será sustentável por muito tempo se não houver revisão do tratamento conferido ao ambiente.
A acumulação patrimonial integra a Revolução Agrícola, que ocorreu entre 10 mil e 12 mil anos atrás, determinando sedentarismo e criando o conceito de propriedade privada. Ela mobilizou homens vigorosos para a estocagem de víveres e delimitação de territórios, oprimindo outros homens e povos. Isso atingiu um ponto extraordinário, no século XVIII, com a Revolução Industrial, que implicava a produção em grande escala de muitos itens para a população que se fixou nas cidades.
Todos foram compelidos à adoção de novos padrões culturais, fomentando o novo sistema produtivo, enquanto trabalhadores e consumidores de bens além de suas necessidades básicas.
Criou-se, assim, o binômio mercado insaciável x produção em grande escala, sem considerar a finitude dos recursos naturais. Ou seja, não se questionou, até o fim do século XX, a sustentabilidade desse procedimento no planeta. Buscou-se, pelo contrário, explorar todas as fontes de matéria-prima com drástica intervenção em inúmeros ecossistemas.
FELICIDADE IRREAL
Surgiram novos conceitos sobre conforto, beleza e felicidade mediante adoção de automóveis, asfalto, plástico e outros produtos alheios à simples subsistência, com intensa substituição de objetos obsoletos por outros mais modernos. Não importavam a geração de lixo e a inutilidade do produto, principalmente quando ele se tornava símbolo de poder, riqueza e prestígio.
A conscientização de que a devastação ambiental pode comprometer nossa sobrevivência ocorreu há poucos anos e ficou restrita a algumas pessoas; poucas ações foram implementadas, justamente para não bloquear o dinamismo econômico nem rever os conceitos sobre desenvolvimento e modernidade. Ficamos, pelo contrário, dependentes da comunicação em tempo real e aplaudimos o uso egoísta de qualquer instrumento.
Os desastres climáticos, a redução de água potável, a contaminação do solo, a extinção de muitas espécies vegetais e animais e as novas enfermidades indicam que haverá brevemente esgotamento da natureza. Estamos, portanto, pavimentando o caminho para a tragédia, pois não haverá uma tecnologia que possa deter essa fúria contra a exploração desenfreada.
A Terra não terá complacência por quem acredita que o banquete nunca terá fim, e seremos todos engolidos pelo mesmo processo destruidor decorrente dessa orgia.
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