Folha
O deputado Eduardo Cunha levou oito meses para lembrar que os milhões de dólares na Suíça eram dele. Dele, não. De um trust, que teve a generosidade de fornecer cartões de crédito para ele, a mulher e a filha gastarem à vontade. O peemedebista recuperou a memória depois que o Conselho de Ética finalmente instaurou o processo que pode cassar seu mandato.
Na sexta-feira, ele deu uma série de entrevistas que merecem ser guardadas. As respostas lembram João Alves, o deputado que dizia ter ficado rico porque ganhou várias vezes na loteria.
Ao jornal “O Globo”, Cunha disse que o que ele tem na Suíça não é dinheiro. “Dinheiro, não. São ativos, são ações, cotas de fundo.” Alguns minutos depois, os repórteres repetiram a pergunta. Em um lapso de sinceridade, o entrevistado mudou a resposta: “O dinheiro era meu”.
O peemedebista admitiu que seus bens no exterior “nunca foram declarados”. Mas a lei não manda declarar? “Se havia obrigação, ela se exauriu no tempo”, ele respondeu.
Cunha acrescentou que mantinha o patrimônio “em nome de terceiros”, que no Brasil são conhecidos como laranjas. “Não tinha laranja”, ele interveio. Mas sob que instituto fez os repasses? “Sob o instituto da confiança”, explicou.
À Folha, o peemedebista disse que seu patrimônio milionário “não é nada de mais”. O repórter Valdo Cruz perguntou por que ele recebeu 1,3 milhão de francos suíços (R$ 4,8 milhões) de um lobista do petrolão.
“Não acompanho a conta, não tenho contato com o banco”, respondeu Cunha, apesar de ter deixado cópia do passaporte por lá. “Mas entrou 1,3 milhão na sua conta e o sr. não sabe de quem?”, insistiu Cruz. “O dinheiro não é meu, não fui eu quem coloquei”, disse o deputado.
É difícil escolher a melhor desculpa de Cunha. Minha preferida é a de que ele fez fortuna vendendo carne moída para o Congo. O homem ajudou a combater a fome na África, e vocês ainda ficam aí criticando.
Nenhum comentário:
Postar um comentário