quinta-feira, 26 de julho de 2018
Mundo deve ter onda de calor a cada dois anos
Quase todo o mundo adora os dias ensolarados e gosta de reclamar quando
chove. No entanto, o céu azul e o brilho do sol do verão no Hemisfério
Norte ocultam o fato nada agradável de que, em todo o globo, as
temperaturas máximas alcançaram um nível preocupante. As consequências
são incêndios florestais, safras destruídas e a morte de muitos seres
humanos.
O ano de 2016 acusou as temperaturas mais elevadas desde as primeiras
medições. A culpa foi uma combinação do evento climático El Niño com o
aquecimento global. Embora em 2018 se vivencie o fenômeno contrário, La
Niña, que faz baixarem as temperaturas, este foi o junho mais quente já
registrado, o que indica uma onda de calor.
Tecnicamente, uma onda de calor é quando em pelo menos cinco dias
seguidos as temperaturas ultrapassam as médias em 5ºC ou mais. Dias
extremamente quentes isolados, por sua vez, não são atribuídos a uma
onda de calor ou ao aquecimento global.
Segundo a porta-voz da Organização Mundial de Meteorologia Clare Nullis,
“a tendência é continuarmos tendo ondas de calor extremas, como
consequência das mudanças climáticas”.
Para os habitantes do sul da Europa, 30 ºC no verão não são nada demais.
Para alguém do Reino Unido ou da Irlanda, em contrapartida, isso é mais
do que fora do comum, pois lá as temperaturas em junho normalmente mal
ultrapassam os 20 ºC.
Em 28 de junho de 2018, os termômetros marcaram 31,9 ºC em Glasgow, na
Escócia. Em Shannon, na Irlanda, eles chegaram aos 32 ºC, estabelecendo
um novo recorde.
Os alemães, por sua vez, já se acostumaram a mais de 30 ºC em maio e
junho, e em parte até gostam do calor. Na Geórgia, por outro lado,
mediu-se em junho o recorde absoluto de 40,5 ºC. Em Ouargla, cidade
saariana na Argélia, registraram-se incríveis 51,3 ºC.
Montreal, no Canadá, acusou no início de julho suas maiores máximas em
147 anos. A onda de calor custou a vida a mais de 70 pessoas, sobretudo
devido a problemas circulatórios; da mesma forma que a 14 no Japão, onde
mais de 2 mil tiveram que ser hospitalizadas.
Do sono a insetos
Em face do atual cenário de mudança climática global, ondas de calor
deverão ocorrer “a cada dois anos, na segunda metade do século 21″,
prediz Vladimir Kendrovski, responsável pelo departamento Mudança
Climática e Saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS).
“Nas últimas décadas, a onda de calor na Europa causou mais mortes do
que qualquer outro fenômeno meteorológico extremo”. A razão para tal é
que, sob certas condições, as temperaturas altas resultam em “smog
veranil”, agravando afecções circulatórias e respiratórias, enquanto o
pólen no ar provoca ataques de asma mais frequentes.
Incêndios florestais castigam a Suécia
O calor igualmente perturba o sono. Então, embora o corpo precise se
recuperar urgentemente do estresse adicional, não consegue fazê-lo nem
durante a noite. “Crianças pequenas e idosos são os que mais sofrem”,
explica Simone Sandholz, do Instituto Universitário de Meio Ambiente e
Segurança Humana das Nações Unidas.
A maioria das vítimas das ondas de calor “vive em cidades densamente
habitadas, com pouca ventilação”, complementa Sandholz. Segundo Nullis, a
combinação de calor e umidade revela-se especialmente fatal.
Até mesmo o cérebro deixa de funcionar devidamente, se o tempo é quente
demais, podendo perder até 10% de sua velocidade. Uma pesquisa realizada
em escolas de Nova York concluiu que, devido ao calor, 90 mil alunos
talvez tenham fracassado em exames em que normalmente passariam.
O clima quente igualmente oferece condições perfeitas à reprodução de
vespas e outros insetos agressivos. Na Inglaterra, as chamadas de
emergência devido a picadas de insetos quase duplicaram em julho.
No entanto, bem mais perigoso do que os que provocam um doloroso calombo
são os mosquitos, como potenciais transmissores de malária, dengue e
outras doenças infecciosas. Kendrovski, da OMS, está seguro da
correlação entre as mudanças climáticas e as moléstias transmitidas por
esses vetores.
Florestas e colheitas destruídas
Incêndios florestais são outra consequência do sol ardente. Só no Reino
Unido, Suécia e Rússia, 80 mil hectares de florestas foram devastados
devido a fenômenos meteorológicos extremos.
Campos cultivados também secam e até pegam fogo. No Reino Unido, os
fazendeiros estão tendo dificuldade de cobrir a demanda de verduras
frescas e ervilhas, devido às safras insuficientes ou mesmo ausentes. Em
menor escala, plantações de trigo, repolho e brócolis estão ameaçadas.
Na Alemanha, os agricultores já se acostumaram com a ideia de que a safra de cereais será muito inferior à dos anos anteriores.
“Novamente vamos ter uma colheita muito abaixo da média”, queixa-se
Joachim Rukwied, presidente da Federação dos Agricultores Alemães (DVB).
Ele revela que alguns fazendeiros consideram sequer fazer a colheita,
mas sim destruí-la logo, já que o trabalho envolvido não compensaria.
Adaptação e urbanismo
Com tais temperaturas, o acesso a condicionadores de ar e refrigeradores
parece ser um fator de grande importância. No entanto ele também tem
seu lado negativo, uma vez que a eletricidade consumida por esses
sistemas provém sobretudo de fontes fósseis. Portanto, quanto mais se
refrigera, mais se contribui para a mudança climática e mais as
temperaturas sobem, formando-se um círculo vicioso.
Em termos de combate aos efeitos da mudança do clima global, Kendrovski
ressalta que “se o sistema de saúde fosse mais bem adaptado aos sistemas
meteorológicos, seria possível evitar muitos problemas de saúde
causados pela onda de calor”.
Lançando o apelo “Não devemos subestimar o calor”, Sandholz, por sua
vez, prefere apostar no planejamento urbano: parques ou corredores de
vento poderiam minorar o efeito das altas temperaturas sobre as cidades,
defende a funcionária da ONU.
Fonte: Deutsche Welle
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