quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Valor Econômico – Militares reforçam equipe do Planalto- preservação da Amazônia considerada questão de segurança nacional.

Valor Econômico – Militares reforçam equipe do Planalto


Por Andrea Jubé e Carla Araújo | De Brasília

Maynard Marques de Santa Rosa: para o titular da SAE, ONGs "são um instrumento de ação do movimento globalista"

Ao completar duas semanas de governo, o presidente Jair Bolsonaro reforça o time de militares em sua equipe. Ontem o general da reserva Maynard Marques Santa Rosa assumiu a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Secretaria–Geral da Presidência, e o general de divisão Otávio Santana do Rêgo Barros será o porta–voz da Presidência. Rêgo Barros é ligado ao general Eduardo Villas Bôas, que deixou o comando do Exército e assumirá um cargo no Gabinete de Segurança Institucional (GSI) no Planalto.

Com Santa Rosa e Rêgo Barros, são seis os generais na cúpula do Palácio do Planalto. Os outros são Augusto Heleno, ministro do GSI, Carlos Alberto dos Santos Cruz, ministro da Secretaria de Governo e o vice–presidente Hamilton Mourão. Do time, Rêgo Barros é o único general da ativa.

Considerando–se exclusivamente o primeiro escalão, são sete ministros egressos das Forças Armadas: Fernando de Azevedo e Silva (Defesa), Tarcísio Gomes de Freitas (Infraestrutura), Bento Costa Lima (Minas e Energia), Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia), Wagner Rosário (Controladoria Geral da União), além de Heleno e Santos Cruz.

Também ontem foi nomeado o general da reserva Franklimberg Ribeiro de Freitas para a presidência da Fundação Nacional do Índio (Funai), reforçando a equipe de oficiais no segundo escalão (ver abaixo).

E o ex–comandante da Marinha, o almirante Eduardo Bacellar Leal Ferreira, foi indicado por Bolsonaro para presidir o Conselho de Administração da Petrobras.

O general Maynard Marques de Santa Rosa disse ao Valor que uma prioridade de sua gestão será o "desenvolvimento da Amazônia". Ele tem uma visão crítica sobre a atuação de Organizações Não Governamentais (ONGs) na região: "Considero que são um instrumento de ação do movimento globalista". Durante os 49 anos na ativa, ele serviu em 24 unidades militares em todo o país, incluindo dez anos na Amazônia, sendo dois deles na região de fronteira.

Ele adiantou, ainda, que vai reestruturar a secretaria para adequá–la à "agenda estratégica" do governo. Em outra frente, os generais Augusto Heleno e Santos Cruz, que têm atribuições afins em suas pastas. O GSI coordena o programa de proteção das fronteiras, enquanto a Secretaria de Governo é responsável pelo diálogo e controle das entidades do terceiro setor.

Conforme mostrou o Valor em outubro, os militares que assessoravam Bolsonaro durante a campanha resistiam à fusão do ministério da Agricultura com o Meio Ambiente justamente pela preocupação com o desmatamento na região Amazônica, considerada uma questão de "segurança nacional".

Com base em estudos climáticos realizados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), pela Universidade de São Paulo (USP) e por outras universidades, eles observam que, se o desmatamento afetar mais 7% da floresta Amazônica, o clima das regiões Centro–Oeste, Sudeste e Sul será irreversivelmente afetado.

Em 2007, Santa Rosa – então secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Defesa – afirmou em audiência pública na Comissão de Defesa e Relações Exteriores da Câmara dos Deputados que haviam 100 mil ONGs operando na Amazônia, segundo dados levantados pelos sistemas de inteligência das forças de segurança. Na ocasião, afirmou que muitas tinham interesses ocultos como tráfico de drogas, de armas, lavagem de dinheiro e até mesmo espionagem.

Em 2010, quando era chefe do Departamento Geral de Pessoal do Exército, Santa Rosa criticou em carta publicada na internet a comissão da verdade criada pelo governo Lula para investigar crimes de violação aos direitos humanos no regime militar, que chamou de "comissão da calúnia". Foi exonerado pelo então ministro da Defesa, Nelson Jobim.

O novo porta–voz, general de divisão Otávio Santana do Rêgo Barros, comanda o Centro de Comunicação Social do Exército (Ccomsex) e integra o grupo mais próximo ao general Villas Boas, que deixou o comando do Exército na semana passada e assumirá uma função no gabinete do general Augusto Heleno.

A informação de que ele assumirá o novo encargo foi confirmada ao Valor por fontes do Exército e do governo, mas até o início da noite não havia sido oficializada pelo Planalto. O Valor apurou, ainda, que ao assumir o cargo, ele deverá continuar na ativa.

Pernambucano de Recife, Rêgo Barros foi cadete da escola preparatória do Exército. Com ampla experiência nas Forças Armadas, Rêgo Barros é da turma de cavalaria em 1981 e possui um currículo de honrarias.

Ele já atuou na assessoria da Secretaria de Assuntos Estratégicos do Palácio do Planalto, onde editou o livro "Desafios Estratégicos para a Segurança e Defesa Cibernética". O general participou também dos grupos de estudos da elaboração do Livro Branco de Defesa, apresentado ao Congresso Nacional na legislatura de 2012.

No Exterior foi Assessor da Cooperação Militar Brasileira no Paraguai e Comandante do Primeiro Batalhão de Infantaria de Força de Paz do 12º Contingente, integrando a Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti.

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