“Eu odeio a classe média”, rosnou Marilena Chauí já no início da
discurseira que esquentou o debate sobre os 10 anos de governo
lulopetista. Quem leva a sério o palavrório da companheirada deve ter
imaginado que a confissão seria recebida com urros de indignação pela
plateia, que incluía o Grande Mestre e os principais sacerdotes da
seita. Se Lula anexou a pobreza à classe média, se Dilma Rousseff jura
de meia em meia hora que sonha com um país habitado exclusivamente por
gente da classe média, tamanha heresia não ficaria impune, certo?
Errado, corrigiram os aplausos entusiasmados dos ouvintes.
O amém sonoro animou a oradora a detalhar os motivos do ódio: “A
classe média é o atraso de vida”, desandou a professora de filosofia da
USP. “A classe média é estupidez. É o que tem de reacionário,
conservador, ignorante, petulante, arrogante, terrorista”. Não é pouca
coisa. Mas não era tudo. “A classe média é uma abominação política,
porque ela é fascista, uma abominação ética, porque ela é violenta, e
ela é uma abominação cognitiva, porque ela é ignorante”, foi em frente a
musa do PT.
Quem não se deixa engambelar pelos alquimistas do Planalto, que
inventaram a classe média de 500 reais por mês, sabe que os pobres e
miseráveis não sobem de categoria social por decreto. Quem não cai em
tapeações baratas soube desde sempre que a classe média abrange os que
vivem com mais conforto que os desvalidos mas nem imaginam como é vida
de rico. É o caso dos professores universitários.
O palavrório eternizado pelo vídeo, portanto, convida o Brasil que
pensa a escolher entre pelo menos quatro opções: 1) Marilena saiu da
classe média porque ficou pobre; 2) Marilena caiu fora da classe média
porque está bilionária; 3) Marilena continua na classe média e resolveu
confessar que se odeia; 4) Marilena endoidou faz tempo, tanto assim que
vive repetindo que “quando Lula fala o mundo se ilumina”.
Sempre que a bobagem é recitada pela figura que a plaqueta na mesa
qualifica de “filósofa”, a coluna trata de corrigi-la: quando o chefe
agarra um microfone, o que ocorre é algo muito mais impressionante. Os
plurais saem em desabalada carreira, a gramática se refugia na embaixada
portuguesa, a regência verbal se esconde no sótão de um casarão
abandonado, o raciocínio lógico providencia um copo de estricnina (sem
gelo) e os dicionários se apavoram com a iminência de outra selvagem
sessão de tortura.
E o que acontece quando Marilena fala? Vocês é que sabem.
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