quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Voce sabia que seu celular vem grampeado de origem? E envia tudo o que voce falou para uma central nos Estados Unidos?

Texto e Contexto André Gustavo Stumpf

Espionagem

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, afinal, de mexeu. Ele anunciou reforma no polêmico programa da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) que monitora dados telefônicos de americanos e cidadãos em todo o mundo. A partir de agora, as agências de inteligência serão obrigadas a solicitar permissão a um tribunal secreto antes de ter acesso às informações.
A medida tem como objetivo restaurar a confiança nas práticas de inteligência dos Estados Unidos. Foi divulgada após revisão do programa depois das revelações feitas pelo ex-prestador de serviço da NSA Edward Snowden. É uma ação política. Obama precisa restabelecer na plenitude as relações com os alemães, que não gostaram de ser espionados. Os brasileiros foram mais longe: esnobaram a Boeing e compraram os novos caças para vigilância do país da sueca SAAB, os Gripen NG.

Tremendo prejuízo

Isso significa que a espionagem ocasionou problemas diplomáticos e financeiros. A Boeing investiu muito no Brasil na expectativa de ter seu caça F-18 escolhido durante a viagem de estado que a presidente Dilma Rousseff faria a Washington. A viagem não ocorreu e a compra não aconteceu. Tremendo prejuízo. Os suecos, mais discretos, venceram por que seu principal oponente perdeu. A Embraer também perdeu porque ficou distante a chance de a Força Aérea dos Estados Unidos adquirir aviões Tucano T-27 para treinamento.

O governo dos Estados Unidos não vai deixar de espionar. Ele dispõe dos equipamentos mais sofisticados para trabalhar o assunto. A medida anunciada por Obama recobre de legalidade uma atividade contestada inclusive dentro dos Estados Unidos. A NSA é voltada para o exterior, mas impossível evitar que ela siga os passos de cidadãos norte-americanos dentro e fora do país. 

Importante é que ele se comprometeu a não investigar países aliados. É uma promessa.

Corre no Senado a CPI da Espionagem que, apesar de todos os problemas, consegue caminhar. Neste setor nada é comprovado. Ninguém assume o que diz, mas todos sopram algumas verdades curiosas. Brasília e Berlim são duas cidades que ostentam o mesmo status. Brasília é o centro de coleta de matéria do Brasil e dos países vizinhos. Berlim faz o mesmo papel na Europa. É o centro do continente. Mas Angela Merkel recebeu desculpas de Barack Obama. Para Dilma Rousseff, nenhum gesto foi sequer encenado.

O fato é que o celular utilizado pelo distinto leitor já é fabricado com características especiais. Ele é programado para enviar cópia de tudo que produz para uma central nos Estados Unidos. Vem grampeado de origem. Celulares mesmo desligados e sem bateria são capazes de transmitir. E agora os norte-americanos conseguiram desenvolver equipamentos capazes de atingir computadores que não estão conectados a uma rede. Há algum tempo, esses equipamentos fizeram sua estréia no sistema cibernético do Irã. Os diabólicos aparelhos desorganizaram os computadores e atrasaram muito a construção de um reator nuclear.

A CPI criada por solicitação da senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) faz o possível. Já se reuniu 13 vezes e procurar trabalhar em paralelo aos esforços do Parlamento Europeu. Lá a espionagem norte-americana provocou reações irritadas. O governo dos Estados Unidos utiliza computadores velocíssimos que conseguem decodificar qualquer senha, chave ou enigma. E mais, eles arquivam tudo o que se fala ou escreve em qualquer parte do mundo. Ou seja, além de pecar por falar demais, o indivíduo ainda corre o risco de ser acusado pelo que disse. Os europeus estão furiosos.

Os membros da CPI olharam para a situação da inteligência no Brasil. Os norte-americanos passeiam por aqui sem inibições. Nada os constrange. A NSA grampeia cabos submarinos, intercepta comunicações via satélite, ataca diretamente dispositivos de redes. A maior parte dos equipamentos já vem com a capacidade de vigilância instaladas de fábrica. Basta ativar os dispositivos. O exemplo do que aconteceu no Irã é grave alerta para o Brasil. Os computadores podem modificar e até destruir algum projeto de interesse nacional.

Os senadores entendem que é necessário criar a política nacional de inteligência. Na verdade, esse é um campo cercado de mistério. Os agentes e seus chefes não possuem noção do que pode e não pode ser realizado. É necessário criar também uma agência brasileira de inteligência de sinais para operar no ambiente virtual tanto na busca de interesses negados ao Brasil quanto na proteção dos ativos. Essa agência não pode ser apenas defensiva.

O que importa

É fundamental criar mecanismos de controle externo da atividade de inteligência. E ações para reforçar a segurança nacional em redes de telecomunicações que fazem uso do espectro de radiofrequências. O sistema atual gestão é incapaz de atender bem ao usuário. Coloca sua voz e os dados que utiliza à disposição de quem tiver alguma curiosidade. Até ministros de estado utilizam celulares normais e serviços de e-mail gratuitos. Quase todos os equipamentos e aplicativos utilizados pelo sistema de comunicação brasileiro são importados. Não há produção nacional. Assim é difícil garantir a segurança.

Criptografia dificulta, mas não impede a espionagem. De qualquer forma, os dirigentes brasileiros precisam utilizar equipamentos mais protegidos e não devem colocar assuntos secretos na rede computadores. Ninguém está completamente defendido hoje em dia. As defesas operam com alguma eficiência contra amadores ou provocadores. Os profissionais conhecem os caminhos para entrar nos sistemas mais sofisticados.

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