Uma cidade violentada
Via Mangue real. Difícil ser mais horrível.
Já em Recife temos o exemplo tenebroso da Avenida Dantas Barreto, que destruiu parte do centro histórico do Recife, levado o Centro da Cidade a um muro da Rede Ferroviária. Isso sem falar nos prédios isolados, com muros de 7 metros de altura, acabando com a vida na rua.
Por isso que é preciso um Poder Público atuante, já que uma cidade precisa saber onde quer chegar. (...)
Mas esta grande introdução é apenas para reflexão sobre a Via Mangue.
Enquanto todos se mobilizavam para evitar os viadutos da Agamenon Magalhães, já que era possível enxergar o mal que iria fazer pela cidade, uma agressão muito maior acontecia por trás dos grandes corredores, sem que as pessoas percebessem o que acontecia.
Foi vendida para a cidade uma bela imagem, como a vista abaixo, mas o
que acontece na prática é a violência contra o meio-ambiente, da imagem
acima.
Via Mangue prometida em imagens
Mais do que uma grande agressão ao que resta de verde em nossa cidade, a Via Mangue é um equívoco econômico sem precedentes.
Os VLTs modernos, como o da imagem, percorrem a mesma via dos automóveis, sem a necessidade de obras imensas. Nem os semáforos são impeditivos, já que o veículo vai em via segregada, e com um sensor que permite abrir o semáforo a seu favor.
Veja que não estou falando de um ônibus barulhento, quente e disputando espaço com os carros, mas de um veículo extremamente moderno e confortável, andando em via segregada. O custo estimado de um VLT é de 20 milhões de dólares por quilômetro. Isso se bancado inteiramente pelo setor público. Se fosse em uma PPP, poderia cair a 50% do valor.
Mas o que estamos fazendo?
Na verdade, estamos colocando grande parte
dos investimentos em mobilidade no transporte individual, indo para um
sistema absolutamente caótico em um curto espaço de tempo.
É como se
acreditássemos que tudo pudesse ser resolvido de maneira determinística,
como se a quantidade de ruas fosse apenas uma variável dependente da
quantidade de carros, esquecendo que não há mais lugar para as vias a
não ser agredindo o já cambaleante meio-ambiente local. Essa visão de
mundo, conhecida como o “Demônio de Laplace”, está nos levando
rapidamente ao esgotamento de soluções.
Como carro é como gás, ocupando todo o
lugar no espaço, caminhamos a passos largos para a deterioração de nossa
qualidade de vida.
E nesta pisada vamos aterrando mangue para
construir shopping centers em detrimento do comércio de rua, subindo
vias por cima de rios, como o absurdo da imagem em destaque, e deixando o
setor imobiliário construir com uma cabeça de planilha, sem lembrar que
as ruas são o bem mais valioso de uma cidade.
Isso sem falar na feiura do que estão fazendo.
Só podemos lamentar pela opção do Recife.
Isso ainda vai custar muito caro.
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