Jornal Conversa Informal -Gilberto Camargos
Documentos revelam que Rafael Cordeiro de Oliveira, adjunto de
Habitação, e familiares atuaram em cargos de cooperativa habitacional
conveniada com o GDF e com o governo federal. Investigação aponta
indícios de tráfico de influência
"Eu
sou um servidor público federal, militante político e sempre integrei
os movimentos populares. Tenho ligação política com as associações, como
outros gestores também têm. A minha irmã é uma profissional militante.
Esse período em que ela foi diretora (da cooperativa), eu estava no
Ministério da Educação e não tinha perspectiva de ser secretário de
Habitação"
Rafael Oliveira, secretário adjunto de Habitação
A Corregedoria da Secretaria de Transparência e Controle do DF analisa
um processo enviado pelo Tribunal de Contas do DF (TCDF), no qual o
secretário adjunto de Habitação, Rafael Cordeiro de Oliveira, aparece
como suspeito de ter se beneficiado do cargo em proveito próprio. O alvo
da denúncia é a Associação Pró-Morar do Movimento Vida de Samambaia
(AMMVS), conveniada com o GDF e o governo federal para representar 203
entidades habitacionais do DF no processo de habilitação de pessoas de
baixa renda interessadas em participar da 4ª Etapa do Riacho Fundo 2.
No ano passado, o processo tinha sido arquivado pela Secretaria de
Transparência — o titular da pasta era Carlos Higino Ribeiro de Alencar,
atual secretário executivo da Controladoria Geral da União (CGU) — “por
não conter, à época, elementos que pudessem confirmar a denúncia então
apresentada”. Mas a assessoria de imprensa do órgão informou ontem que a
atual secretária, Vânia Vieira, “determinou o reexame do caso”.
Documentos comprovam que Rafael de Oliveira, secretário adjunto de
Habitação desde 4 de janeiro de 2011, tem vários familiares ligados a
movimentos sociais de Brasília, principalmente a AMMVS — ele próprio
aparecia, em 2010, como secretário executivo da entidade. O pai dele,
Carlos Roberto de Oliveira, é um dos diretores da União Nacional por
Moradia Popular do DF e também atuou na associação como suplente,
conforme Portaria nº 24 de 12 de março daquele ano. ...
Também chama a atenção que, até maio de 2011, a irmã de Rafael, Daniela
Kely de Oliveira, exerceu o cargo de diretora financeira da AMMVS.
Documento assinado por um auditor de controle externo do TCDF confirma o
vínculo. “Levando em conta que o Sr. Rafael de Oliveira foi nomeado em
4/1/2011 para o cargo de secretário adjunto da Sedhab, chegamos à
conclusão de que este senhor atuou à frente da Secretaria em período
concomitante com a gestão de sua irmã, como diretor financeira da
AMMVS”, revela o texto.
Atualmente, Daniela trabalha na secretaria da entidade. Ela seria
responsável por entregar os endereços dos imóveis e receber a
documentação dos filiados das cooperativas. “Sem ela lá, nada surge. Ela
não está como diretora só no papel, mas é quem faz tudo. A mudança na
presidência foi só para abafar”, denunciou a presidente de uma
associação ao Correio, além de mais de 10 pessoas ouvidas pela
reportagem. Diversos filiados também confirmaram a informação, além de
uma gravação em que uma coordenadora de cooperativa menciona a atuação
de Daniela frente à associação.
Segundo o relator e conselheiro do TCDF, Manoel de Andrade, a
investigação está no âmbito do Ministério Público de Contas do DF. “Essa
denúncia vem sendo apurada, e a denunciante traz sempre informações
novas. Em razão disso, o Ministério Público se mostrou interessado em
apurar também”, explicou. Manoel afirma que o tribunal deve dar um
parecer sobre o caso em duas semanas. “Se fosse por total desproposital,
essa denúncia teria sido arquivada. Até o momento, ela está se
sustentando. Ela está sendo tratada em caráter sigiloso, e a gente evita
entrar em seus meandros”, disse.
Entenda o caso
Fraude com dinheiro público
O terreno onde serão construídas 5.904 unidades habitacionais, chamado
de 4ª Etapa do Riacho Fundo 2, foi doado em 2006 pelo governo federal
para cooperativas do DF. Na época, a Secretaria de Patrimônio da União
firmou um convênio com o GDF e a Associação Pró-Morar do Movimento Vida
de Samambaia (AMMVS) para que ela representasse 203 entidades. A União
deveria viabilizar o financiamento das moradias por meio da Caixa
Econômica Federal, e o GDF, promover as obras de infraestrutura, além
de, em parceria com o movimento social, desenvolver o projeto
urbanístico e promover a habilitação dos beneficiários. Desde a última
segunda-feira, o Correio publica reportagens com denúncias de fraude no
processo de habilitação das pessoas. Há quem cobre entre R$ 15 mil e R$
20 mil como “entrada” para garantir o sonho da casa própria. Esse
dinheiro que, segundo os representantes das entidades, seria pagar taxas
de projetos e alvará, na verdade, acaba dividido pelo menos 50
golpistas.
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