25/02/2014 08h52
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Gasto anual com diesel e gasolina deve saltar para US$ 30,42 bi, diz CBIE.
Produção está estagnada há 5 anos e dívidas quadruplicaram desde 2010.
Seis anos após as primeiras extrações das reservas gigantes do pré-sal e
quase 8 anos após a anunciada, mas já perdida autossuficiência na
produção de petróleo, a Petrobras
tem sido vista com desconfiança pelo mercado, por conta da produção
estagnada, das importações em alta e das dívidas bilionárias – e que
tendem a continuar crescendo.
Desde o fim de 2010, logo após a megacapitalização de R$ 120 bilhões, o endividamento da gigante brasileira de petróleo praticamente quadruplicou, com um aumento médio de mais de R$ 40 bilhões por ano. A produção de óleo e gás, por sua vez, caiu 2,5% em 2013, para 1,93 milhão de barris por dia em 2013. Foi a segunda queda anual consecutiva e o menor resultado desde 2008.
No terceiro trimestre do ano passado, a companhia teve lucro de R$
3,395 bilhões, uma queda de 45% em relação ao trimestre anterior.
Já as dívidas chegaram a R$ 193 bilhões, o que fez com que agências de risco reduzissem a nota da empresa, que passou também a receber da Bloomberg o título de “petroleira de capital aberto mais endividada do mundo”.
O resultado consolidado de 2013 será divulgado pela Petrobras nesta terça-feira (25).
Parte dessa dívida tem origem no descompasso entre o crescimento da produção da Petrobras e do consumo de combustíveis no Brasil, que fará com que os gastos com importações de gasolina e diesel da estatal saltem 140% até 2020, passando dos US$ 12,68 bilhões de 2013 para um gasto anual de US$ 30,42 bilhões, segundo cálculo do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), feito a pedido do G1.
Outro lado da conta das perdas, segundo analistas, é a falta de reajustes maiores nos preços dos combustíveis e a interferência do governo, que não abre mão de ter a Petrobras como arma contra a inflação. O CBIE estima que a companhia deixou de ganhar cerca de R$ 47 bilhões nos últimos 3 anos em função da defasagem dos preços da gasolina e do diesel vendidos no Brasil em relação aos valores internacionais.
Endividamento e produção
A Petrobras tem sido obrigada a tomar empréstimos no Brasil e no mercado externo para equilibrar as contas e garantir os investimentos em novas plataformas e campos de exploração. Para o período 2013-2017 estão previstos US$ 236,7 bilhões, anunciados pela estatal como o maior plano de investimentos corporativo do mundo.
“A dívida fechou 2013 acima dos R$ 200 bilhões, a produção não cresce e estamos importando cada dia mais derivados”, resume o diretor do CBIE, Adriano Pires, lembrando que a ação da companhia chegou a ser cotada a quase R$ 50 entre 2007 e 2008 na Bovespa, e atualmente patina entre R$ 13 e R$ 14.
“O grande trade-off (dilema) da Petrobras é: como um presente tão ruim pode dar um futuro tão brilhante? Não vejo nenhuma mudança de política para que tenhamos esse céu de brigadeiro que projetam”, opina.
Procurada pelo G1, a Petrobras não respondeu a perguntas, informando que a companhia deverá comentar os resultados de 2013 na quarta-feira (26).
A Petrobras informou por meio da sua assessoria de imprensa que pode ser aprovado e divulgado nesta terça-feira pelo Conselho de Administração o novo plano estratégico da empresa, referente ao período 2014-2018, onde serão detalhados as novas metas e o plano de investimentos para os próximos 5 anos.
A expectativa é que o documento também traga a previsão de crescimento da produção para 2014.
Embora o pré-sal aponte para um futuro promissor, permanece a dúvida se a empresa terá condições de chegar à expectativa de 2,5 milhões de barris por dia em 2016 e atingir 4,2 milhões de barris em 2020.
“A produção vai crescer. Só não dá para saber se será nessa proporção que a empresa projeta. Se em 2014 o crescimento for de 7%, isso significa que estaremos voltando para patamares de 2010. A única certeza é que a importação não vai parar de crescer”, diz Pires.
Importações em alta
Em 2013, a importação de petróleo e derivados no país superou a exportação pela primeira vez desde 2004, segundo dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP). Somente nos gastos com compra de gasolina e diesel no exterior, a alta foi de 22%.
O aumento das importações e a queda da produção de petróleo afetou inclusive a balança comercial brasileira, que registrou em 2013 o pior resultado em 13 anos. As receitas com exportações da Petrobras caíram 37,4% na comparação com 2012, para US$ 13,85 bilhões.
Segundo levantamento do CBIE, feito a pedido do G1, os gastos da Petrobras com compra de diesel do exterior passarão de US$ 10,4 bilhões, em 2013, para US$ 22,9 bilhões, em 2020, o que corresponderá a uma alta de cerca de 12% ao ano.
Já a despesa com importação de gasolina saltará para US$ 7,5 bilhões em 2020, ante US$ 2,3 bilhões em 2013, aumento médio anual de 18,4%.
A projeção leva em conta o ritmo de crescimento do consumo no último ano e a expansão da capacidade de refino projetada pelo plano de negócios da empresa.
“A produção de gasolina continuará constante de 2013 a 2020 porque nenhuma das novas refinarias vai produzir mais gasolina no país”, afirma Pires, citando os atuais projetos em implantação: a Refinaria Abreu e Lima e o 1º Trem de Refino do Comperj.
No caso da produção de diesel, as refinarias em construção conseguirão apenas reduzir parte do déficit do combustível, elevando a produção atual do patamar de 844 mil barris/dia para 1.011 mil barris/dia em 2016, chegando a 1.206 a partir de 2019.
Autossuficiência perdida
A última construção no país de uma refinaria relevante ocorreu em 1980, a Revap, em São José dos Campos. A consequência é o aumento crescente das importações de combustível para atender a uma frota automotiva em expansão. Em 2013, foram comercializados 3,7 milhões de veículos no país.
O descompasso entre produção e consumo interno levou o país a perder a autossuficiência, comemorada pela Petrobras e pelo governo em 2006, quando a produção de petróleo equiparou-se ao volume de derivados consumidos à época no país, ainda que mantida a necessidade de importação de algum volume de combustível.
Em 2008, o primeiro óleo extraído do pré-sal foi comemorado. Em 2010, a produção da Petrobras fechou o ano ultrapassando a marca de 2 milhões de barris por dia. Mas desde 2011 o país voltou a consumir mais do que produz. E nem mesmo os recordes sucessivos de produção no pré-sal evitaram a queda no resultado anual.
A Petrobras sustenta que a situação é temporária. Mas, questionada pelo G1,
não informou se está mantida a previsão feita no ano passado de que a
produção de petróleo no Brasil voltará a atingir a autossuficiência
volumétrica em 2014. Na avaliação do CBIE, a retomada só ocorrerá “em
algum ponto no final de 2016”.
Interferência do governo e perdas
Para os analistas, porém, mais grave que a produção estagnada e a falta de refinarias é a interferência política e o uso da estatal como arma contra a inflação.
“A desgraça da Petrobras se chama governo, que exorbita da sua autoridade de poder ao não deixar a Petrobras aumentar preços. A empresa foi penalizada no seu fluxo de caixa e está pagando mais do que poderia por investimentos", critica o diretor do Instituto de Energia e Ambiente da USP, Ildo Luís Sauer.
Levantamento do CBIE mostra que a defasagem vem ocorrendo continuamente desde o final de 2010. A venda de combustíveis a preços menores que os internacionais representou para a Petrobras nos últimos 3 anos um “custo de oportunidade negativo” – ou seja, uma sangria – de cerca de R$ 34 bilhões na operação com diesel e de R$ 13 bilhões na distribuição de gasolina, segundo a consultoria.
“O subsídio para gasolina e diesel, além de estar sangrando a Petrobras, está quebrando o setor de álcool", diz o consultor David Zylbersztajn, ex-diretor da ANP, citando a perda de competitividade do etanol. "É difícil entender essa política, pois quanto maior o lucro, maior a distribuição de dividendos e o recolhimento de impostos, cujo maior beneficiário é o Tesouro”, completa.
Segundo ele, o principal risco da Petrobras é financeiro, uma vez a defasagem dos preços de combustíveis tem diminuído a lucratividade e a capacidade de gerar caixa, o que além de elevar o endividamento da companhia já coloca em risco, inclusive, o "famoso" grau de investimento concedido pelas agências de risco.
"A Petrobras vive um círculo perverso: está andando com o freio de mão puxado em razão da dificuldade de autofinanciamento e do maior endividamento, o que torna o custo de captação mais caro e afeta o 'timing da empresa”, diz o ex-diretor da ANP.
Oportunidades perdidas
Em certa medida, a situação atual da companhia é consequência de opções políticas "equivocadas", segundo os analistas, feitas no passado, como a interrupção dos leilões de novas áreas de exploração por 6 anos, até a definição do novo marco regulatório para o pré-sal.
Eles avaliam que, embora as descobertas no pré-sal representem uma
grande trunfo, o Brasil perdeu "uma janela de oportunidades".
"Quando, em 2007, se decidiu retirar 41 áreas de leilão, havia liquidez de sobra no mundo, o Brasil chamava muita atenção para investimentos e não se ouvia falar de gás xisto", diz Zylbersztajn, citando o grande salto na produção de energia nos Estados Unidos, que tem feito a maior economia do mundo sonhar com autossuficiência energética e a menor dependência de importação de petróleo, incluindo o brasileiro.
Segundo Pires, no CBIE, o nível de produção da Petrobras e do país seria outro se não tivessem sido travados os investimentos estrangeiros no setor. "Pararam as rodadas de licitação, tirou-se os investimentos do país e o modelo de volta ao monopólio deu muitos deveres para a Petrobras.
O governo deveria ter dado caixa para a empresa e não tirar receita da estatal, que se endividou", opina.
Ainda que o Brasil necessite de novas refinarias, a opção pela prioridade nos investimentos em exploração e produção é compreensível, segundo os analistas ouvidos pelo G1, uma vez que as taxas de retorno dessa operação são bem mais vantajosas do que as refinarias – que também costumam demandar muito dinheiro e tempo.
O diretor do CBIE lembra, porém, que quando, em 2005, optou-se pela construção de novas refinarias somente para a produção de diesel, o Brasil praticamente não importava gasolina e o programa de etanol se expandia.
"Se há estabilidade geopolítica, você pode comprar gasolina fora e vender mais petróleo. Tudo é questão de estratégia e de ter um plano. O problema maior no momento é ter uma produção que, mesmo que melhore em 2014, vai chegar onde esteve quatro anos atrás", conclui Zylbersztajn.
Desde o fim de 2010, logo após a megacapitalização de R$ 120 bilhões, o endividamento da gigante brasileira de petróleo praticamente quadruplicou, com um aumento médio de mais de R$ 40 bilhões por ano. A produção de óleo e gás, por sua vez, caiu 2,5% em 2013, para 1,93 milhão de barris por dia em 2013. Foi a segunda queda anual consecutiva e o menor resultado desde 2008.
Petrobras deixou de ganhar cerca de R$ 47 bilhões nos últimos 3 anos
em função da defasagem do preço da gasolina e do diesel, estima o CBIE
Já as dívidas chegaram a R$ 193 bilhões, o que fez com que agências de risco reduzissem a nota da empresa, que passou também a receber da Bloomberg o título de “petroleira de capital aberto mais endividada do mundo”.
O resultado consolidado de 2013 será divulgado pela Petrobras nesta terça-feira (25).
Parte dessa dívida tem origem no descompasso entre o crescimento da produção da Petrobras e do consumo de combustíveis no Brasil, que fará com que os gastos com importações de gasolina e diesel da estatal saltem 140% até 2020, passando dos US$ 12,68 bilhões de 2013 para um gasto anual de US$ 30,42 bilhões, segundo cálculo do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), feito a pedido do G1.
Outro lado da conta das perdas, segundo analistas, é a falta de reajustes maiores nos preços dos combustíveis e a interferência do governo, que não abre mão de ter a Petrobras como arma contra a inflação. O CBIE estima que a companhia deixou de ganhar cerca de R$ 47 bilhões nos últimos 3 anos em função da defasagem dos preços da gasolina e do diesel vendidos no Brasil em relação aos valores internacionais.
A Petrobras tem sido obrigada a tomar empréstimos no Brasil e no mercado externo para equilibrar as contas e garantir os investimentos em novas plataformas e campos de exploração. Para o período 2013-2017 estão previstos US$ 236,7 bilhões, anunciados pela estatal como o maior plano de investimentos corporativo do mundo.
“A dívida fechou 2013 acima dos R$ 200 bilhões, a produção não cresce e estamos importando cada dia mais derivados”, resume o diretor do CBIE, Adriano Pires, lembrando que a ação da companhia chegou a ser cotada a quase R$ 50 entre 2007 e 2008 na Bovespa, e atualmente patina entre R$ 13 e R$ 14.
“O grande trade-off (dilema) da Petrobras é: como um presente tão ruim pode dar um futuro tão brilhante? Não vejo nenhuma mudança de política para que tenhamos esse céu de brigadeiro que projetam”, opina.
Procurada pelo G1, a Petrobras não respondeu a perguntas, informando que a companhia deverá comentar os resultados de 2013 na quarta-feira (26).
saiba mais
A expectativa é que a produção volte a crescer neste ano, com a entrada
em operação de projetos atrasados e de plataformas previstas no
cronograma de 2014.- Produção de petróleo da Petrobras cai 2,5%
- Exportações da Petrobras caem 37% em 2013
- Petrobras é a empresa com maior queda de valor de mercado em 2013
- Petrobras investirá US$ 236,7 bi até 2017
- País deve recuperar autossuficiência em petróleo em 2014, diz Petrobras
- Petrobras vale 53,9% do seu patrimônio, diz estudo
- Petrobras tem 32% de chance de falir, diz pesquisa
A Petrobras informou por meio da sua assessoria de imprensa que pode ser aprovado e divulgado nesta terça-feira pelo Conselho de Administração o novo plano estratégico da empresa, referente ao período 2014-2018, onde serão detalhados as novas metas e o plano de investimentos para os próximos 5 anos.
A expectativa é que o documento também traga a previsão de crescimento da produção para 2014.
Embora o pré-sal aponte para um futuro promissor, permanece a dúvida se a empresa terá condições de chegar à expectativa de 2,5 milhões de barris por dia em 2016 e atingir 4,2 milhões de barris em 2020.
“A produção vai crescer. Só não dá para saber se será nessa proporção que a empresa projeta. Se em 2014 o crescimento for de 7%, isso significa que estaremos voltando para patamares de 2010. A única certeza é que a importação não vai parar de crescer”, diz Pires.
O grande trade-off (dilema) da Petrobras é: como um presente tão ruim
pode dar um futuro tão brilhante? Não vejo nenhuma mudança de política
para que tenhamos esse céu de brigadeiro que projetam"
Adriano Pires, diretor do CBIE
Em 2013, a importação de petróleo e derivados no país superou a exportação pela primeira vez desde 2004, segundo dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP). Somente nos gastos com compra de gasolina e diesel no exterior, a alta foi de 22%.
O aumento das importações e a queda da produção de petróleo afetou inclusive a balança comercial brasileira, que registrou em 2013 o pior resultado em 13 anos. As receitas com exportações da Petrobras caíram 37,4% na comparação com 2012, para US$ 13,85 bilhões.
Segundo levantamento do CBIE, feito a pedido do G1, os gastos da Petrobras com compra de diesel do exterior passarão de US$ 10,4 bilhões, em 2013, para US$ 22,9 bilhões, em 2020, o que corresponderá a uma alta de cerca de 12% ao ano.
Já a despesa com importação de gasolina saltará para US$ 7,5 bilhões em 2020, ante US$ 2,3 bilhões em 2013, aumento médio anual de 18,4%.
A projeção leva em conta o ritmo de crescimento do consumo no último ano e a expansão da capacidade de refino projetada pelo plano de negócios da empresa.
“A produção de gasolina continuará constante de 2013 a 2020 porque nenhuma das novas refinarias vai produzir mais gasolina no país”, afirma Pires, citando os atuais projetos em implantação: a Refinaria Abreu e Lima e o 1º Trem de Refino do Comperj.
No caso da produção de diesel, as refinarias em construção conseguirão apenas reduzir parte do déficit do combustível, elevando a produção atual do patamar de 844 mil barris/dia para 1.011 mil barris/dia em 2016, chegando a 1.206 a partir de 2019.
Autossuficiência perdida
A última construção no país de uma refinaria relevante ocorreu em 1980, a Revap, em São José dos Campos. A consequência é o aumento crescente das importações de combustível para atender a uma frota automotiva em expansão. Em 2013, foram comercializados 3,7 milhões de veículos no país.
O descompasso entre produção e consumo interno levou o país a perder a autossuficiência, comemorada pela Petrobras e pelo governo em 2006, quando a produção de petróleo equiparou-se ao volume de derivados consumidos à época no país, ainda que mantida a necessidade de importação de algum volume de combustível.
Em 2008, o primeiro óleo extraído do pré-sal foi comemorado. Em 2010, a produção da Petrobras fechou o ano ultrapassando a marca de 2 milhões de barris por dia. Mas desde 2011 o país voltou a consumir mais do que produz. E nem mesmo os recordes sucessivos de produção no pré-sal evitaram a queda no resultado anual.
A desgraça da Petrobras se chama governo, que exorbita da sua
autoridade de poder ao não deixar a Petrobras aumentar preços. A empresa
foi penalizada no seu fluxo de caixa e está pagando mais do que poderia
por investimentos.
Ildo Sauer, diretor do Instituto de Energia e Ambiente da USP
Interferência do governo e perdas
Para os analistas, porém, mais grave que a produção estagnada e a falta de refinarias é a interferência política e o uso da estatal como arma contra a inflação.
“A desgraça da Petrobras se chama governo, que exorbita da sua autoridade de poder ao não deixar a Petrobras aumentar preços. A empresa foi penalizada no seu fluxo de caixa e está pagando mais do que poderia por investimentos", critica o diretor do Instituto de Energia e Ambiente da USP, Ildo Luís Sauer.
Levantamento do CBIE mostra que a defasagem vem ocorrendo continuamente desde o final de 2010. A venda de combustíveis a preços menores que os internacionais representou para a Petrobras nos últimos 3 anos um “custo de oportunidade negativo” – ou seja, uma sangria – de cerca de R$ 34 bilhões na operação com diesel e de R$ 13 bilhões na distribuição de gasolina, segundo a consultoria.
“O subsídio para gasolina e diesel, além de estar sangrando a Petrobras, está quebrando o setor de álcool", diz o consultor David Zylbersztajn, ex-diretor da ANP, citando a perda de competitividade do etanol. "É difícil entender essa política, pois quanto maior o lucro, maior a distribuição de dividendos e o recolhimento de impostos, cujo maior beneficiário é o Tesouro”, completa.
Segundo ele, o principal risco da Petrobras é financeiro, uma vez a defasagem dos preços de combustíveis tem diminuído a lucratividade e a capacidade de gerar caixa, o que além de elevar o endividamento da companhia já coloca em risco, inclusive, o "famoso" grau de investimento concedido pelas agências de risco.
"A Petrobras vive um círculo perverso: está andando com o freio de mão puxado em razão da dificuldade de autofinanciamento e do maior endividamento, o que torna o custo de captação mais caro e afeta o 'timing da empresa”, diz o ex-diretor da ANP.
Oportunidades perdidas
Em certa medida, a situação atual da companhia é consequência de opções políticas "equivocadas", segundo os analistas, feitas no passado, como a interrupção dos leilões de novas áreas de exploração por 6 anos, até a definição do novo marco regulatório para o pré-sal.
A Petrobras vive um círculo perverso: está andando com o freio de mão
puxado em razão da dificuldade de autofinanciamento e do maior
endividamento. o que torna o custo de captação mais caro e afeta o
'timing da empresa"
David Zylbersztajn, ex-diretor da ANP
"Quando, em 2007, se decidiu retirar 41 áreas de leilão, havia liquidez de sobra no mundo, o Brasil chamava muita atenção para investimentos e não se ouvia falar de gás xisto", diz Zylbersztajn, citando o grande salto na produção de energia nos Estados Unidos, que tem feito a maior economia do mundo sonhar com autossuficiência energética e a menor dependência de importação de petróleo, incluindo o brasileiro.
Segundo Pires, no CBIE, o nível de produção da Petrobras e do país seria outro se não tivessem sido travados os investimentos estrangeiros no setor. "Pararam as rodadas de licitação, tirou-se os investimentos do país e o modelo de volta ao monopólio deu muitos deveres para a Petrobras.
O governo deveria ter dado caixa para a empresa e não tirar receita da estatal, que se endividou", opina.
Ainda que o Brasil necessite de novas refinarias, a opção pela prioridade nos investimentos em exploração e produção é compreensível, segundo os analistas ouvidos pelo G1, uma vez que as taxas de retorno dessa operação são bem mais vantajosas do que as refinarias – que também costumam demandar muito dinheiro e tempo.
O diretor do CBIE lembra, porém, que quando, em 2005, optou-se pela construção de novas refinarias somente para a produção de diesel, o Brasil praticamente não importava gasolina e o programa de etanol se expandia.
"Se há estabilidade geopolítica, você pode comprar gasolina fora e vender mais petróleo. Tudo é questão de estratégia e de ter um plano. O problema maior no momento é ter uma produção que, mesmo que melhore em 2014, vai chegar onde esteve quatro anos atrás", conclui Zylbersztajn.
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