O gráfico acima mostra que o PIB
per capita vinha mais ou menos em linha com esse grupo de 1995 a 2002, durante
o governo de FHC, e começou a se descolar dele a partir do governo Lula em
2003.
Três economistas - Vinicius Carrasco
(PUC-RJ), João Manuel de Pinho Mello (Insper) e Isabela Duarte (PUC-RJ) -
fizeram o primeiro estudo para avaliar o Brasil no período Lula
e nos dois primeiros anos do governo Dilma. Os autores construíram um país
"gêmeo" para cada variável a ser cotejada e extraíram dos dados a
comparação entre qual poderia ter sido e qual foi o desempenho do Brasil entre
2003 e 2012. O método, segundo Carrasco e Mello, "é agnóstico". Ou
seja, independe das preferências dos autores.
Para confrontar a performance do
PIB per capita do Brasil, por exemplo, o estudo buscou nos dados ponderados dos
países da América do Sul, da Tailândia, da Turquia e da Ucrânia a síntese do
"melhor grupo de comparação" ou "grupo de controle
sintético".
O estudo estabelece o comparativo
de 85 variáveis macro e microeconômicas e setoriais. Abarca do PIB à mineração,
da taxa de homicídios aos termos de troca. Os resultados são: o Brasil cresceu,
investiu e poupou menos; recebeu menos investimento estrangeiro direto, adicionou
menos valor na indústria, teve inflação mais alta, perdeu competitividade e
produtividade e piorou a qualidade regulatória. Isso ocorreu mesmo tendo
recebido "um maná externo", dado pelo boom das commodities e outro
"maná interno", da demografia.
"Se tivéssemos crescido em
linha com os melhores grupos de comparação, estaríamos pelo menos 10% a 15%
mais ricos atualmente", sugerem os autores. Por ter o Brasil ficado aquém
das suas possibilidades, eles ousaram no título do trabalho - "A Década
Perdida: 2003 a 2012" -, que traduz um julgamento político do período
considerado. O estudo não se estendeu a 2013 por ausência de dados sobre os
países dos grupos de comparação, informam os autores. Como a economia
brasileira se deteriorou em termos relativos, os indicadores devem ter piorado
em 2013 e 2014, sublinha Mello.
É inegável, porém, que o Brasil avançou nas questões sociais e andou em linha com seu "irmão gêmeo" na distribuição da renda, no combate à subnutrição e na saúde. Na educação, ficou aquém mesmo elevando o gasto.
É inegável, porém, que o Brasil avançou nas questões sociais e andou em linha com seu "irmão gêmeo" na distribuição da renda, no combate à subnutrição e na saúde. Na educação, ficou aquém mesmo elevando o gasto.
E foi substancialmente melhor no
mercado de trabalho. "Nesse caso, porém, colhemos as frutas que estavam
baixas na árvore: colocamos as pessoas para trabalhar, o que aumentou a massa
salarial e a renda dos trabalhadores", salientam os autores. Esse avanço,
no entanto, não foi acompanhado de aumentos da produtividade e dos
investimentos em capital físico e humano.
Uma das constatações mais
importantes, destacam, é a piora na qualidade regulatória do Brasil de 2003
para cá. "Nesse quesito, pioramos em termos absolutos", informa
Carrasco. "Comprometemos inutilmente as bases da prosperidade futura
piorando o arcabouço institucional do país, enquanto o melhor grupo de
comparação melhorou ao longo da década". A qualidade regulatória,
identifica Carrasco, começou a se deteriorar em 2003, quando o governo Lula
abriu uma polêmica com a Anatel por causa da autorização de aumentos nas
tarifas telefônicas de até 41,7%. Desde então a autonomia das agências
reguladoras foi comprometida.
O risco regulatório seria uma das
razões para o aumento do custo do capital e suas consequências, como a redução
dos investimentos e prejuízos para o crescimento do PIB per capita e da
distribuição da renda, indica o estudo. A intermediação financeira,
telecomunicações e a produção de petróleo andaram em linha com o melhor grupo
de comparação ou foram além.
Desenvolvida na década passada,
essa metodologia foi aplicada na avaliação da performance, antes e depois, de
países que entraram na União Europeia, mas seu uso não é pacífico entre
economistas. E vem se disseminando na medição dos mais distintos objetivos,
seja dos efeitos do uso da maconha nos índices de criminalidade no Colorado
(EUA) ou dos danos do terrorismo para a economia dos países bascos.
O Brasil avançou de 2003 para cá
na área social. Isso não está em questão. Mas poderia ter avançado muito mais.
E se atrasou em outras áreas relevantes. Aí começa a discussão sobre o futuro.
Não por outra razão, o texto está subsidiando a discussão no núcleo das
campanhas eleitorais dos candidatos das oposições. (Valor Econômico)
LEIA AQUI o estudo completo.
LEIA AQUI o estudo completo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário