Num depoimento prestado à Polícia Federal, um dos integrantes do
esquema investigado na Operação Lava Jato afirmou que o secretário
nacional de finanças do PT, João Vaccari Neto, ligado ao ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, era um dos contatos de fundos de pensão com a
CSA Project Finance Consultoria e Intermediação de Negócios
Empresariais, empresa que o doleiro Alberto Youssef usou para lavar R$
1,16 milhão do Mensalão, segundo a PF.
“João Vaccari esteve várias vezes na sede da CSA, possivelmente a fim
de tratar de operações com fundos de pensão com Cláudio Mente”, relatou
o advogado Carlos Alberto Pereira da Costa, apontado como laranja de
Youssef e do ex-deputado José Janene (moto em 2010).
Preso desde março pela Lava Jato, ex-sócio da CSA Project, situada em
São Paulo, decidiu colaborar espontaneamente com as investigações em
troca de eventual benefício judicial. Ele é réu em duas ações penais,
uma sobre supostas remessas fraudulentas do laboratório Labogen para o
exterior, outra de lavagem de dinheiro de Janene por investimentos em
uma empresa paranaense.
Carlos Alberto foi ouvido no dia 15 na Superintendência Regional da
PF no Paraná. A PF, em outro documento, diz haver indício de que Vaccari
estaria intermediando negócios de fundos de pensão com a CSA e uma
outra empresa ligada ao doleiro, a GFD Investimentos. Vaccari é réu em ação criminal sobre suposto desvio de R$ 70 milhões
da Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop). O Ministério
Público o denunciou por formação de quadrilha, estelionato e lavagem de
dinheiro.
O colaborador disse que dirigentes da Petros, fundo de pensão da
Petrobrás, receberam propina para que o fundo fizesse um investimento de
interesse do grupo de Youssef, acusado de chefiar esquema bilionário de
lavagem de dinheiro.
Segundo ele, o ex-gerente de Novos Negócios do Petros Humberto Pires
Grault foi um dos beneficiários de R$ 500 mil, que teriam sido pagos
como “comissão” para que o fundo de pensão adquirisse, entre 2005 e
2006, uma cédula de crédito bancário de R$ 13 milhões. Grault é ligado
ao PT, partido que o teria indicado ao cargo.
A CSA Project, segundo disse, foi responsável pelo contrato com a
Petros. A cédula adquirida pelo fundo de pensão referia-se a créditos
que a Indústria Metais do Vale (IMV) teria a receber de outra empresa, a
Siderúrgica de Barra Mansa (SBM), por um projeto de ferro-gusa. Carlos
Alberto disse que um saque de R$ 500 mil da IMV foi usado para
fazer pagamentos em espécie aos que participaram do negócio. Além de
Grault, teriam recebido parte desse dinheiro Cláudio Mente, da CSA, além
de funcionários da Petros.
Ele contou ter sido informado por Mente que, no fundo de pensão,
“seriam beneficiados Humberto Grault e o diretor que estaria acima dele
na estrutura da empresa”. Disse que não se recorda do nome do outro
suposto beneficiário. Carlos Alberto relata várias operações supostamente ilícitas de
empreiteiras com o doleiro Youssef, entre elas contratos sem prestação
de serviços. “Em 2012 ou 2013 viajaram a Hong Kong Matheus de Oliveira,
Leonardo Meirelles e João Procópio a fim de resolver problemas ligados a
abertura de contas; recorda-se de terem sido feito contratos entre a
GFD e as empresas Mendes Junior, Sanko e Engevix, também visando
transferências financeiras, sem qualquer prestação de serviços.”
O advogado contou ainda ter sido informado de que Youssef se
apropriou de recursos de Janene no exterior. Relatou que o ex-diretor de
Abastecimento da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, também preso pela Lava
Jato, era recebido por Janene “em seu apartamento”. Segundo ele, Adarico Negromonte, irmão do ex-ministro das Cidades
Mário Negromonte, atuava como um dos agentes que faziam transporte de
dinheiro para operações do doleiro no exterior. “Em determinada
oportunidade os dois foram para o Peru levar dinheiro em espécie”,
afirmou.
Defesa. Procurado pelo Estado, o
tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto informou, por meio da
assessoria do partido, que Cláudio Mente, da CSA, é seu amigo pessoal e
que o visitou “eventualmente” na empresa. Ele disse nunca ter feito
negócios com Mente. Vaccari disse que não conhece o advogado Carlos Alberto Pereira da
Costa e que, entre 2005 e 2006, época da operação com o Petros, não era
tesoureiro do PT, mas sindicalista. Ele lamentou a acusação do depoente,
segundo a qual, “possivelmente”, tratava de fundos de pensão na CSA.
O tesoureiro também afirmou que está à disposição da Justiça para
eventuais esclarecimentos. Já a empresa Mendes Junior, citada no
depoimento de Carlos Alberto
Costa à PF, afirmou por meio de nota que todos os seus contratos “são
feitos estritamente de acordo com as normas legais.” O Grupo Sanko, ao
qual pertence a empresa Sanko Sider, por sua vez, divulgou nota na qual
afirma “estranhar” a insistência em tentarem associá-la a “atos e
atividades com as quais não temos nenhuma relação”.
“O Grupo Sanko, conforme já reiterou, não tem e nunca teve contas
bancárias no Exterior. Todos os pagamentos do Grupo Sanko foram feitos,
sem qualquer exceção, por intermédio do Banco Central do Brasil, e
devidamente auditados pela Receita Federal. Eventuais dúvidas a respeito
das operações do Grupo já foram pronta e devidamente esclarecidas, com
toda a documentação necessária, às autoridades competentes.Continuamos
estranhando a insistência em tentarem nos associar a atos
e atividades com as quais não temos nenhuma relação”, afirma a nota. O
Estado não conseguiu ontem contato com o Petros, Adarico Negromonte
e Cláudio Mente. Também não foi localizado Humberto Grault. (Estadão)
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