Entre amigos: diga-me com quem andas…
O
homem-bomba falou. Paulo Roberto Costa, o importante ex-diretor da
Petrobras, aceitou a delação premiada e começou a colocar a boca no
trombone, citando vários nomes de envolvidos no enorme esquema de
corrupção montado por uma organização criminosa dentro da maior empresa
do país, transformando a “nossa” estatal em propriedade particular da
máfia. Entre os nomes citados, Eduardo Campos.
Após a comoção com sua trágica morte em acidente de avião, será que
Campos passará de herói a pilantra em poucas semanas? Claro, o delator
terá de apresentar provas ou evidências, e tudo isso é apenas o começo
de uma onda de novas investigações. Mas convenhamos: não há motivo para
crer que o nome de Campos seria jogado na lista por pura “malícia”, como
alegam seus companheiros. Os outros nomes são bastante suspeitos,
envolvendo peixes graúdos do PMDB e do PT, por exemplo...
O caso serve para nossa reflexão acerca do impacto que a morte tem na
criação de mitos nacionais, especialmente de políticos de esquerda. No
Brasil, bastou morrer para ser alçado ao panteão dos santos. Todos os
pecados são apagados, a trajetória é revista, os acertos e qualidades
são destacados de forma um tanto exagerada, tudo para pintar um novo
herói nacional, em um país bastante carente deles.
Para quem tivesse olhos para enxergar, Eduardo Campos não tinha
exatamente o perfil de santo. A começar, claro, por sua inclinação à
esquerda radical, sendo ele neto do comunista Miguel Arraes, tendo
ajudado a fundar um partido socialista que ingressou no Foro de São
Paulo ao lado de ditadores e do próprio PT. Desconheço heróis
socialistas na história.
Havia, ainda, suspeitas sobre sua participação em outros escândalos
mais antigos. Foi secretário da Fazenda de Pernambuco e acusado de
forjar documentos para a emissão de títulos durante a gestão de seu avô,
Miguel Arraes, no governo. Foi inocentado, é verdade, mas até Collor
foi inocentado de várias acusações.
A absolvição pela Justiça livrou Eduardo Campos do problema penal. Mas
ele não conseguiu a mesma certidão de “nada consta” em outro julgamento,
de natureza administrativa. A revista ÉPOCA teve acesso a documentos
inéditos que revelaram que, cinco anos depois da decisão do STF, Eduardo
Campos e dois ex-diretores do Banco do Estado de Pernambuco (Bandepe), o
antigo banco público de Pernambuco, voltaram a ser julgados pelo
Escândalo dos Precatórios. E, desta vez, condenados.
A turma do PT, que foi aliada de Campos por bastante tempo, tinha algum
motivo para desconfiar de sua honestidade. Afinal, quatro agentes da
Abin foram presos em Pernambuco quando espionavam o ex-governador. Eles
atuavam disfarçados no Porto de Suape para tentar levantar seus podres.
Ou seja, certamente esperavam encontrar algo, o que demonstra o abuso
autoritário que o PT faz da máquina estatal, mas também a desconfiança
que o partido tinha do ex-aliado.
Enfim, sem provas, devemos sempre manter a máxima in dubio pro reo.
Todos são inocentes até que provem o contrário. Marina Silva está certa
ao pedir mais investigações, cautela, e lembrar que o acusado não está
aqui para se defender. Mas nada disso tira a nuvem de dúvida que paira
no ar. O ex-diretor da Petrobras está dando nomes, e todos têm em comum
uma coisa: negam.
Quando olhamos a lista dos políticos delatados, temos boas razões para
crer que o ex-diretor está dizendo a verdade. Alguém acha que Renan
Calheiros, Edison Lobão, João Vaccari Neto, Henrique Eduardo Alves,
Romero Jucá, Cândido Vaccarezza, Sergio Cabral e Roseana Sarney são
exemplos de reputação ilibada e acima de qualquer suspeita?
Logo, a presença de Eduardo Campos no grupo serve para jogar uma ducha
de água fria naqueles que embarcaram na ilusão que, após sua trágica
morte, construiu um mito. Como diz o ditado: se non è vero, è ben
trovato. Não vejo motivos para duvidar da delação premiada do réu que,
ninguém pode negar, conhecia a fundo a podridão instalada no coração da
Petrobras. O Brasil terá de procurar um herói nacional em outro lugar…
Rodrigo Constantino
Fonte: Coluna do RODRIGO CONSTANTINO - 08/09/2014 - - 17:26:41
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